— Onde você estava? – gritou Costelinha quando viu seu colega Prego passando pela entrada da sala.

— Eu precisava ir no banheiro – respondeu Prego, ficando um pouco vermelho.

— Banheiro? Sério? A gente aqui com a mão na massa, fazendo tudo sozinho e você foi no banheiro?!

— Desculpa cara, a natureza chamou. Meu intestino não tem noção que tá na hora do serviço.

— Sério, isso é inacreditável. Depois de tantas reuniões, na hora da execução eu posso perder tudo porque o idiota do intestino do Prego não sabe esperar.

— Calma, Costela – disse Caixa D’Água com um tom amenizador – vai dar tudo certo.

— Como você quer que eu fique calmo? Esse trabalho é caso de vida ou morte para mim, cara. Minha mãe está doente, preciso pagar os remédios dela, nada pode dar errado hoje. – rosnou Costelinha.

— Vamos fazer assim: o Prego já está de volta. Você entrega a sua tarefa para ele e vai tomar um café, que tal? A cafeteira da sala aqui do lado estava ligada, senta lá um minuto e descansa. Você está com uma cara que nem não dormiu direito. – sugeriu Caixa d’Água.

— Realmente eu não dormi bem na noite passada, acho que fiquei nervoso com tudo que tem para fazer hoje. Fiquei repassando o plano pela cabeça, tendo certeza de que não tinha nenhum furo, para a gente arrebentar nesse serviço.

— E você vai ver que vai ficar tudo bem, a gente ensaiou tudo várias vezes, ficou até tarde nas reuniões, todo mundo já tinha ido dormir e a gente continuava lá, planejando. Não tem furo – garantiu Prego.

— Ok, vocês têm razão, vou tomar um cafezinho para acordar e relaxar. Daqui uns 5 minutos eu volto.

Costelinha saiu da sala, deixando o equipamento na mesa para Prego continuar. Depois que ele já havia saído, Caixa D’Água chama Prego e sussurra:

— Pô cara, banheiro bem na hora H foi complicado mesmo. Eu entendo porque o Costela tá nervoso.

— Mas eu já disse que a natureza chamou, você queria que eu fizesse o quê? Você sabe que esse serviço é delicado. A gente não tem hora para sair do trampo hoje. Tomara que seja rápido, mas nem sempre é, às vezes dá imprevisto, você sabe. Imagina se aperta bem na van de volta para casa? Achei melhor ir no banheiro.

— Nem me fale – completou Caixa D’Água – aquele último trabalho na joalheria acabou levando o dia quase inteiro e no final o pagamento ficou bem mais ou menos. Não foi tão produtivo quanto a gente achou que ia ser.

— Pois é, mas naquele dia a gente estava com o tonto do Edgar, não era o Costela. O Costela é bem mais profissional, focado no trabalho, quer resolver as coisas logo.

Caixa D’Água não respondeu pois sua tarefa exigiu sua atenção imediata.

Depois de uns 2 minutos, Costela retorna à sala:

— E aí? Resolveu o problema?

— Do meu lado só mais uns segundos e tudo começa a rodar – diz Caixa D’Água.

— Eu já estou pronto para quando estiver tudo resolvido. – completa Prego.

— Perfeito, vou então conferir para ver se está tudo certo lá na sala de reunião.

Costela sai e caminha em direção à sala em questão, abre a porta lentamente. As pessoas lá dentro se encolhem um pouco ao vê-lo na porta, mas ele é rápido em acalmá-las.

— Podem ficar tranquilos, já está quase acabando lá em baixo e vamos poder resolver isso. De uma vez por todas. Podem relaxar, vai dar tudo certo.

Mas ninguém pareceu relaxar com essa frase.

Lá embaixo, Caixa D’Água e Prego acertavam os últimos detalhes:

— 3, 2, 1… pronto. Agora é só guardar tudo, passar lá em cima e ir embora.

— Que lindo, olha! Tudo colorido, bem organizado… melhor que na joalheria. – Comentou Prego.

— Tá mesmo, aquela gente lá era muito desorganizada, tinha diamante com safira, um cofre velho, um monte de fio. Aqui foi tudo clean, tudo simples.

Costelinha volta, vê a movimentação dos colegas e finalmente relaxa os ombros.

— O pessoal lá em cima tá meio tenso, compreensível, vamos acabar com isso logo e todo mundo vai para casa.

Começaram a empacotar tudo, cada um com sua bolsa. Estavam meio pesadas, mas valeria a pena no final. Conferiram para ver se não tinham deixado nada para trás, deram mais uma olhada no cofre, agora já vazio e Prego diz:

— Costela, vai lá na sala de reunião soltar os reféns que a gente vai levando tudo para a van. A natureza tá me chamando de novo, cara.

— Pô, Prego, assim não dá cara. Vou correndo lá em cima então. Peço para eles esperarem uns 5 minutos antes de sair? Minto e digo que a gente tá de olho.

— É, cinco tá bom, a essa altura a gente já vai estar na estrada e a polícia vai achar que a gente ainda tá aqui dentro – diz Caixa D’Água.

— Esse sim foi um bom plano e um bom serviço – completou Costelinha já andando em direção aos reféns. Mil vezes melhor que naquela joalheria.