Li uma vez que geólogos(as) são tão bons em inventar histórias que até eles mesmos acabam acreditando nelas e com sua lábia conseguem convencer os homens e mulheres do dinheiro a gastar milhões só pra abrir buracos a céu aberto ou subterrâneos. E que o mais incrível é que ao acaso acabam achando ouro, petróleo, pedras preciosas e minérios simplesmente manipulando uns poucos lápis de cor. É uma definição simplista de alguém que não conhece bem a profissão, mas que de alguma forma indireta conseguem creditar ao geólogo(a) uma qualidade de acertar onde estão os bens industriais que pesquisam, mesmo que associando à sorte.

A realidade é que a Geologia se baseia nos princípios físico-químicos que compõem as rochas e com essas informações consegue prever onde existirão concentrações dos elementos que utilizamos na indústria.Só então convencemos “os homens e mulheres do dinheiro” a abrir os buracos, cuja finalidade é extrair esse minério das rochas. O procedimento é longo, envolve saber descrever as rochas, identificar o possível minério que exista naquela região, determinar concentração e estimar volume de produção. Tudo isso para que todo o desenvolvimento industrial e tecnológico possa continuar avançando. Até mesmo usinas de energia nuclear precisam que o material utilizado para estimular os processos radioativos de geração de energia saiam de algum lugar e esse lugar quem determina são os geólogos(as)!

Essa é apenas uma das áreas de atuação dos profissionais da geologia. Nem todo mundo tem afinidade para trabalho com mineração e é aí que a grande diversidade de possíveis setores de atuação pode conseguir convencer até você, caro leitor e cara leitora, a ser entusiasta dessa profissão.

A geologia é responsável por estudos de impacto ambiental, qualificando e quantificando o quanto um empreendimento, agronegócio, lixão, aterro sanitário, etc podem impactar o meio físico ambiental. Muitas vezes, quando algo precisa ser construído, é necessário um estudo prévio da possibilidade daquela construção causar algum tipo de dano ao meio ambiente, seja por contaminação devido a emissão de material contaminado ou poluído, seja por impacto sonoro que atinja um raio elevado e modifique muito o ecossistema e a vida local, ou também pelo impacto visual, com a derrubada da vegetação nativa para a construção do empreendimento. O geólogo serve para realizar esses estudos e confeccionar um relatório que descreve esses tipos de impactos, além de identificar quais árvores daquela vegetação nativa são protegidas pela lei ambiental e não devem ser derrubadas e sim preservadas e incorporadas ao projeto. Infelizmente, nem sempre as regras são seguidas.

Podemos também atuar na análise da qualidade de águas. A hidrogeologia avalia tanto as águas superficiais: rios, lagos, nascentes, oceanos; como também as águas subterrâneas. O estudo dessas águas nos leva a determinar fontes contaminadoras e também a determinar quais locais podem ser considerados como águas próprias pra consumo, além de também investigar quanto pode ser retirado desses reservatórios sem que seja causado um impacto que acarrete uma seca na localidade ou um rebaixamento do terreno. Isso porque todo aquífero precisa estar em equilíbrio com o balanço hídrico da nossa atmosfera, ou seja, precisa de recargas causadas pelas chuvas. Em períodos mais secos, não se pode utilizar das águas de modo desenfreado, pois isso pode causar uma escassez ainda maior. A qualidade dessas águas costuma ser modificada principalmente por atividades humanas, com lançamento de dejetos e rejeitos em leitos de rios ou com infiltração de líquidos contaminados nos solos, que causam contaminação das águas subterrâneas; essas são as mais difíceis de remediar. Porém, não é somente o ser humano que altera a composição das águas. A sua interação com as rochas também pode modificar sua composição e aquíferos que estejam localizados em contato com rochas ricas em enxofre, por exemplo, que podem de forma natural ser nocivas ao ser humano e, portanto, impróprias para o consumo.

Somos também responsáveis pelas pesquisas de petróleo, o principal combustível fóssil do mundo. Não que estejamos orgulhosos do que o uso desenfreado dele está causando no planeta, mas saber identificar onde encontrá-lo é motivo de orgulho, afinal usamos métodos de propagação de ondas nas rochas e conseguimos interpretar as variações de camadas e onde estão localizados os reservatórios de petróleo e gás natural mesmo a 8.000m de profundidade.

Na área acadêmica temos o desafio de contar a evolução do planeta, desde que fomos uma bola de fogo até as eras de gelo. Dizem que somos um grupo que anda em bando nos acostamentos das estradas, batendo em pedras indefesas com martelos especiais, que só a gente sabe onde comprar. O que não deixa de ser verdade, apesar que hoje sei onde comprar esse martelinho especial, mas o valor já não o torna tão acessível. Descrevemos as danças dos continentes, explicamos como a América do Sul já esteve “colada” na África, como a Índia “correu” para se “bater” e se juntar à Ásia e como a própria África está se “quebrando” na sua porção leste e “expulsando” parte do seu território à própria sorte. Contar todas essas histórias é o maior desafio do(a) geólogo(a), é necessário integrar conhecimento de quase todas as áreas de estudo aprendidas na graduação e talvez por isso muitos digam que aprendemos na verdade a contar histórias mirabolantes, porque para sermos sinceros, elas realmente são mirabolantes!

A geologia é simples quando quer ser, muito complexa em alguns momentos, mas sempre apaixonante. Somos investigadores utilizando pistas para resolver um mistério, pistas que não podemos entrevistar uma testemunha, nossas testemunhas são o meio ambiente, as rochas, as águas, os seres vivos e as análises que realizamos nelas. Para todo entusiasta de um filme ou livro de mistério, que ficava fascinado com as histórias de Sherlock Holmes e afins, fazer parte desse seleto grupo capaz de desvendar mistérios, é sempre um privilégio.


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