… Então nós corremos…

Uma só multidão,

Como um só corpo…

Demos um mesmo grito…

Sofreguidão!

 

Você vê aquela menina?

Lá está ela,

Olha para a mãe caída,

Na calçada, morta…

Vamos, corra!

Não podemos parar!

Beco sem saída…

 

As tropas avançam,

Estou fugindo…

Do que eu fujo?

Não sei de onde isso vem,

Mas meu medo,

Meu medo é o seu também…

 

Os portões estão fechados,

Todos se escondem,

Outros correm ao meu lado…

Então eu ouço um disparo,

Som do fim de uma vida…

Desculpe, não posso ajudá-lo,

O medo devora a carne doída!

A cidade se espanta,

As luzes se apagam,

Mas o clarão das bombas se propagam!

Uma cortina escura cobriu as águas,

Afogou os peixes…

O silêncio tomou conta dos mares,

E nos ares, os pássaros se negam a cantar.

Veja as crianças, fecham seus olhos,

Como se estivessem esperando permissão para levantar…

 

Transformaram seu lar numa terra fria,

Onde estar lá agora,

Era o que elas menos queriam…

O documentário noticia,

A ocorrência de mais uma morte no dia…

O tempo consola,

Mas, por dentro ainda chora,

O mesmo coração que se apavora…

 

Quando as águas se escurecem,

Quando o céu já não é mais azul,

Quando uma arma dispara, por homens,

Que já não são mais homens,

Sejam vermelhos do Norte,

Ou azuis do Sul…

 

Não sei para onde ir…

olho por todos os lados,

Não encontro saída…

É difícil admitir, mas…

Minha vida foi esvaída?

 

Um homem aparece em minha frente,

Uma pequena menina está em seus braços,

O homem chora,

A criança chora,

Há uma senhora junto a eles,

Apenas ouço

O ranger de dentes…

Eu olho para suas faces… calam,

Mas também não precisam falar

Ouço apenas a criança,

Ela pede pela mãe a chorar…

O pai a abraça forte

Não responde, apenas…

 

E já não sei mais de mim,

Nem para onde estou indo…

Talvez já esteja morto,

Sonhando que estou vivo.

Referência para as imagens:

SEGALL, Lasar. Visões da Guerra. São Paulo: Imprensa Oficial, 2012.