Bom dia, boa tarde ou boa noite queridos leitores sejam todas e todos muito bem-vindos a mais um Spiiiiiiiiin de Notícias, em forma de texto. Eu sou Isabela Fontanella e hoje falaremos sobre economia.

E no programa de hoje: Mesmo com crescimento baixo, juros altos, inflação em dois dígitos e desemprego nas alturas, 5% da população acreditam que a economia está indo bem. Quem são essas pessoas? Onde vivem? Do que se alimentam? Hoje no Globo Rep… Ih não, hoje no Spin de notícias.

Esse spin foi inspirado por uma reportagem da BBC Brasil, que por sua vez usou dados de uma pesquisa eleitoral conduzida pelo BTG Pactual e FSB Pesquisa. Eu não estou aqui para falar de cenário eleitoral, mas esta pesquisa também fez perguntas sobre a situação do país e é de onde saíram os 5% de brasileiros felizes com a atual economia que eu citei na abertura do programa.

Além de fazer perguntas sobre a avaliação geral do governo, essa pesquisa tem uma questão interessante que é o cruzamento de respostas, isto é, você consegue ver como um grupo respondeu outras questões e tirar conclusões daí. E é isso que eu vim fazer hoje.

A principal pergunta sobre economia da pesquisa foi a seguinte: “Considerando sua vida pessoal, a vida da sua família, de seus amigos, pelo que você sabe ou ouviu falar, você diria que o Brasil:” e 4 opções de resposta: Está vivendo um bom momento econômico / Está em crise econômica, mas conseguindo superar / Está em crise econômica, mas com dificuldade de superar / NS ou NR

62% respondeu que está em crise e com dificuldade de superar, 32% disse que está em crise, mas superando, 1% NS e 5% disseram que tá tudo bem e que estamos em um bom momento econômico.

Não é estranho que haja um determinado grupo satisfeito com a economia quando a maioria discorda, porque normalmente há quem se beneficia de determinada política pública (ou da falta dela). Mas no caso de 2022 os efeitos da economia são bastante difundidos pelas camadas da população: a inflação (especialmente de alimentos) afeta a classe média e baixa, a falta de crescimento afeta as classes mais altas e que possuem capital produtivo investido e o desemprego, afeta os menos privilegiados. Então, o que esses 5% estão vendo que os 95% não estão?

Parte disso pode ser entendido com o cruzamento desse resposta com outra sobre quem seria o responsável pela situação econômica. Na resposta geral, 42% das pessoas culparam o governo atual. Mas quando olhamos as pessoas favoráveis ao governo Bolsonaro, 44% colocam a culpa nos governos passados e outros 34% citam a pandemia.

Isso indica um discurso muito alinhado ao do presidente, que vimos especialmente forte em 2020. Essa repetição quase verbatim discurso oficial pertence a um público que os cientistas sociais chamam de “núcleo duro” de eleitores. São eleitores alinhados ideologicamente ao presidente, reproduzem seus argumentos e por consequência encontram a culpa em outros fatores além do governo federal.

No cenário de 2022, em que as causas da inflação e recessão são realmente múltiplas, essas pessoas apontam para – por exemplo – o fechamento da economia em 2020 como causa do desemprego e falta de crescimento, para a guerra na Ucrânia como causa para a inflação, e assim vai.

Um outro ponto que podemos derivar dessas respostas é que a questão econômica vai ser pauta forte da eleição de outubro e pode ser ainda mais polarizada e “ideologizada” do que em anos anteriores. Todos vão querem apontar os culpados do outro lado do palanque.

Além disso, com a economia tendo números tão ruins no ano da eleição, isso impacta claramente as chances de crescimento orgânico do presidente nas pesquisas. Ano passado, quando o país teve uma leve recuperação, Bolsonaro exultou como tudo estava caminhando de forma maravilhosa e etc, e agora ele não tem esse argumento para dar. Mas seus apoiadores nem precisam disso, porque o discurso é que a economia poderia estar pior se não fossem as medidas do governo (que no caso são as não medidas do governo, é isso?).

Bem, continuamos observando os números tanto das pesquisas quanto da economia real e veremos onde vão dar não só os discursos, mas também os resultados.

Como eu comentei, os links da reportagem e da pesquisa estão lá no post no Portal Deviante onde você também pode deixar suas dúvidas, comentários e reclamações! Vocês também podem conversar diretamente comigo pelo instagram no @isa.fontanella onde eu escrevo frequentemente sobre investimentos. Importante lembrar que este texto e todos os podcasts da família Deviante só são possíveis por conta dos nossos lindos padrinhos e madrinhas. Para se tornar parte dessa família de amor e ciência, contribua pelo Patreon, Padrim ou PicPay.

 

Referências

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61338819

https://static.btgpactual.com/media/pesquisa-btg-fsb-25abr2022.pdf