Bom dia, boa tarde ou boa noite para todos os Deviantes. Hoje eu queria falar um pouco com vocês sobre jogos de tabuleiros na educação, mais precisamente na sala de aula.

Como professor, sei mais do que ninguém como a educação pode transformar vidas e como a sala de aula pode te transportar para um mundo de novas descobertas e conhecimento ilimitado. Quando falamos a palavra educação, é quase certo que, na cabeça da maioria das pessoas, vêm as palavras-chaves: professor, escola, conteúdo, gestão e alunos.

Acredito que, de certa forma, desde pequenininhos, somos condicionados a acreditar que a educação funciona como um objeto a ser alcançado. Quando assistimos gestores públicos falando sobre a educação, parece que todos os problemas podem ser sanados a base da canetada ou por iniciativas que quase sempre não saem do papel (isso quando chegam ao papel).

Sendo professor, é chocante ver como pessoas que trabalham na educação, estão totalmente fora da realidade, como se vivêssemos em um multiverso onde alunos e professores habitassem diferentes microcosmos, distantes de um mundo igualitário que muitas vezes é pregado por autoridades e agregados.

Como professor de Matemática (e quem é de exatas sabe do que estou falando), sabe da dificuldade de ensinar um conteúdo que, deveras, é simples e que muitas vezes os alunos acabam tendo uma certa resistência por falta de bagagem por defasagens anteriores. Seja por resistência que vem de longa data, ou porque simplesmente esses alunos acabam reproduzindo frases que seus responsáveis falam em casa: “sempre tive dificuldade em matemática, realmente é uma matéria difícil”, como se a dificuldade fosse um gene hereditário que condiciona as habilidades com números dos mesmos.

Isso vira meio que um “cheque em branco” (alerta para expressões de velho). Uma criança que ouve isso, com certeza, acaba tendo um sentimento de que, se ela for mal na escola, não tem tanto problema, aliás, meus pais também eram ruins. Isso apenas é um exemplo de como a parceria escola e família também é muito importante para uma educação de qualidade.

As vezes os alunos têm barreiras psicológicas, e acredito que o professor é o mais habilitado em identificar essas barreiras e tentar trabalhar na desconstrução desses dogmas matemáticos (que podem ser de qualquer matéria). Uma ferramenta que descobri e acredito que da super certo, são os jogos de tabuleiros, ou jogos modernos, ou como falamos, board games.

Imagem do jogo de tabuleiro Scythe. Na imagem, vemos o tabuleiro montado com as peças do jogo.

 

Mas não os jogos tradicionais, como xadrez, dama ou resta um, não que esses jogos não têm a sua importância, mas as vezes é muito difícil pegar um aluno que tenha uma certa inquietação e pedir para que ele fique sentado, calado e pensando em uma jogada ou possível jogada de seu adversário.

Os board games podem ajudar e muito o professor a tentar desenvolver os alunos que muitas vezes acabam ficando retraídos e vivendo em seus mundos digitais. Hoje temos acesso há uma gama infinita de jogos que podem auxiliar o professor em sala para conteúdos que muitas vezes parecem complexos.

Se um professor quer desenvolver uma sistematização por exemplo, listas, textos, informações, ou equações o educador pode apresentar um jogo que traga esse tipo de ligação, um exemplo seria o Catan, em que os jogadores devem gerenciar recursos e entender como seus adversários podem utilizar esses mesmos recursos, fazendo com que o aluno desenvolva seu olhar “desbravador”. Podemos até considerar esse tipo de habilidade como um simulador da vida real.

Jogos cooperativos, também ajudam na socialização, que muitas vezes é difícil em sala de aula. Um aluno que tem dificuldade em se relacionar pode muitas vezes observar, nos jogos cooperativos, uma válvula de escape e uma forma de se comunicar com outras pessoas. Um exemplo de jogo que ajuda no “falar” é o Coup, que é um jogo de blefe. Nele, o aluno deve conversar com seus colegas, tentar de certa forma convencer ou negociar, utilizando ferramentas sociais que eles precisam desenvolver fora da escola. Existem vários jogos com esse tipo de mecânica que podem ser utilizados em sala de aula.

Um outro jogo interessante que é um clássico das salas de aula é o Stop (quem nunca jogou?). Hoje temos um jogo de cartas chamado de U É Stop, que tem a mesma mecânica, dividido em cores e categorias.

Outro jogo que acho sensacional é o Dixit, um jogo em que seus participantes devem usar a sua imaginação e que o narrador da vez deve chegar a um meio termo, em que nem todos podem acertar e nem errar.

Imagem de jogo ilustrando a mêcanica de gerenciamento de recursos.

 

Jogos de cartas como Pokémon ou Magic The Gathering, também podem ser utilizados, principalmente pela sua mecânica interpretativa. Suas cartas e coleções sempre acabam sendo objetos desejados para o competitivo ou para o colecionismo, mas utilizar como ferramenta de aprendizagem acaba se tornando um atrativo a mais para um aluno.

Toda coleção conta uma história, isso pode despertar certo interesse no aluno que gosta de algum tema relacionado a natureza, ou a lobisomens, zumbis, combate etc. Os jogos podem ser utilizados em todos os anos escolares, claro que cada professor, deve observar as faixas etárias.

Se você chegou até aqui, deve estar pensando em certa incoerência da minha parte. Acredito que vocês devem estar pensando: “O texto se inicia dizendo em gestores que não conhecem a realidade escolar, passa por ferramentas de aprendizado e depois, como os jogos podem ajudar na vida escolar. Tudo muito bonito, mas e os recursos?”

Sim eu sei, infelizmente a realidade do nosso país é totalmente discrepante de uma região para outra, e as vezes até de um bairro para outro. Mas eu gostaria de salientar que achar soluções também é um fardo que muitas vezes o professor carrega, e seria incoerente dizer que os custos de tal “brincadeira” devem sair do bolso dos educadores.

Mas quero que vocês foquem na mecânica dos jogos. Por exemplo, no Stop, os alunos jogam em sala de aula um pequeno “campeonato”, no qual disputam entre eles, o que pode ajudar na socialização. Adaptar mecânicas e gerenciar grupo traz novas maneiras e ferramentas que podem transformar o dia a dia em sala de aula, tentado melhorar as habilidades e deixando o ambiente “sala de aula”, um pouco mais leve.

 

Saiba mais:

Mecânicas dos jogos: https://www.youtube.com/watch?v=sPk3u1QtDFU

Coup: https://www.youtube.com/watch?v=bwbaMEPm1dY

Dixit: https://www.youtube.com/watch?v=SAZatDVDQtQ

U E Stop: https://www.youtube.com/watch?v=_KhmztQ_gKs