Este é um conteúdo em formato podcast, mas, se preferir, pode acompanhá-lo com o texto e imagens a seguir.

Para ver todas as imagens deste episódio, entre nesta galeria.

Capítulo 1 – O Acidente

Um grupo de bombeiros entra na pista com mangueiras jorrando água. O avião não tinha mais combustível, então não há o risco de explosão, mas o atrito da fuselagem deslizando sobre o asfalto fez o corpo da aeronave esquentar absurdamente.

Depois da fumaça se dissipar, eles podiam enxergar melhor. O Apoena estava de lado, sem uma das asas e sem um dos canards (aquela barbatana que fica na parte da frente). Quando o avião capotou de lado, essas estruturas se partiram, o que absorveu parte do impacto. Ainda assim, o Apoena deslizou mais de 200 metros antes de parar completamente.

Os bombeiros removem a cúpula da cabine, revelando um corpo sem movimento, solto, suspenso apenas pelo cinto de segurança. Neste momento, em que todos aguardavam o pior, a cabeça faz um leve movimento para o lado, e as mãos se movem lentamente, abrindo e fechando os dedos:

— Que trem doido foi esse?

Ivo estava vivo. Ele é levado diretamente para o hospital da base, onde se constata diversas fraturas nas costelas e na perna direita, além de alguns cortes no braço. Sua situação é estável, mas precisam levá-lo para a mesa de cirurgia. Durante a recuperação, Ivo precisará passar alguns meses de molho mas, ao menos, poderá se confortar com as mais de 500 cartas que receberia lhe desejando melhoras. Agora ele tinha uma noção de como o Programa Espacial estava tão presente na vida dos brasileiros.

Já o Apoena, apesar de estar manco de uma asa, não tinha sofrido grandes avarias. Os engenheiros teriam um trabalho razoável para restaurá-lo, mas, como tinham muitas peças extras vindas do “assalto” bem sucedido, poderiam deixá-lo zerado em 4 semanas.

Lacerda queria chamar um outro piloto para substituir Ivo, mas Ada tinha outra ideia:

— Delegado Lacerda?

— Que delegado Ada? É major-brigadeiro ou comandante, escolhe um deles.

— Ah, desculpa comandante, mas olha, não sei se vale a pena chamar um substituto.

— Claro que vale, você tá sozinha e a gente precisa de dois pilotos.

— Eu sei, mas, eu tô pensando aqui: se chamar o próximo da lista, ele vai chegar e ficar parado, porque o Apoena tá no conserto. Só quando o Apoena for liberado é que dá para começar o treinamento, que vai mais 2 ou 3 meses, e aí, quando a gente finalmente puder voar, é capaz do Ivo já tá de volta. Todo esse tempo jogado fora.

— To vendo onde você quer chegar. Mas com você de instrutora, a gente consegue acelerar bastante o treinamento do suplente. Afinal, você já voou nesse avião.

— Não, eu sou muito ruim de explicar as coisas, sabe. Eu sou mais intuitiva, não consigo nem lembrar direito o que eu fiz durante o voo, o Richard fica puto. Eu acho que meu tempo vai ser muito melhor usado voando o Apoena. Se eu ficar parada esse tempo todo, vou esquecer tudo que aprendi naquele primeiro voo.

— Ué, você acabou de dizer que já não lembra nada direito, e que voa só na intuição.

— Ah mas… vai que a intuição acaba esquecendo como voa, né?

— Tá bom, Ada, você ganhou. Se você acha que dá conta sozinha, eu pago pra ver.

— É isso Lacerdinha! Assim que se fala.

Ela pula no pescoço do major num abraço, quebrando qualquer resquício de protocolo que ainda restasse.

— Ei ei… segura as pontas aí. Não vai me decepcionar hein.

Capítulo 2 – Além da Estratosfera

No dia 8 de setembro de 1955, um Apoena reformado é lançado do bombardeiro B-17 a 9km de altura com uma Ada super compenetrada a bordo. O objetivo da missão era tentar cruzar os 40km de altura. O objetivo pessoal dela era domar o Apoena. Ada havia se sentado com o Jayme diversas vezes para discutir as manobras em baixa velocidade. Foram noites em claro em que ela se imaginou se aproximando do pouso, lutando com os controles, pressionando os freios aerodinâmicos na medida exata e tocando o solo perfeitamente alinhada. Tudo passava em sua cabeça como num filme e ela estava tensa pois sabia que agora era a vida real. Mas antes, ela tinha que cumprir a missão.

Acelerando ao máximo, Ada mantém o Apoena na altura de 20km até o mostrador marcar a impressionante velocidade de 2300 km/h, o que a transforma na primeira mulher a cruzar o Mach 2, ou duas vezes a velocidade do som.

Ela tinha um dilema agora. O objetivo era ultrapassar os 40km de altura, mas, nessa altitude, o ar é tão fino que não gera sustentação suficiente para segurar o avião no ar. Pra entender melhor isso, pensa que o avião é um golfinho numa piscina:

Quando o avião está no chão é como se o golfinho estivesse lá no fundo da piscina.

Quando o avião está em 20km é como se o golfinho estivesse no topo da piscina, na   superfície da água. A altura de 40km é como se fosse um aro que está suspenso alguns metros acima da água.

Não tem como o golfinho nadar tranquilamente até o aro, pois golfinhos não nadam no ar. O único jeito é o golfinho pegar impulso dentro da água e saltar com tudo pra fora. Se ele conseguir um impulso grande o suficiente, ele atravessa o aro e então cai de volta na água.

Ada teria que fazer esse salto para alcançar os 40km. Qual o melhor jeito de fazer isso? Um golfinho afunda um pouco antes do salto para ganhar impulso. Ela então pressionou o manche para frente, embicando o Apoena para baixo. A velocidade absurda aumentava ainda mais enquanto o avião perdia altura e, quando chegou em 17km, Ada puxou o manche para trás, o máximo que pôde, para erguer o bico do Apoena o quanto fosse possível.

— Alcântara, iniciando o salto . Uou!!

Ela se surpreendeu com a empinada.

Um avião normal tem as asas saindo do meio do corpo. No S-1, o Richard colocou as asas na parte de trás, o mais pra trás possível. Além disso, colocou os canards (as barbatanas) lá na parte da frente, na cabine do avião. O motivo era gerar o máximo de alavanca possível na hora de embicar. Era um golfinho feito para saltar.

O Apoena chegou a ficar 70 graus inclinado pra cima, Ada subia quase numa vertical.

A velocidade foi diminuindo enquanto ela subia e subia. Será que chegaria nos 40km?

Mas algo curioso aconteceu no meio do caminho. Como o Apoena foi ficando mais e mais leve à medida que o combustível queimava, em algum momento ele ficou tão leve que o impulso do motor apontando para baixo ganhou da gravidade e começou a acelerar o avião, aumentando a velocidade. Virou um foguete.

— Alcântara, a velocidade tá subindo, isso é incrível. Vou passar dos 40km. 

Ada, atenção, você não… o motor

Alcântara? Não copio. Repita. Alcântara? Ai cacete de águia zarolha!

Ela não tá ouvindo. Merda! Já passou dos 40 e tá entrando na ionosfera, o rádio não funciona. Ai caceta Zé, e agora?

— Mas, o avião parece ótimo, qual o problema?

— Ela tá subindo muito mais do que a gente previu. Só que é um salto. Quanto mais alto você sobe, maior é a queda.

— Isso quer dizer que o impacto da descida vai ser grande?

— Absurdamente grande. O Apoena não foi desenhado pra isso. Ninguém achou que ela conseguiria um salto tão alto. Ela tem que cortar o motor já. Ai meu Deus!

— Puta merda… São Longuinho, São Longuinho, se o Apoena voltar inteiro eu dou 3 mil pulinhos!

Mas Ada, por iniciativa própria, nunca cortaria aquele motor. Ela era um pássaro livre, que amava voar acima de tudo. Quando acabou o combustível, o altímetro marcava 55km e continuava a subir. O céu foi ficando escuro, o chão desaparecendo. Ela olhava para fora embasbacada com a visão. Dava para ver até a curvatura da Terra. Aquilo era inacreditável. O ponteiro foi subindo até alcançar os 69km, e então começou a descer.

Com o ar tão rarefeito, Ada mexia os controles, mas o avião não respondia. Ele começou a descer de costas, caindo como uma pedra. 

Aos poucos a velocidade foi aumentando e o Apoena começou a girar, até que o bico apontou para baixo. Nessa posição, ele cortava ainda melhor o vento e a velocidade disparou. Quanto mais ele despencava, mais a velocidade subia, e não havia nada que Ada pudesse fazer. Aliás, só uma coisa: acionar os freios aerodinâmicos.

— Segura Apoena, seguuuura!

Mas os freios pouco adiantavam, a velocidade continuava a subir e, agora, a temperatura também. Do chão, os espectadores viam um meteoro, incandescente, voando a 3x a velocidade do som.

— Meu Deus do céu!

Ada suava em bicas. O Apoena estalava, vibrava; as asas brilhavam em brasa.

Aos 30km de altura, os controles começaram a responder. Ada tinha pouquíssimos segundos para parar a queda ou se chocaria na parte densa da atmosfera. Mas se ela puxasse muito forte os controles, as asas se partiriam.

A pressão no manche é gigantesca. Ela faz força para puxar, mas tinha de fazê-lo suavemente, de maneira extremamente precisa. A força G vai subindo. Ela imediatamente comprime as pernas e o abdômen, num reflexo treinado tantas vezes na centrífuga. A visão se estreita, até se fechar num túnel escuro e comprido. Os sons desaparecem.

8G, 9G

Ela não podia largar, não podia apagar.

10G

— Vaaaaai!

9G, 8G, 7, 6, 5…

Finalmente, aos 12km de altura, ela consegue trazer o Apoena para a horizontal e, milagrosamente, ele está inteiro. E o melhor, a pista está logo abaixo deles.

— Calma Ada, não acabou ainda… falta o pouso.

Manobrando de maneira exemplar, Ada se alinha com a pista, descendo a 500km/h. Ela aplica os freios e se prepara para o arredondamento. Agora era o momento crítico. O Apoena relinchava, dava coices, reclamava – ela precisava domá-lo.

— Apoena, Apoena, se acalma meu menino. Apoena, Apoena, vem descendo, de mansinho. (Vem baixando, vem tranquilo)

 Zé, o que é isso? O que a Ada tá fazendo?

— Mano, ela tá… cantando pro Apoena?! Nunca vi nada parecido.

— Rapaz, eu vou gravar isso.

Apoena, Apoena, se acalma meu menino. Apoena, Apoena, vem voltando pro seu ninho.

Ninguém acreditou quando viu o toque suave das rodinhas na pista. Embora estivesse a 260km/h, a todos pareceu que o Apoena vinha deslizando sobre uma pista de gelo, até parar completamente. Ela havia conseguido. Fez o voo mais impossível que o mundo já vira, e saíra viva.

Capítulo 3 – O Superjato

Se Ada Rogato já era chamada de Rainha do Ar, depois desse voo a coisa perdeu o controle. “Bruxa dos Ventos” dizia um noticiário de rádio. “Senhora das Nuvens” era a manchete de um jornal. “Domadora de Aviões” afirmava um âncora na TV Tupi, tocando uma cantoria que, ninguém sabe como, vazou para um jornalista. O feito de Ada era algo que entrava para a aviação mundial. Ela era, simplesmente, a pessoa (homem ou mulher) que tinha ido mais rápido e mais alto no mundo. Lacerda, porém, tava furioso:

— Ada, Ada, o que você tem na cabeça, mulher?

— O de sempre, almirante, vontade de voar.

— Almirante não, minha querida… aí você me fode.

— Ops.

— Escuta, a missão era 40 quilômetros. Que lampejo de loucura te deu para achar que seria uma idéia razoável chegar em 70, hein?! Virou Astronauta agora?

— Tô trabalhando pra isso, chefinho. Mas olha, foi 69, não chegou nos 70.

— Pára de gracinha! Isso aqui é muito sério, moça. Você podia ter morrido, além de quase destruir a merda de um avião único que a gente… ralou muito para construir.

Nessa hora Lacerda quase deixou escapar a história do “grande assalto”, mas se segurou.

— Mas me falaram que o objetivo era passar dos 40km. Ninguém colocou um teto.

— E precisava?! Caramba Ada, é o mínimo do bom senso. Você atravessou toda a estratosfera. Não, isso não é nada aceitável!

— Tá, desculpa Lacerda… comandante Lacerda. Mas eu tô fazendo meu melhor pro programa. O Jayme disse que os dados do meu voo vão avançar em 2 anos o desenvolvimento das cápsulas espaciais. Achei que o senhor taria contente.

— Não, eu to puto. Esses cientistas amam a ciência, os dados e toda essa parada. Mas EU sou o responsável pelas pessoas, pelo programa! Já não basta o Ivo se estropiar todo, você tá querendo competir para ver quem morre mais rápido?! Acorda Ada, você não tá voando sozinha, tem uma equipe gigante por trás e você tem que no mínimo respeitar isso. Ei, quem é que tá pulando feito um coelho ali na pista?

O coitado do Zé não acreditava em superstições, mas promessa pra santo era coisa séria:

— 1245, 1246, 1247, 1248, 1249…

Mas voltando… o Lacerda estava coberto de razão em dar uma dura na Ada, mas, ainda assim, aquele voo tinha sido muito valioso para os cientistas. O Apoena foi todo desmontado para que se pudesse analisar completamente cada peça, válvula, vedação, sensor, atuador etc. e levaria um bom tempo até ele voltar a voar mas, para sorte da Ada, o segundo super avião do Richard, o S-2, tinha ficado pronto.

Esse usava motores a jato, não motor de foguete. Eram dois Avon 107, cada um queimando meio litro de querosene por segundo para gerar 3500 kg de força. A vantagem de se usar motores a jato era poder usar o oxigênio da atmosfera para fazer a combustão e assim ter 20 minutos de queima, em vez dos 5 minutos do Apoena. A desvantagem era que, justamente por usar oxigênio da atmosfera, o jato não poderia ir tão alto. Acima de 20km a potência diminui e passar de 25 se torna muito difícil.

O S-2 era um jato mais tradicional, com as asas voltadas para trás e uma cauda contendo duas asinhas, os estabilizadores horizontais, e uma vela, o estabilizador vertical. Sua fuselagem prateada rajada com azul metalizado e linhas douradas lembravam o estilo do Apoena, mas, diferente deste, o corpo era mais largo para abarcar os dois motores enormes, de forma que as rodinhas, mesmo escondidas dentro da fuselagem, estavam mais afastadas. Esse seria um jato bem mais estável pra pousar que o anterior. E por voar em alta velocidade por bastante tempo, chamaram o S-2 de “Goitacá” que significa “nômade” ou “errante” em Tupi.

Em 8 de novembro de 55, o Goitacá decolou da pista de Alcântara carregando uma Ada mais comportada. O objetivo da primeira missão, além de testar o próprio jato, era atingir uma velocidade supersônica por 5 minutos e retornar em segurança. Ada executou tudo de maneira precisa, sem emoções dessa vez, e, sobre o pouso, aquilo foi moleza. Com suas asas maiores e as rodinhas mais afastadas, o Goitacá era um cavalo manso perto do Apoena.

Capítulo 4 – 50 anos em 5

Durante esses 9 meses em que acompanhamos o progresso do Programa Gaviões, outras coisas estavam acontecendo em Alcântara.

Os cargueiros soviéticos começaram a chegar, trazendo cientistas e toneladas de equipamentos e peças de foguete, inclusive o motor RD-108 e os S-155 que eles estavam devendo ao Brasil por conta da negociação no começo do ano. Uma vez de posse desses motores, a principal equipe de engenheiros da base, liderada pelo Zé, tratou imediatamente de começar a engenharia reversa, mas aquilo era absurdamente complicado. Levaria anos até eles terem o primeiro protótipo para testar.

Enquanto isso, Richard e Jayme se dedicavam em desenhar o primeiro estágio desse novo foguete brasileiro, um foguete capaz de colocar um satélite em órbita da Terra. Tinha início assim, o novo programa da Base de Alcântara: o Programa Orbital.

Para tanto, foram contratados mais 50 cientistas, vindos principalmente das turmas de formandos do ITA. O IPD, o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, em São José dos Campos, somava agora 270 pesquisadores dedicados ao programa espacial.

Os lançamentos de foguete diminuíram nesse período, mas não pararam. A fim de gerar mais dados para a pesquisa biológica da Sílvia e da Vanda, subiram 3 Arapuás (a nossa abelhinha espacial), um levando um papagaio, outro um camundongo e o terceiro um coelho. Os foguetes foram chamados de Zé Carioca, Mickey e Pernalonga, quanta criatividade.

Na política brasileira as coisas se agitaram no segundo semestre por conta das eleições presidenciais. Quem venceu foi um médico mineiro que trazia um forte discurso desenvolvimentista, um tal de Juscelino Kubitschek. O slogan da sua campanha era avançar “50 anos em 5” com um plano de metas ousado pretendendo revolucionar a indústria de base, a energia, os transportes, a educação e, o carro chefe, o Programa Espacial Brasileiro. Ele prometia levar o Brasil mais longe, primeiro colocando um satélite em órbita, e, depois, o primeiro ser humano no espaço. Muitos analistas achavam aquilo um disparate completo, mas o povo comprou a ideia: a febre dos foguetes (como seria chamado aquele período nos livros de história) estava elegendo até presidente. Juscelino vence com ampla margem e é empossado em janeiro de 56.

Nos meses seguintes as obras começam a todo vapor, com estradas sendo abertas, novas indústrias sendo formadas e uma verba gorda impulsionando o Centro de Lançamento de Alcântara. Os 50 anos em 5 tinham começado.

Epílogo

Você ouviu o oitavo episódio de “O Brasil vai pro espaço”, produzido pelo Scicast.

Os eventos narrados aqui, embora fictícios, utilizam como base fatos e pessoas reais da história do Brasil e do mundo. Em especial, neste episódio:

Juscelino Kubitschek realmente criou o slogan “50 anos em 5” e um plano de metas super desenvolvimentista. Na história real, porém, a sua peça chave era a criação de Brasília, uma cidade moderna, planejada, que seria o símbolo para o seu governo.

Eu gastei horas discutindo com meus amigos historiadores se Juscelino, nesse novo cenário em que existe um programa espacial robusto aclamado pelo povo, ainda perseguiria a ideia de Brasília. Confesso que não chegamos num consenso.

Naquela época, a capital do país era o Rio de Janeiro, uma cidade de 3 milhões de habitantes. A ideia de transferir a capital para o interior, concebida ainda no século 19, não era apenas uma questão de desenvolvimento regional, mas tinha um propósito estratégico crucial: isolar o poder político das manifestações populares na metrópole carioca. Entretanto, será que construir uma cidade inteira, com um custo astronômico de 1,5 bilhão de dólares, representando 10% do PIB brasileiro, era a única opção? Imaginem se, ao invés disso, a capital fosse transferida para uma cidade já existente, como Goiânia, que, além de estar no coração do Brasil, tinha apenas 56 mil habitantes na época. Certamente, isso custaria somente uma fração do que foi investido em Brasília.

Para mim, Juscelino insistiu na ideia de Brasília como um símbolo de modernidade e progresso para sua campanha. Uma cidade planejada num formato de cruz (sim, gente, desculpa decepcionar todos vocês, mas Brasília não foi pensada num formato de avião), com jardins monumentais e prédios esculturais projetados pelo aclamado Oscar Niemeyer. Era o sonho megalomaníaco de JK ganhando vida.

Mas, e se esse sonho tivesse sido direcionado para o espaço? Imagine JK canalizando sua ambição para o Programa Espacial. Isso se alinharia perfeitamente com sua visão de progresso e modernidade. Seria a fronteira final da humanidade, um desafio inigualável, e que já contava com o apoio entusiasmado da população brasileira. E, o mais importante, colocaria JK não só nos livros de história do Brasil, mas do mundo inteiro.

Assim, meus amigos, acredito ter conseguido um argumento forte para repensar o legado de JK. Talvez, nessa nossa realidade alternativa, se Brasília desse lugar ao Programa Espacial, aquele 1,5 bilhão de dólares a mais poderia ser o impulso que faltava para o Brasil se lançar de verdade na corrida espacial.

O texto, narração e direção deste episódio foram feitos por mim, o Pena.

Vozes:

Ada Rogato por Jujuba

Lacerda por Marcelo Guaxinim

Jayme por Lennon

Zé por Fencas

Ivo Lopes por Felipe Queiroz

Vozes extras por Diogo Paschoal

Consultoria histórica por Willian Spengler, CA e Fencas.

Consultoria técnica por Lennon

Revisão por Sil Perez

Edição e mixagem por Felipe Reis.

Vinheta por Vitor Moreira

E a distribuição é do portal Deviante.

Música: Impact Lento – Kevin MacLeod (incompetech.com)
Licenciado sob Creative Commons: By Attribution 3.0
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