Causada pela bactéria treponema pallidum, a Sífilis ou lues, como também é conhecida, é considerada uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) capaz de se espalhar pelo corpo humano através de pequenos cortes ou por entre as mucosas. Possui estágios e sintomas como manchas no corpo que não coçam, febre, dores de cabeça, ínguas etc.

Essa doença é conhecida desde o século XV e é tratada desde 1943 pela penicilina, que ainda continua sendo o antibiótico mais eficaz no tratamento. Os problemas de saúde dessa infecção atingiram tanto países desenvolvidos quanto os subdesenvolvidos, devido às formas de transmissão e os comportamentos da sociedade.

No começo a doença recebeu várias denominações, como Mal de Nápoles e Mal Francês. O termo Sífilis foi introduzido em 1530 por Girolamo Fracastoro, que foi um médico, matemático, geógrafo e poeta italiano. Porém, o termo só se consolidou no século XVIII.

Nos primeiros anos da epidemia, os quadros clínicos da infecção eram graves e pouco se sabia como enfrenta-la. Ao ser constatada a transmissão por relações sexuais, várias teorias surgiram para tentar explicar o aparecimento dessa doença, sendo até considerada castigo divino. O primeiro medicamento para sífilis foi o mercúrio, sendo utilizado por volta de 450 anos até o século XX.

Atualmente sabemos que é uma infecção curável e exclusiva dos seres humanos. A transmissão costuma ocorrer através da relação sexual (via oral, vaginal e anal) sem uso de preservativos com uma outra pessoa já infectada ou o contágio pode ser feito da gestante com para a criança durante a gestação ou até durante o parto, o que é chamado de sífilis congênita.

Na sífilis congênita que é transmitida da gestante para o bebê, mesmo quando não há má-formação ou aborto, nos primeiros meses de vida os sintomas da sífilis não tratada na gestação aparecem na criança através de pneumonia, feridas no corpo, alteração nos ossos, no desenvolvimento mental, cegueira etc.

A transmissão pode ser transplacentária ou durante o nascimento quando existe contato com as lesões infecciosas no canal do parto. O feto pode ser infectado desde a nona e décima semana gestacional. Sendo maior o risco em mulheres que estão nos estágios primários e secundários da Sífilis. O ideal é que o tratamento seja feito de forma eficaz até o quarto mês de gravidez.

A detecção da Sífilis é de extrema importância durante o pré-natal das grávidas juntamente com sua parceria sexual, já que além do risco para a mesma, se a bactéria for transmitida durante a gestação pode acarretar em um aborto ou graves sequelas para o bebê. Quando uma gestante testa positivo, é necessário cuidado adequado, integrado e longitudinal durante toda a gestação, parto e puerpério para um desfecho favorável para a saúde tanto da mulher quanto da criança.

O diagnóstico pode ser confirmado através de exame de sangue ou amostras de material da lesão quando já existe uma ferida. Em mulheres que desejam engravidar, o ideal é fazer o exame antes da gravidez.

 

A Sífilis possui quatro estágios e os sintomas variam em cada fase da doença. A divisão consiste em:

Sífilis primária: Apresenta ferida (cancro duro) no local de entrada da bactéria (vulva, colo do útero, boca, pênis, ânus, entre outros locais da pele), que aparece entre 10 a 90 dias após o contágio. Essa lesão geralmente é única e não coça, não arde, não apresenta secreções e tende a desaparecer sem deixar cicatrizes. Além disso pode apresentar ínguas na virilha, que são caroços.

Sífilis secundária: Manchas podem aparecer pelo corpo e alguns sintomas como febre, mal-estar, dor de cabeça e caroços podem começar a surgir. Isso acontece entre seis semanas e meses após a cicatrização da lesão inicial.

Sífilis latente: É considerada a fase em que não há sintomas aparentes e pode ser dividida de acordo com o tempo de infecção em sífilis latente recente (menos de dois anos de contágio) e sífilis latente tardia (mais de dois anos de contágio). Essa fase da doença varia entre as pessoas e pode ser interrompida ao aparecimento de sintomas da fase secundária ou terciária.

Sífilis terciária: É o último estágio da doença e os sintomas podem aparecer depois de 2 anos ou até em 40 anos após o início da infecção. Nessa fase os sintomas costumam ser lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo provocar a morte.

Imagem descrevendo os sintomas da Sífilis ilustrando com o desenho humano onde os sintomas aparecem no corpo.

Imagem descrevendo os sintomas da Sífilis ilustrando com o desenho humano onde os sintomas aparecem no corpo conforme fases descritas acima. Fonte.

 

Apesar de tudo, o seu tratamento especialmente nas fases iniciais, é considerado relativamente simples e feito com uso de antibiótico. A importância está no diagnóstico e no tratamento da pessoa infectada e sua parceria sexual.

O uso correto e frequente da camisinha (masculina ou feminina) é uma das principais formas de prevenção da Sífilis. Além disso, a testagem rápida vem agregar ao diagnóstico precoce para evitar a transmissão para outras pessoas.

Por ser pouco falada e consequentemente pouco testada, muitas pessoas não buscam diagnóstico e tratamento para a sífilis. Como há períodos em que os sintomas somem, muitas pessoas acham que estão curadas, mas isso não é verdade. Além de tudo isso, mesmo quem já teve e fez todo o tratamento ainda assim está sujeita a adquirir a infecção novamente.

A subnotificação compromete as ações de planejamento em saúde. A presença dessa IST é crescente em populações vulnerabilizadas. Especialmente no período de pandemia, muitas pessoas não fizeram seus exames de rotina por diversos motivos e isso pode prejudicar a contagem para termos melhor noção de quantas pessoas estão infectadas. Por ser um exame que, na maioria das vezes, é necessário no pré-natal de gestantes, é nessa fase que muitas descobrem a doença.

É reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que apesar dos avanços em relação as Infecções Sexualmente Transmissíveis, ainda persistem graves problemas que compromete a plena atenção à saúde das pessoas infectadas com garantia de diagnóstico, tratamento e monitoramento.

Existem muitos desafios a serem superados, tanto no campo científico quanto nas medidas ao combate das IST. No Brasil, a persistência da Sífilis é um problema de saúde pública. Ainda há limite de acesso, o que amplia as desigualdades e impede o controle da sífilis.

A sífilis é desafiadora por apresentar vários tipos de padrões clínicos e ser confundida com outras doenças diferentes, mas é falando sobre essa doença e levando a conscientização da população sobre a importância da prevenção com o uso do preservativo ao longo da vida e possuindo a detecção precoce é que conseguiremos mudar a realidade de tantas pessoas que terão sua vida salva por esses cuidados.

A cura é possível e deve ser acessível através do Sistema Único de Saúde (SUS). Informação é importante e muda a realidade das pessoas. Conversar sobre o assunto e fazer exames com rotina deveria ser algo mais normal e natural na nossa sociedade.

A busca pelo fortalecimento em educação em saúde da população é um dever de todos.

 


Ramos Jr., A. N.. (2022). Persistência da sífilis como desafio para a saúde pública no Brasil: o caminho é fortalecer o SUS, em defesa da democracia e da vida. Cadernos De Saúde Pública, 38(Cad. Saúde Pública, 2022 38(5)). https://doi.org/10.1590/0102-311XPT069022

Neto, B. G.. (2009). A sífilis no século XVI- o impacto de uma nova doença. Arquivo Ciência Saúde ( jul-set; 16(3):127-9). https://repositorio-racs.famerp.br/racs_ol/vol-16-3/IDJ5.pdf