Bom dia, boa tarde e boa noite queridos ouvintes sejam todos muito bem vindos a mais um Spiiiiiiiiin de Notícias, o seu giro diário de informações científicas… em escala sub-atômica. Meu nome é Isabela Fontanella e hoje, dia 5 Driadan do calendário Dekatrian, mais conhecido como dia 31 de março falaremos de economia.

No programa de hoje: carta aberta assinada por mais de 500 economistas e pesquisasores traz números nefastos do impacto da pandemia sobre a economia e enfatiza que medidas sanitárias também são medidas de estímulo econômico.

Se você é ouvinte assíduo aqui do Spin, talvez se lembre que no Spin 927 eu falei sobre como um estudo sobre a pandemia de gripe espanhola em 1918 mostrou que locais que impuseram medidas de distanciamento social, reduziram mortes e se recuperaram mais rápido dos efeitos econômicos negativos. Os dados da pandemia de covid-19 estão corroborando esta ideia, mas claramente o governo federal brasileiro escolhe ignorar esse assim como todos os outros dados científicos.

Em resposta ao caos, um grupo de economistas e pesquisadores assinou uma carta aberta chamada de “O País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo — Carta Aberta à Sociedade Referente a Medidas de Combate à Pandemia” trazendo em números os impactos da pandemia sobre a economia brasileira e mostrando que discurso do presidente sobre “abrir a economia” é na verdade um falso dilema sobre salvar vidas e garantir o sustento da população vulnerável.

O que já está sendo provado em todo mundo é que as melhores medidas de estímulo econômico nesta altura, são na verdade as medidas sanitárias de combate à Covid-19. A carta chega a ser redundante a listar como medidas sugeridas, o que todos nós já sabemos: A necessidade de acelerar a vacinação, negociar com todos os laboratórios que tem vacinas cientificamente aprovadas, promover políticas públicas que incentivem o uso de máscaras, ampliar medidas de distanciamento social (com apoio do governo federal) e a coordenação de políticas pelo ministério da saúde.

Outras recomendações incluem a manutenção dos auxílios, mas com uma reforma do sistema de proteção social além de estímulos econômicos voltados para pequenas e médias empresas, cujos impactos já foram comprovados em estudos. No final, ainda fazem um apelo por uma liderança que nos tire dessa crise, o que tá bem difícil no cenário que estamos vivendo.

Mas, o que eu gostaria de destacar são números relevantes sobre o estado da economia brasileira:

O PIB caiu 4,1% em 2020, e a expectativa também é de queda para o 1o trimestre de 2021. Na verdade, as projeções mostram que com a pandemia fora de controle, a expectativa é negativa para além do meio do ano.

A taxa de desemprego oficial que está por volta de 14% na verdade mascara o número de desalentados que cresceu 5,5 milhões em 2020. Desalentados são aqueles que desistiram de procurar emprego por não acreditarem que conseguirão uma recolocação no mercado, e estas pessoas ficam de fora do cálculo de desemprego no Brasil. Logo 14% é o piso e não o número real de desempregados.

Outro número impressionante é sobre a redução na arrecadação fiscal: apenas no âmbito federal a queda de arrecadação em 2020 (em comparação com 2019) foi de 6,9%, o que totalizou R$ 58 bilhões. As projeções para 2021 são de perdas no valor de R$ 131,4 bilhões – isso se a economia se recuperar no segundo semestre.

E com o maior risco de contágio, há mais incertezas sociais e econômicas, o que por sua vez desestimula o consumo das famílias – alimentando um ciclo vicioso de lenta recuperação econômica.

Para piorar o cenário de recuperação temos a lentidão na vacinação – muito causada pela falta de recursos designados pelo governo federal. No orçamento emergencial para contenção da pandemia, o governo Bolsonaro dedicou apenas R$22 bilhões para compra de vacinas, menos de 7% dos R$327 bilhões dedicados a programas assistenciais. E com a pandemia piorando ainda mais, enfrentamos a necessidade de manter estes programas sociais por períodos mais longos.

A saída parece óbvia: acelerar a vacinação e conter o espalhamento do vírus. E a carta coloca o dedo na ferida da negligência do ministério da saúde – somos apenas o 45o país no ranking de doses aplicadas por habitante. E para quem acha que o investimento em vacinas é caro, eu destaco este trecho da carta:

A relação benefício custo da vacina é da ordem de seis vezes para cada real gasto na aquisição e aplicação. A insuficiente oferta de vacinas não se deve ao seu elevado curso, nem à falta de recursos, mas à falta de prioridade”.

Se você é do time que acredita que não temos logística para aplicar tantas doses tão rápido, vale lembrar que em 1992 o Brasil vacinou 48 milhões de crianças em apenas 1 mês. (eu inclusa). O sistema de vacinação está aí, o governo só não usa seus recursos corretamente.

E depois tantos números e saídas que parecem óbvias, não precisa ser economistas para chegar na mesma conclusão do documento: “Não é razoável esperar a recuperação da atividade econômica com uma pandemia descontrolada.”

Por hoje é só galera, vocês encontram o link para o documento citado aqui e o Spin 927 no post deste episódio. É importante lembrar que esse podcast só existe por conta do apoio dos nossos lindos padrinhos e madrinhas! Para se tornar um deles, basta contribuir para o patronato do SciCast, no Patreon, Padrim OU no PicPay. Um beijo e até amanhã!

Referências:

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/03/o-pais-exige-respeito-a-vida-necessita-da-ciencia-e-do-bom-governo.shtml