A série responsável pelo revival dos filmes de super-heróis finalmente chegou a um de seus arcos mais empolgantes dos quadrinhos. X-Men: Apocalipse se posiciona como o primeiro a explorar a nova linha temporal, introduzida em Dias de Um Futuro Esquecido e para isso dá vida a um dos mais terríveis inimigos que os mutantes já enfrentaram.

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“Só os fortes sobreviverão”

 

Antes de mais nada é preciso entender que todos os acontecimentos dos três filmes originais foram devidamente apagados no último filme. Os atos de Wolverine, Mística e Xavier ao deter Magneto e os sentinelas mudaram completamente o futuro e a linha temporal original deixou de existir, sendo esta uma saída inteligente para consertar a série de burradas cometidas por Brett Ratner em X-Men: O Confronto Final. A Fox queria continuar explorando os personagens mas o diretor matou Xavier, Ciclope e Jean Grey e tirou os poderes de Magneto. Ou seja, ele destruiu tudo.

Dessa forma Singer, que voltou para por ordem na casa conseguiu uma tela em branco para contar novas histórias do jeito que desejar, e logo de início decidiu adaptar um dos arcos mais marcantes dos X-Men: o despertar de Apocalipse, o primeiro mutante da Terra.

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Tanto aqui como nas HQs, En Sabah Nur (seu nome significa literalmente “O Primeiro”) não é uma criatura com pretensões divinas, ele É Deus. Estando vivo a milhares de anos, Apocalipse governou sobre as tribos humanas por eras e foi retratado como o todo-poderoso em diversas culturas. YHWH, Khrisna, Set… todas as lendas e religiões da Era do Bronze adaptaram sua trajetória em seus próprios mitos.

Só que diferente das HQs, onde ele possuía o poder de controlar cada molécula de seu corpo (o que em tese lhe permitiu não envelhecer), no filme ele nasceu mortal e utilizou sua habilidade primordial de transferir sua consciência de um corpo a outro várias vezes para passar a rasteira na morte, e caso o novo hospedeiro fosse um mutante ele ainda incorporava suas habilidades (ele repetiu esse processo por séculos a fio, logo Apocalipse conta com uma miríade de poderes incomensuráveis). E como o último que ele possuiu tinha fator de cura, o mutante ancestral enfim se tornou imortal. Isso lhe permitiu sobreviver por milênios adormecido devido a traição de seu próprio povo, no Egito antigo.

Óbvio que por uma série de coincidências Apocalipse acorda em 1983 e não gosta nada do que vê: os primitivos (os humanos) herdaram a Terra em sua ausência, e é hora de fazer a limpeza na Terra pondo em prática sua já conhecida filosofia: a sobrevivência dos mais fortes, ou seja, dos mutantes escolhidos.

E ele rapidinho faz sua listinha para recrutar seus quatro fieis cavaleiros: Tempestade, Psylocke (sim, ela aqui é vilã), Anjo e claro, Magneto.

Falando do personagem em si, o ator Oscar Isaac (o Poe Dameron de Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força) entrega um Apocalipse forte, que não precisa ser um gigante marombado para demonstrar que é onipotente e praticamente invencível.

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Já sobre Magneto, sem dar muitos spoilers sobre a trama em si ele está bem diferente do que vimos até então. Erik Lensherr finalmente caiu, está passando pelo pior momento de sua vida e por causa disso foi vítima fácil de Apocalipse, tendo sido recrutado sem muito esforço (nesse ponto Michael Fassbender manda muito bem). E se o Mestre do Magnetismo já era poderoso antes, espere para ver do que ele é capaz com o bônus de poder que recebe do vilão.

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“Esperamos que sobreviva à experiência”

 

Do lado dos bonzinhos temos novamente o jovem Charles Xavier de James McAvoy, agora um professor minimamente respeitável mas ainda inconsequente, bem diferente do austero e calejado mestre que Sir Patrick Stewart deu vida, mas ele está evoluindo. Ele reconhece que pode fazer mais pelo mundo dando a seus alunos a esperança de um amanhã pacífico, mas ele ainda é ingênuo, não acredita na necessidade de treinar mutantes para se defenderem e salvarem um mundo que os teme e odeia. E levará um sacode daqueles por conta dessa moleza.

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O novo time de mutantes também é bem apresentado. Ciclope, Jean Grey e Noturno (a Jubileu aparece, mas pouco) estão bem situados e aprendem a trabalhar como um time rapidamente, com a adição do dr. Hank McCoy, que ainda não decide se quer ser o Fera ou não. São todos novos atores e jovens, mas logo de cara desempenham bem seus papéis.

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Já Jeniffer Lawrence é a liga do filme. Diferente da linha original e das HQs a Mística não é uma vilã, e sim vista como uma heroína pela comunidade mutante após os eventos da Casa Branca. Ela recusa veementemente a atribuição, mas quando a necessidade surge é ela quem atua como a segunda no comando e coordena todos os jovens alunos ao combate. Isso foi uma decisão de Singer para tirar o foco de Wolverine ao máximo, já que ao contrário do personagem Hugh Jackman está envelhecendo, logo não dá para utilizá-lo eternamente.

Mas não se preocupem, as fãs do carcaju podem respirar aliviadas pois ele está no filme, óbvia e novamente sem camisa. E sem entregar o plot inserido numa situação que todo mundo queria ver há tempos.

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E bem, tem o Mercúrio. Se você acha que a cena dele em Dias de Um Futuro Esquecido é sensacional espere para ver o que Singer aprontou em Apocalipse, e o mutante mais rápido da Terra não tem um, mas DOIS momentos de destaque. Evan Peters, dono de um carisma ímpar conquista o público com suas caras e bocas e todo mundo se maravilha toda vez que ele corre mais rápido que uma bala (ops, herói errado).

Hora de construir um mundo melhor

 

Falemos então do filme como um todo. Ele é divertido e tem momentos sensacionais e dramáticos, mas X-Men: Apocalipse parece um “mais do mesmo” no universo dos mutantes. Há o conflito, a ameaça e tudo o mais, porém tudo corre de forma deveras mecânica, não há reviravoltas, você sabe exatamente o que Apocalipse fará a seguir e não é surpreendido. Mesmo a grande cartada do mutante ancestral para assegurar seu domínio sobre a Terra não causa tanto impacto quando é concluída.

Há toda uma série de acontecimentos e a ameaça do fim do mundo, mas parece que Apocalipse serviu apenas como gatilho para dois eventos: a final compreensão de Xavier sobre sua importância e seu dever junto aos X-Men e o crescimento de Jean Grey como uma das mutantes mais poderosas do planeta.

Não fosse o elenco o resultado final seria um mero “meh”, mas as atuações seguram o filme. É um filme divertido, com muitas cenas de ação, mas não espere nada suficientemente grande a ser mudado na vida dos X-Men. Não há grandes consequências.

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Há outras gafes, como desperdício de elenco. Olivia Munn está fantasticamente caracterizada como Psylocke mas ela quase não abre a boca, e o mesmo vale para o Anjo (embora ele tenha duas sequências de luta muito boas contra o Noturno); Tempestade aparece mais do que os outros três cavaleiros, excluindo obviamente Magneto e em determinado momento desempenha um papel muito importante.

Quanto à principal reclamação: Apocalipse não precisa ser um gigante (mas ele se transforma em um mesmo assim) para provar que ninguém pode com ele, e o vilão deixa isso claro o tempo todo. Ao dispor de um número enorme de poderes ele pode fazer o que quiser, quando quiser, como quiser e não precisa entrar em combate físico para esmagar qualquer um que se opor a ele. Atenham-se à interpretação de Isaac e o detalhe dele não ter três metros de altura nem fará diferença.

Para concluir: sim, tem Stan Lee e sim, tem cena pós-créditos. Não saia da sala até o final.

Conclusão

 

X-Men: Apocalipse derrapa em retratar no cinema um dos arcos mais memoráveis dos mutantes da Fox ao torná-lo uma história sem consequência, quase como um passeio no parque. Porém, a atuação do elenco e as ótimas sequências de ação valem o ingresso e no fim das contas é para isso que pagamos, para ver mutantes se esbofeteando com vontade.

Nota: 4 de 5 discos da Cristal.

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