Olá, queridos ouvintes e sejam todos muito bem-vindos a mais Spin de Notícias, o seu giro diário de informações científicas… em escala sub-atômica. Meu nome é Isabela Fontanella e hoje, dia 22 Gaian do calendário Dekatrian mais conhecido como dia 10/07 do calendário gregoriano falaremos de Economia.

E hoje vou comentar um Relatório do FMI com projeção de que vacinar 60% da população mundial no próximo ano custaria 50 bilhões de dólares e renderia um retorno de mais de 9 trilhões nos próximos 4 anos.

Logo na introdução desse relatório do FMI, a gente percebe um pilar importante que eu já citei aqui antes que é a ideia de que políticas sanitárias de combate à pandemia também são políticas econômicas, porque a crise econômica não acaba enquanto a pandemia não estiver sob controle.

A proposta do relatório é listar cerca de 10 medidas sanitárias que teriam um enorme impacto no controle da pandemia, e consequentemente na economia mundial. Dentre elas, as mais ambiciosas (e também mais importantes) no meu ponto de vista são a de distribuição mais eficiente dos insumos para produção de vacinas, testagem em massa e a vacinação de 60% da população mundial nos próximos 12 meses.

Esse número de 60% considera que as vacinas já estocadas mais a capacidade atual de produção chegaria a cerca de 6 bilhões de doses ou mais 3.6 bilhões de pessoas vacinas (contanto duas doses) e também considera muitas doações para a COVAX que é uma coalização com a OMS para comprar e distribuir vacinas pelos 91 países mais pobres do mundo.

Essa doação para a COVAX é peça crucial porque enquanto esses países não estiverem com boa cobertura vacinal, o risco de mutações é alto e todo o investimento dos países mais ricos em vacinas pode ir por água abaixo.

Outro ponto importante sobre apoiar os países mais pobres na questão da vacina esté que apesar do crescimento mundial coordenado em 2021 – as projeções a partir de 2022 são de muitas desigualdades nos níveis de crescimento se compararmos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Falando agora do dinheiro mesmo, o relatório propõe algumas formas de financiar esses US$ 50 bilhões que eu falei e mostra alguns resultados esperados. Então eu me baseei nestes números e em alguns dados de uma reportagem da The Economist para simular uns cálculos para vocês:

As medidas custariam no total US$ 50 bilhões e resultariam em US$ 9 trilhões em ganhos econômicos nos próximo 4 anos. Isso significa um retorno de 17.900% até 2025 ou 266,28% ao ano. (PS.: Estes investimentos precisariam ser feitos AGORA, mas já percebmos pela reunião do G& em junho que não vai rolar.)

Uma outra projeção do FMI que prevê que 40% desses US$ 9 trilhões (ou 3.6 trilhões) iria para os países desenvolvidos por conta de aumento na demanda dos bens de consumo que eles produzem. A reabertura da economia no geral geraria mais US$ 1 trilhão extra através de tributos. Logo, os países mais ricos teriam um resultado total de US$4.6 trilhões só para eles. Se aportassem os US$ 50 bilhões necessários hoje, isso daria um retorno de mais de 9.000% em 4 anos ou 210% ao ano. Para fins de perspectiva: 50 bilhões equivale a 0,13% do PIB do G7.

Cara, eu trabalho com investimentos e digo: não tem nada melhor. A reportagem da The Economist que eu citei também destaca que se o G7 fizesse esse e investimento seria também uma sinalização diplomática muito forte. É uma propaganda dos valores democráticos e de livre comércio – em contraste com China e Russia. Além da chance do governo Biden de reconstruir pontes destruídas no último governo.

Mas não é isso que a gente tem visto: o Reino Unido comprou cinco vezes mais doses do que precisa, mas só sinalizou a doação de 1 bilhão delas. Os EUA têm estoque de Astrazenica/Oxford parado porque o FDA não liberou, mas só sinalizou a doação de 500 milhões de doses. A reunião de junho do G7 foi para posteridade, porque saiu muito pouca coisa concreta – exatamente o contrário do que o relatório do FMI pede – que são investimentos e doações de vacina AGORA.

A gente já falou sobre isso no Contrafactual 129 sobre a dificuldade de uma coordenação global e é isso que estamos vendo. Nem mesmo quando as projeções demonstram ganhos econômicos maravilhosos, os países são capazes de se coordenar pelo bem comum do planeta.

E por hoje é só. Os links para o relatório do FMI e a coluna da The Economist estão na postagem deste episódio no site do Portal Deviante, onde vocês também podem deixar seus comentários, críticas, sugestões e receitas de beterraba para o Tarik. Lembro que esse podcast, assim como toda a família de podcasts do Portal Deviante só é possível acontecer por conta do seu apoio no patronato do SciCast, no Patreon, Padrim e PicPay. Lavem as mãos, usem máscara, um beijo para todos e até amanhã!

 

Referências:

The Economist, The West is passing up the opportunity of the century

Fundo Monetário Internacional, A Proposal to End the COVID 19 Pandemic