Olá amigos, tudo bem com vocês?
Já faz um bom tempo que procuro uma série que aborde de forma divertida a presença dos Algoritmos no nosso dia-a-dia.
Ao longo dessa busca me deparei com:
- Mr.Robot – Que possui bons personagens, mas me parece ser pretensiosa demais ao colocar um monte de alegorias densas no meio de uma história que começou simples.
- Scorpion e CSI Cyber – Que contêm personagens um pouco inverossímeis demais pro meu gosto (mesmo sabendo que o protagonista de Scorpions existe na vida real).
- Numb3rs – Tem o roteiro tecnicamente impecável, mas que derrapa quando tenta investir no drama e na comédia.
Por conta disso, recebi com muita felicidade a sugestão do Deviante André Trapani de assistir Pantheon.
Uma série que, mesmo não sendo perfeita, equilibra tudo que as séries citadas acima têm de melhor, com um pouco mais de tempero Computacional/Neurocientífico.
Irei fazer abaixo um review pessoal de minhas impressões da primeira temporada.
Este review será dividido em 3 seções:
1 – Apresentação dos personagens
2 – Desenvolvimento da história
3 – Conclusão
Também irei listar os acertos, as bolas na trave e os pontos negativos de cada uma das seções.
(Aviso: Todo esse review contém spoilers da primeira temporada, leia por sua conta em risco)
Apresentação dos personagens
Basicamente, Pantheon é uma série de animação que possui a Inteligência Artificial como tema principal. Boa parte da ação gira em torno de dois protagonistas: Maddie Kim e Caspian Keyes, que têm os destinos entrelaçados por conta de uma conspiração que envolve uma grande corporação digital.

Não é preciso ser um Programador ou Neurocientista para entender o enredo. Mas se você for, vai gostar bastante de algumas referências que estão espalhadas durante o decorrer dos acontecimentos.
Acertos: Abordagem inteligente sobre Bullying e Luto
Apesar do Bullying em cima de nerds de ensino médio já ser um clichê, utilizá-lo para unir involuntariamente os dois protagonistas nos primeiros episódios, foi um grande acerto. Além disso, o luto da Maddie também tornou a introdução do conceito de Upload Mental bastante plausível de ser aceita por nós, espectadores.
A comunicação indireta entre Maddie e Caspian serve como fio-base para apresentação de todos os outros personagens e toda essa ligação é feita de forma muito suave e até com bom humor (Justine é uma de minhas personagens preferidas).
Batida na trave: Jantar dos Filósofos
Programadores-prodígio da ficção quase sempre são apresentados resolvendo um problema mal explicado, digitando loucamente um teclado e olhando fixamente para uma tela.

Gif de Homem de terno digitando um teclado e olhando firmemente para tela. Em um momento um de seus braços busca uma xicada de café, revelando um braço falso que continua digitando.
Usar o clássico problema do Jantar dos Filósofos para demonstrar as habilidades cognitivas do jovem Caspian, em uma cena que também mostra a sua tensa relação familiar, foi um grande acerto da série.
Infelizmente esse tipo de citação didática a outros algoritmos clássicos não foi utilizada para apresentar outros personagens hackers que também participam da trama.
Este didatismo técnico é algo que a já citada série Numb3rs faz com muita eficiência, sem tornar a trama monótona.
Ponto negativo: Stephen Holstrom e Ajit Prasad
A representação de Steve Jobs e Mukesh Ambani no seriado me parece ter sido feita de forma muito caricata. Longe de mim defender esses dois bilionários, mas os personagens que os representam possuem pouca sutileza e destoam bastante.

Imagem de Conferência onde a figura de um homem parecido com Steve Jobs é projetado em um grande Telão. Abaixo há outros 2 homens sentados conversando.
Desenvolvimento da História
Após todos os personagens serem devidamente apresentados, a trama se desenvolve. E os grandes dilemas éticos por trás da Inteligência Transferida se entrelaçam com dramas familiares, espionagem até um pouco de ação e suspense.
Acertos: Diversas referências para Nerds e The Promisse
Algumas referências que percebi:
1 – Mito de Sísifo (Chanda indo trabalhar)
2 – Cadências Deceptivas (Holstrom comenta sobre uma música com Renee)
3 – Poliritmos (Cody apresentando uma música para Laurie no carro).
Espero muito que esta postura dos roteiristas, de colocar referências leves ao longo da trama, se mantenha na segunda temporada.
Um dos pontos altos da trama em seu desenvolvimento, é a apresentação da música The Promisse, da banda When is Rome, que influencia diretamente na história. A cena é muito emocionante.
Bolas na Trave: Em alguns momentos, a Tecnologia se comporta feito Magia
No episódio Zero Day, há uma cena genial em que David Kim realiza uma invasão utilizando vibrações supersônicas de um aparelho eletrônico.
Em outro episódio Caspian utiliza um crawler de imagens do Google Maps para encontrar a sede da Logorhythms na Noruega.
Pra quem conhece essas técnicas clássicas de hacking e computação, esses trechos são bem empolgantes.
A série parece ter deixado passar a chance de manter o mesmo nível de criatividade e didatismo em outras partes da trama — que, infelizmente, acabam soando como mágica pura, sem qualquer base técnica evidente.
Exemplos:
- A pulseira que Maddie usa para tirar as aplicações da Logorhythms do ar não orna com a abordagem que a série faz de tecnologia. Parece um dispositivo mágico. Utilizar um dispositivo de hardware feito de forma caseira, cheio de soldas grosseiras, com uma NodeMCU e um Arduíno, e guardado numa mochila seria mais honesto.
- As IT’s que interromperam Chanda de seu loop infinito, o encontraram como? Explicar essa invasão, através de um buffer overflow gerado enquanto o ganancioso Ajit Prasad obrigava o seu funcionário a aumentar o processamento da máquina seria uma explicação tecnicamente aceitável.
- Chanda e Laurie deixaram processos zumbis executando em suas “Gaiolas” e fugiram através de backdoors. Explicar como essas fugas aconteceram através uma técnica de SSH Remote Forwarding não seria algo tão absurdo.
Ponto Negativo: Conceitos complexos inseridos sem um motivo claro
Se por um lado, a série desperdiçou a oportunidade de inserir técnicas antigas e conhecidas para explicar algumas façanhas tecnológicas “mágicas” realizadas pelos personagens… por outro, ela cita de passagem alguns temas avançados que são desafiantes até para o mais nerd dos expectadores.

Imagem do Psicólogo Jean Piaget
Os conceitos de Rotações de memória Neurológica, Cadeias de Markov, Atomismos lógicos, Fases de desenvolvimento de Piaget e Algoritmos NP-Completos me pareceram um pouco deslocados.
Conclusão
Basicamente o enredo de Panteon narra a jornada de uma adolescente buscando o encontro com o seu “pai-lógico-matemático” ciente de que corpo físico desse pai não existe mais.
O ritmo do roteiro é coerente, a parte musical é muito boa e a animação delicada nos aproxima bastante dos personagens.
Notei uma proximidade conceitual entre o roteiro e o livro O Erro de Descartes, de António Damásio. Isso porque, ao longo de toda a trama, os personagens discutem constantemente suas emoções, seus impulsos racionais e o funcionamento do cérebro humano.
Para reforçar ainda mais essa conexão, a série faz referência direta ao famoso caso de Phineas Gage, amplamente citado por Damásio em sua obra.
Apesar das batidas na trave, Pantheon traz muitas reflexões relevantes e é super leve de assistir. Irei recomendar pra todos os meus amigos fãs de SCI-Fi e espero que tudo continue progredindo na segunda temporada.
Um abraço e obrigado pela leitura.

