A história da humanidade, desde o seu princípio, é pautada por guerras, massacres e genocídios. Esses ocorreram por diversas motivações, de expansionismo territorial a razões religiosas. Com esse passado sangrento, muitas vidas foram ceifadas, pessoas escravizadas, e todo tipo de vilania macabra realizou-se durante milênios.

Como não lembrar dos horrores da segunda guerra mundial, na qual um ditador insano realizou seu cruel plano de poder, gerando a morte de milhões de judeus com a sua chamada solução final e seus campos de extermínio.

Eventos históricos como esse nos fazem pensar sobre os limites da racionalidade humana e sobre até que ponto outros seres semelhantes a nós, podem realizar atos tão cruéis, inimagináveis para a maior parte da população racional.

Conforme o tempo passou, os seres humanos vislumbraram a necessidade da criação de alguns regulamentos, para que as pessoas pudessem viver em sociedade e tivessem alguns paradigmas assegurados para a sua sobrevivência.  Com isso, criaram-se leis, tratados e declarações estabelecendo limites sobre o que as pessoas podem ou não fazer na sua convivência, em que todos cedem um pouco de sua liberdade para o Estado e, com isso, podem ter os seus direitos respeitados.

Com alguns conceitos pacificados, surgem outros tipos de discussão importantes para o desenvolvimento da sociedade, e um dos pontos centrais é baseado na questão de até onde se pode ir no tocante ao compartilhamento de nossas opiniões.  Essa questão é muito importante pois afeta diariamente a vida das pessoas, ainda mais em um contexto de mundo super conectado e baseado no compartilhamento de informações instantâneo das redes sociais.

Basta uma rápida análise de qualquer caixa de comentários, como no facebook ou sites de noticia, para perceber que as pessoas, por muitas vezes têm posicionamentos reacionários, violentos e que são usados para ofender e atacar pessoas com ideias diferentes, ou mesmo espalhar mentiras para fortalecer um tipo de ideologia. Esse tipo de conduta intolerante, aparece com frequência e, nos tempos atuais, se demonstra como um crescente problema que envolve as comunicações modernas.

Isso gera um questionamento sobre se, baseado no direito de livre expressão, o ambiente democrático deve aceitar discursos autoritários e intolerantes. Com isso, encontramos algumas defesas pontuais alegando que a liberdade de expressão é um direito constitucional e, por esse motivo, deve ser irrestrita de modo que cada pessoa deveria poder defender as suas ideias, não importando se elas possam causar algum dano à coletividade.

Por mais que essa ideia, em uma análise superficial possa interessar a algumas pessoas, podemos saber que os resultados práticos de uma liberdade de expressão irrestrita certamente levariam a sociedade a um estado bárbaro de destruição e caos completo no qual nada se sustentaria por tempo suficiente.

Uma democracia em que ninguém é responsabilizado pelo que fala e tudo é uma questão de opinião faz com que qualquer discurso seja relativizado e, por esse motivo, as pessoas não saberiam em quais informações seguras poderiam se apoiar.

O mesmo pode ser dito sobre discursos de ódio que oprimem e falam contra a existência de outras pessoas, como o do já citado nazismo, ou narrativas imbuídas de preconceito e discriminação, que já não cabem mais nos discursos atuais. Por esse motivo encontramos respaldo na legislação nacional e internacional, que estabelecem limites quanto a legalidade de certos discursos e opiniões públicas, incluindo, o compartilhamento de noticias falsas.

Com esses argumentos podemos concluir que tolerar os intolerantes apenas leva à destruição da própria tolerância, visto que discursos nocivos não têm o costume de aceitar o contraditório, tentando destruir e apagar outras vozes, seja fazendo isso com violência física ou mesmo com a queima de livros.

Por esse motivo, e mesmo que pareça paradoxal, precisamos, sim, ser intolerantes contra os intolerantes, pois vivemos em tempos de progresso, e narrativas preconceituosas ou que ferem o direito de existir de outros povos não podem estar no mesmo local de pessoas que prezam pelo direito à vida e pelos Direitos Humanos.

Com o aparecimento de discursos de intolerância, que caso não sejam combatidos podem destruir a tolerância, encontramos cada vez mais a necessidade de se debater sobre o tema, e buscar adequar as nossas condutas para sempre pensar no bem da coletividade e das pessoas menos favorecidas. Com isso, e no combate as noticias falsas, discursos de ódio e de ideologias criminosas, o mundo será um lugar melhor de se viver, para que as futuras gerações possam se orgulhar de uma coletividade com mais tolerância e respeito as diferenças.