Quando eu falo “vulcão” você pensa no que?

Eu, pessoalmente, penso numa montanha que cospe lava.

E, felizmente, essa é uma palavra que o mundo científico e o mundo coloquial concordam que significa isso mesmo. Mas vamos aqui, de forma só um pouquinho mais precisa, falar que o vulcão é por onde escapam partículas quentes, gases e magma. Magma é rocha fundida em subsuperfície, e lava é essa rocha derretida quando está escorrendo na superfície.

E daí, vem aquela fala de que vulcões só existem nas bordas de placas tectônicas, como no Japão, mas essa parte está incompleta. Existem vulcões nessas bordas, claro, mas também existem vulcões onde a crosta da Terra é mais fina, regiões chamadas de caldeiras. O parque de Yellowstone nos Estados Unidos é um bem famoso. Basta essa caldeira explodir, que tenhamos um vulcão. E também existem vulcões em Hotspots, como o Havaí, em que a placa tectônica vai se deslocando, mas o vulcanismo fica ancorado ali, então você ganha uma cadeia de vulcões como um rastro da placa tectônica.

Só deixando claro para todos os envolvidos que esse texto assume que você, leitor, sabe o que é tectonismo e vulcanismo. Se você não sabe, dê uma olhada no SciCast #429, sobre placas, vulcões e geologia num geral.

Então peraí… Quer dizer que pode ter vulcão no Brasil?!

Não só pode, como meio que tem!

Mas diferente de quem vive perto do Anak Krakatau (Vulcão que sobrou no Krakatoa, na Indonésia), você não precisa ter medo da erupção dos vulcões brasileiros. 

O Brasil tem algumas formações rochosas de origem tectônica com mais de 150 milhões de anos. A Serra do Mar existe por conta do intenso tectonismo que separou o Brasil da África. E a famosa Ilhabela em São Sebastião, no sudeste do país, é um vulcão vestigial desse processo. Sabemos disso por conta do tipo de rocha específica de lava cristalizada, que é diferente das rochas no entorno de Ilhabela.

Em ilhas mais de longe da costa, e portanto mais perto do meio do Atlântico, você também encontra vulcões. Como o Morro do Pico, em Fernando de Noronha, a 370km de Natal. E o conjunto Trindade e Martim Vaz (a 1100 km de distância do Espírito Santo), que são formações do Pleistoceno, entre 2,5 milhões e 11,7 mil anos atrás, que eram inclusive uma importante parte da história do território naval português e, consequentemente brasileiro.

Mas esses vulcões longe da costa não são tão legais. Tem vulcão por aqui?

Sim e não? Temos caldeiras, né? Poços de Caldas é uma cidade famosa por suas águas sulfurosas e termais que são aquecidas debaixo da terra. Essa região do sul de Minas Gerais, o tal Arco do Rio Doce, teve bastante ação de vulcanismo uns 600 milhões de anos atrás, quando o Brasil se chocou com o Chile e subiram os Andes. E hoje em dia é uma caldeira vulcânica que não corre o risco de explodir nem nada. Afinal, caldeiras são regiões em que um vulcão explodiu, a terra ali colapsou numa cratera e acaba que a crosta é mais fina, então o calor do magma chega até a superfície. Também achei informações conectando Poços de Caldas ao alinhamento com Cabo-Frio (no Rio de Janeiro), alinhamento que possui uma composição de rocha com muita sílica.

Entre o Mato Grosso e o Pará, foi encontrada uma das maiores e mais antigas caldeiras vulcânicas do mundo, com 55 mil quilômetros quadrados e com ações vulcânicas registradas em três períodos: 2 bilhões; 1,88 bilhões e 1,78 bilhões de anos atrás. Foi nomeado de Cráton Amazônico e é anterior ao aparecimento de criaturas fotossintetizantes no planeta, então ele fica abaixo da camada oxidada que recobre o mundo todo. Andando lá, por hoje, parece uma cratera mesmo, porque quando os gases e partículas foram expelidos, a parte de cima colapsou. É importante estudar, pois mostra um registro importantíssimo da história da Terra.

Em 2020 um projeto de podcast dos alunos da Unicamp, chamado Magmacast, conversou com professores especializados em vulcanismo e tectonismo. Alguns vulcões que eu falei aqui são melhor descritos por lá. O episódio 7, de setembro de 2020 é bem sobre esses vulcões brasileiros.

Mas o que eu quero dizer com tudo isso é que: não, não precisa ter medo de vulcão no Brasil. Mas sim, eles existem por aqui e são pouco estudados. Seria legal se houvesse mais pesquisa no assunto, afinal, mesmo o Brasil estando no meio da placa tectônica da América do Sul, quando tem terremoto em outro lugar do mundo, a gente acaba sentindo aqui. Mas por conta do mito de que “não tem terremoto nem vulcão no Brasil” as pesquisas no assunto são raras e esparsas.

Espero que saber um pouquinho dos nossos cuspidores de lava tenha feito você querer dar uma pesquisada no assunto!