Preservativo, Camisa de Vênus, Camisinha… não importa o nome! O preservativo é o método contraceptivo mais acessível, barato, seguro e conhecido. Principalmente por ser o único capaz de evitar as temíveis Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s). Mas você já se perguntou se, apesar de tantas vantagens, ele é 100% seguro?

Bem, vamos do começo:

Para aumentar a liberdade sexual, evitar IST’s e alguma gravidez não planejada, foram criados diversos métodos contraceptivos ao longo da história. O preservativo de látex, foi produzido a partir de 1880 e sua popularização começou a partir de 1930.

Os Estados Unidos foram um dos países pioneiros no uso e, apesar de uma certa resistência baseada em fatores morais, o preservativo obteve sucesso na sociedade. Porém, acabou tendo uma queda no uso devido a chegada da pílula anticoncepcional, na década de 1960.

Hoje, temos dois tipos de preservativos:

Camisinha masculina: É a mais conhecida, geralmente feita de látex, possui várias opções em relação a cheiro, sabor, texturas, tamanho, lubrificação, entre outros. Tem para todos os gostos!

Camisinha feminina: Apesar de ser distribuída gratuitamente, ela é menos conhecida e consequentemente, menos utilizada. Pode ser feita de látex ou borracha acrílica e não possui tanta diversidade, como a masculina. Porém, ela tem duas grandes vantagens: ele cobre uma área externa maior (ou seja, mais área protegida!) e pode ser introduzida na vagina até 8 horas antes da relação, não sendo necessário aguardar uma ereção.

Atualmente, esses preservativos são distribuídos gratuitamente pelo SUS e são encontrados facilmente em farmácias, unidades de saúde, supermercados e sex shops. Além disso, são feitas muitas campanhas de conscientização para o uso dos preservativos, principalmente para jovens. No carnaval, vemos essas campanhas em todos os lugares. Será que isso é suficiente?

Campanha de carnaval do Ministério da Saúde, em 2004, incentivando o uso da camisinha. Fonte

O uso do preservativo deve estar ligado a conscientização, prazer e segurança, como uma forma de planejamento reprodutivo e autocuidado, prevenindo as infecções sexualmente transmissíveis. Então, a princípio, é imprescindível que os indivíduos saibam que a camisinha, mesmo usada de forma ideal, tem cerca de 2% de falha e, quando usada sem orientações e cuidados, a taxa de falha pode subir para 15%. Além disso, é importantíssimo saber que, em relação as IST’s, ela tem sua eficiência diminuída, pelo fato de não cobrir toda a região perineal – principalmente a camisinha masculina!

As IST’s podem ser causadas por vírus, bactérias ou outros organismos. São transmitidas, principalmente, pelo contato sexual, seja ele oral, vaginal ou anal. Geralmente, são adquiridas após relações sexuais sem camisinha com uma pessoa já infectada. Porém, pode acontecer de outras formas, como a mãe passar para a criança durante a gestação, parto ou amamentação. Essas infecções causam danos! Além do preconceito da sociedade, elas podem causar esterilidade, doença inflamatória pélvica, câncer de colo uterino, gravidez ectópica, isso sem falar dos possíveis danos psicológicos e até a morte. Felizmente, através do SUS, existe sim tratamento que melhora a qualidade de vida e pode ajudar a interromper a cadeia de transmissão dessas infecções.

Em relação a sexo, a base do pênis, a vulva, coxas e até outras partes do corpo, podem ser banhadas por secreções e estas são áreas que estão desprotegidas, mesmo fazendo-se o uso da camisinha. O que deixa essas partes sujeitas a, por exemplo, transmissão de sífilis, papilomavírus e vírus do herpes simplex. Qualquer ferida ou verruga causada por IST pode ser transmitida com o contato.

Além disso, algumas pesquisas feitas com o bacteriófago phi chi 174 (ATCC13706-B1) apontam que os preservativos podem ser permeáveis a esses pequenos vírus. Já imaginou? Alguém te disse isso? Sexo não é brincadeira não! E olha, existem mais alguns fatores que devem ser levados em consideração…

A camisinha deve ser utilizada sempre, inclusive no sexo oral. Parece um tanto óbvio, mas tem muita gente que usa camisinha na penetração e faz oral sem proteção! Aí não dá!

Ainda existe outro risco:  o preservativo pode rasgar!

Bom, temos que levar em conta que, realmente, são feitos muitos testes de qualidade para verificar sua eficácia, porém eles não simulam as verdadeiras condições de uma relação sexual, por exemplo: o impacto, fricção, fluídos, etc. Além disso, é preciso considerar que não podemos garantir que as exigências de transporte e armazenamento dos preservativos foram cumpridas. Eles podem ter sido expostos ao calor por dias, afetando sua integridade e diminuindo sua eficácia. Fora que, além dos estabelecimentos terem que transportar e armazenar bem, você também tem! Nada de ficar anos com camisinha na carteira, expondo ao sol e mexendo com ela para lá e para cá!

Acontece também de muitos não terem informação ou não estarem acostumados com o uso. Não sabendo, assim, as formas corretas de utilização, aumentando o risco de a camisinha romper ou escorregar durante o ato sexual. Alguns trabalhos sugerem que dois terços dos casais que utilizassem preservativos durante um ano experimentariam o rompimento deles pelo menos uma vez.

Então, o que fazer?

Primeiro, é importante estar ciente dos riscos. Como todos estão sujeitos a contrair alguma IST, não dá para ter 100% de certeza de segurança, por mais que exista confiança entre os envolvidos. Às vezes a própria pessoa tem e não sabe, pois muitas vezes os sintomas não se manifestam ou demoram muito para aparecer.

Caso a camisinha estoure/rasgue/fure e a pessoa ache que pode ter adquirido alguma IST, o SUS oferece gratuitamente as profilaxias pré e pós-exposição (PrEP e PEP) que são tratamentos que diminuem as chances de infecção. Porém, são casos excepcionais! A medicação é forte e não se pode tomar sempre. É importante prevenir-se antes e apenas procurar essa opção se for mesmo necessária.

No caso de usar o preservativo certinho e ainda assim estar sujeito (a) a IST’s, o indicado é que o indivíduo tenha seus exames em dia e a pessoa com quem ele se relaciona, também! Existem diversos exames para detectar essas infecções e grande parte deles estão disponíveis no SUS, como os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA), além dos laboratórios particulares.

A base da conscientização na luta pela prevenção e controle de IST’s, além da gravidez não planejada, deve começar na educação! A população geral deveria receber constante informação, priorizando a conscientização dos riscos, mudanças no comportamento sexual e a adoção de medidas preventivas, aliadas ao uso correto do preservativo.

Um bom investimento e uma participação mais ativa dos órgãos públicos evitaria gastos maiores com pesquisas e tratamentos, além das complicações (muitas vezes irreversíveis) para as pessoas infectadas. Deve-se preconizar, de forma clara, quais os direitos dos cidadãos e os serviços disponíveis, contando com profissionais da saúde capacitados para abordagem acolhedora e efetiva, promovendo assistência clínica, tratamento das enfermidades, prevenção e a distribuição de preservativos (além da opção de outros métodos contraceptivos).

Dada a complexidade do assunto, não podemos olhar apenas para o problema em si. Devem ser levadas em consideração todas as interfaces e dimensões que o cercam. O ambiente escolar é um local inigualável para trabalhar esses temas. Geralmente, as pessoas mais vulneráveis são as que iniciaram a vida sexual cedo e não receberam as devidas instruções.

Profissionais da saúde e educadores devem assumir atitudes de empoderamento nos princípios básicos de promoção da saúde. O preservativo precisa fazer parte da vida da população, ele não pode estar apenas em unidades de saúde. É importante aumentar, ainda mais, o acesso a ele.

Continua-se o desafio de buscar alternativas que contemplem as individualidades e as questões sociais que envolvem os cidadãos. É preciso fazer sentido dentro do que é vivido realmente! Precisa-se desenvolver a capacidade de cada um em interpretar e incorporar as informações adquiridas, levando em conta suas particularidades e adaptando-as, melhorando assim a qualidade de vida.

 

Principais referências:

KRABBE, E.C.; BRUM, M.D.; CAPELETTI, C.P.; COSTA, T.S.; MELLO, M.L.; VIEIRA, P.R.; CARVALHO, T.G.M.L.Escola, sexualidade, práticas sexuais e vulnerabilidades para as  infecções sexualmente transmissíveis (IST). Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão, [online], v. 4, n. 1, p. 75-84, 2016.

NETO, A.B.; ARAÚJO, A.C.; DOHER, M.P.; HADDAD, M.A. Revisão sobre a eficácia do preservativo em relação à proteção contra doenças sexualmente transmissíveis e gestação. Diagn Tratamento, v. 14, n. 3, p. 123-125, 2009.


Michele Santos. Bióloga, especialista em Saúde Pública, pesquisa e busca levar conteúdos sobre saúde e educação sexual através do projeto ‘’Conheça seu Corpo’’, nas redes sociais. Adora animais, com bastante ênfase em gatinhos e doguinhos. Não dispensa um chocolate e uma boa risada.

 

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