Quando visitamos parques e outras áreas de proteção ambiental, esperamos trégua de sons e vistas do cotidiano. Mas em alguns lugares isso está cada vez mais difícil de acontecer. Nos Estados Unidos da América (EUA), por exemplo, as áreas de proteção estão barulhentas, o que interfere na paz e quietude buscada pelos visitantes.

Os ruídos gerados por humanos – incluindo os gerados por atividades como o tráfego e a extração de recursos naturais – ameaçam também a vida de plantas e animais.

Charlie Zender, físico atmosférico da Universidade da Califórnia, Irvine, pesquisador envolvido no estudo, se diz chocado em descobrir como o ruído, gerado por humanos, tornou as partes mais remotas do continente, barulhentas.

Vizinhança barulhenta

Para investigar a poluição sonora em áreas protegidas, Rachel Buxton, ecóloga acústica da Universidade Estadual do Colorado em Fort Collins, e seu grupo de pesquisa usaram dados coletados pelo US National Park Service (NPS) que mapeou os níveis sonoros em todo o país. As informações incluem 1,5 milhões de horas de gravações de 492 áreas protegidas, como parques urbanos e áreas remotas.

Para determinar se o ruído tinha origem em atividades humanas, os pesquisadores produziram um modelo para eliminar potenciais sons criados por pessoas, aviões ou carros. Eles então compararam suas estimativas de níveis de ruídos sonoros selvagem com os mapas do NPS, o que permitiu determinar em que medida os sons produzidos pelos humanos se somaram aos níveis de ruído nas áreas protegidas.

Os pesquisadores encontraram que 63% das áreas protegidas são duas vezes mais barulhentas do que deveriam. “Se você costumava ouvir o canto dos pássaros a 30 metros, agora pode ouvir a 15 metros”, segundo Buxton. Algumas áreas bastante barulhentas: 21% são 10 vezes mais barulhentas que os níveis anteriores. Nestas regiões, “você pode ouvir os pássaros a uns 3 metros”, diz ela.

Muitas desses espaços são habitats críticos para espécies endêmicas. A equipe encontrou que os níveis sonoros dobraram, em comparação ao modelo, em 58% destes ambientes e que plantas e invertebrados experimentam altos níveis de ruído. Para plantas, isto traz efeitos indiretos como alteração de comportamento dos polinizadores, herbívoros ou animais que dispersam sementes.

Administrando a magnificência

Francis gostaria de ver os próximos estudos sobre o impacto dos níveis de ruídos nas espécies presentes em áreas protegidas. Por exemplo, a influência da poluição sonora sobre os animais dispersores de sementes no Novo México.

Há algumas boas notícias, no entanto. Cerca de um terço das áreas protegidas da equipe analisada ainda tinham paisagens sonoras naturais não perturbadas – o que é bom para as plantas e animais nessas áreas, e também pode ter benefícios para a saúde dos visitantes. E os pesquisadores descobriram que, em geral, as regiões protegidas eram frequentemente mais silenciosas do que os espaços desprotegidos que os cercavam. Além disso, as áreas com os mais altos níveis de proteção, consideradas “áreas de deserto”, foram as mais silenciosas. Assim, designar uma extensão como protegida parece manter o som recusado.

Os pesquisadores esperam que as pesquisas possam influenciar as decisões políticas para melhor gerenciar o som nesses espaços. Mas, por enquanto, “realmente ouça quando você for a um parque”, diz Buxton. “Ouça tudo, desde apenas o fluxo do rio até os magníficos cantos dos pássaros. Isso tornará melhor sua experiência, e é importante para a sua saúde”.

 

Fonte: Nature