“Bela, avançada e do bar”, já diria Eduardo Bueno, e ele acertou na mosca! Então, venham ver quem é, venham ver quem é! A deliciosamente ácida senhora Teffé!

Aaaaah, Nair… Nair, Nair… se mil textos eu tivesse, mil textos eu dedicaria à você. Mas, como me faltam dedos, dedico apenas esta humilde homenagem. Vamos lá? Oui, oui, mon amour!

E esse toque francês é só para iniciar o papo sobre essa mulher nascida em Petrópolis mais precisamente em 10 de junho de 1886, mas criada na França e maravilhosamente educada nas cidades de Paris e Nice.

Filha de Antônio Luís von Hoonholtz, o Barão de Teffé, e Maria Luísa Dodsworth, a pequena Nair teve uma infância rica, financeiramente e culturalmente. Tendo um pai diplomata viajou o mundo ainda menina e frequentou as melhores escolas da elite europeia.

Em 1905, com apenas 19 anos, Nairzinha volta ao Brasil influenciada pela Bella Époque, oh là là, cheia de ideias na cabeça e inspirada nos cartunistas lá dazooropa, ela começa a desenhar caricaturas para várias revistas como a O Malho e a Fon-Fon (a-do-re-i esses nomes, só um adendo mesmo, já retomo). And os periódicos O Binóculo e A Careta, entre outros. Com um traço ágil, dizem que a moça tinha o dom de traduzir bem o caráter das pessoas.

Caricatura de Rui Barbosa – Nair de Teffé

Adorava um bar, mais especificamente o bar do Jeremias, onde andava com uma galera gente fina como Lima Barreto. Ah, se existisse uma máquina do tempo, toda semana eu sextava por estas bandas…

Pois bem que alguns estudiosos a consideram a PRIMEIRA MULHER CARTUNISTA DO MUNDO! tudoemcapslockmesmoporquemereceumberrobemgrande…

No começo ela assinava como Rian (seu nome ao contrário e sonoramente parecido com rien, que em francês significa “nada”), muito espertinha. Se você já não está apaixonado por ela… bem, não sei como, é impossível.

Caricatura de Rui Barbosa – Nair de Teffé

Mas falando em se apaixonar, sabe quem também se apaixonou pela Nairzinha?

Noooooon, rien de rien… Noooon, je ne regrette rien!!!

Aaah, o amor… ou sabe-se lá o que foi esse romance de Nair de Teffé com o presidente marechal Hermes da Fonseca, pelo visto ela não se arrependeu, mas bem que poderia porque o casamento fez com que ela se afastasse de sua profissão.

Em 8 de dezembro de 1913 aconteceu o casório com o viúvo marechato. Ela com 27. Ele com 57. Os filhos dele? Não foram.

1913 – Casamento de Nair de Teffé e Marechal Hermes da Fonseca – Arquivo Estadão

E não pense você que ela se tornou menos ousada, muito pelo contrário, continuou transgressora, do jeitinho que a gente gosta. Nair é responsável por introduzir as calças compridas ao guarda-roupa das mulheres brasileiras e mostrar para as moçoilas da época que tudo bem montar a cavalo como homem.

E pense em uma mulher soda (na época, com PH, claro…)

Pois bem que nossa primeira-dama se deliciava organizando saraus no Palácio do Catete, então sede do governo, e não pense que rolava chatice, não… Nairzinha tocou para as altas classes músicas de Chiquinha Gonzaga – o famigerado maxixe – tocando ela própria o violão – instrumento de péssima reputação na época.

Imagine você o rebuliço quando Nairzinha pegou o violão e começou a tocar e cantar o “Corta-Jaca” de Chiquinha Gonzaga para a já down down high society. E Rui Barbosa ficou enojado: onde já se viu tocar uma música horrorosa dessas, que é dançada de maneira vulgar? Um ultraje tocar música popular no Palácio! E vejam que não estou aumentando, dá uma olhada no discurso do Rui Barbosa feito no Senado em 7 de novembro de 1914:

“Uma das folhas de ontem estampou em fac-símile o programa de recepção presidencial em que, diante do corpo diplomático, da mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar ao país o exemplo das maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o “Corta-jaca” à altura de uma instituição social. Mas o “Corta-jaca” de que eu ouvira falar há muito tempo, o que vem a ser ele, sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o “Corta-jaca” é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria!”

Este sim é o verdadeiro mimimi.

Adeus, primeira-dama… Olá, presidenta!

Assim que o mandato de seu marido acabou, Nairzinha voltou para a Europa, mas não por muito. Retornou ao Brasil em 1921 bem a tempo de participar da Semana de Arte Moderna de 22. Em 1928, volta a morar em Petrópolis e lá é eleita presidenta da Academia de Ciências e Letras dissolvendo a instituição para fundar a Academia Petropolitana de Letras. Também foi presidenta da Academia Fluminense de Letras e fundou o Cinema Rian – um dos mais bem conceituados cinemas do Rio de Janeiro que resistiu até 1983.

Aos 70 anos voltou a desenhar e aos 95 anos, no dia de seu aniversário, partiu, deixando um legado incrível e, por isso, Nair de Teffé é uma das Grandes Mulheres da História.

“Da cozinha eu só gosto da comida”

E com essa frase célebre de Nair de Teffé terminamos nosso texto para lembrar que armários, cozinhas e senzalas permanecerão vazios no que depender de pessoas como nossa homenageada.

Um agradecimento especial ao Eduardo Bueno, do canal Buenas Ideias, jornalista, escritor, tradutor e phoda, muito phoda, o grande responsável por este texto existir porque me apresentou esta figura extraordinária. Obrigada pelos peixes!

Fontes pra que te quero!

Wikipedia – porque quem nunca, né?

Canal Buenas Ideas – NAIR DE TEFFÉ: BELA, AVANÇADA E DO BAR | EDUARDO BUENO

Infográficos do Estadão

Matéria – A Cartunista Nair de Teffé do Mundo Educação Uol 

Livro – Nair de Teffé Simbolo de uma época de Paulo César dos Santos