Neste livro de estreia de Anelise Chen, esporte, vitória e derrota se entrelaçam em uma obra diferente: é um emaranhado de ficção (com possíveis toques autobiográficos), fluxo de pensamento, e ensaios sobre o esporte e a vida da personagem principal Athena Chen.

Athena Chen é filha de imigrantes taiwaneses, doutoranda em Nova York que já estourou todos os prazos para entregar sua tese, mas simplesmente não consegue acabar. Logo no começo do livro, Chen recebe a notícia que seu amigo e ex-namorado dos tempos de graduação, Paul, cometeu suicídio. Ele era o mais brilhante de todos, tinha muitas perspectivas e a morte do amigo impacta Athena por toda a obra. Ela passa seus dias entre escritos aleatórios dos esportes, procrastinações diversas e análises sobre sua vida e personalidade.

Quanto mais reflete sobre o que é vencer e fracassar no esporte, Chen repensa sua própria vida e sua sensação constante de fracasso. Ela decide revisitar seus dias de nadadora semiprofissional, na tentativa de se engajar com sua tese mas não consegue se lembrar porque começou a nadar e muito menos porque parou. Depois de estourar todos os prazos da universidade, ela perde a bolsa e é obrigada a voltar a morar com os pais na Califórnia. A nova rotina em nada ajuda sua escrita, sua compreensão da morte de Paul ou seu relacionamento com si mesma. Ela parece presa em um infinito looping de pequenos fracassos.

Confesso que o fato de não haver uma narrativa linear nem cronológica me incomoda como leitora. Me senti colando cacos narrativos para entender a personagem e o enredo central. Certamente o estilo da autora (que se conecta diretamente com a confusão mental que envolve a personagem) não é para todos os leitores. Outro ponto que me desagradou é que a narrativa se prova muito simples e, eu diria, até banal.

Para mim, o ponto alto está nas partes mais ensaísticas da obra, que se dedicam às ideias de sucesso e fracasso. Para isso, a autora lança mão de histórias reais do esporte, informações sobre atletas famosos ou relatos de desistências que fizeram seus protagonistas desperecerem dos anais da História.

Em uma das passagens mais marcantes, a personagem chama atenção para o fato que, nos esportes, desistir é pior que trapacear. Trapacear seria mais uma prova do desejo incontrolável de vencer – um doa fatores mais valorizados em competições esportivas. Por outro lado, desistir não se encaixa em absolutamente nada do que se espera de um atleta, é o maior sinal de fraqueza. Desta forma, desistir é o ato mais antidesportivo que se pode cometer.

Em ano de Olimpíada pandêmica, este lançamento da editora Todavia faz boas provocações sobre os vagos conceitos de vitória, derrota, fracasso e desistência para muito além dos esportes. O que é realmente vencer? Por que isso importa tanto? Fracassar é mesmo tão ruim quanto fazem parecer? Desistir é mesmo a maior derrota de se pode ter? E talvez o mais importante: o que é vitória/ derrota para você?