Eu acho bastante curioso como a maioria das pessoas usa termos econômicos todos os dias sem terem muita noção do que eles significam ou de como afetam nossas vidas. Se você acompanha um pouquinho de economia dos jornais (e se não acompanha, deveria) já deve ter ouvido várias vezes sobre a taxa básica de juros (também conhecida como SELIC) e a inflação oficial (a mais famosa é a taxa IPCA) e com certeza já ouviu comentários de que as duas estão intrinsicamente ligadas e que afetam sua vida diariamente. Agora, por quê?

Ó, temida e abominada inflação.

Uma palavra tão odiada que simplesmente significa aumento de preços. Aqueles com mais de 30 anos têm lembranças assombrosas de inflações tão altas que os preços variavam literalmente da noite para o dia, mas em 1994 a implementação do salvador Plano Real mudou a moeda e desindexou a economia, isto é, impediu que correções futuras dos preços fossem baseadas nos preços passados. Assim a inflação brasileira ficou sobre controle virou uma nanica se comparada aos anos 1980. Na economia, a inflação nada mais é que a medida do quanto os preço subiram e uma das causas é um elevado número de pessoas gastando, e por pessoas quero dizer o governo, as famílias e as empresas, que ao gastarem, movimentam a economia, gerando muita demanda para os produtos e fazendo os preços aumentarem. Isso pode ser um excelente sinal de crescimento econômico! Mais gente com dinheiro = mais compras = mais dinheiro rodando = preços mais altos.

O problema acontece quando a inflação é causada só por desequilíbrios e não por crescimento. Alguns exemplos comuns são problemas meteorológicos nas safras de alimentos que diminuem a quantidade de comida disponível aumentando os preços, ou quando o governos gasta mais do que têm, desequilibrando as contas, imprimindo dinheiro, gerando dívida e enchendo o mercado com um dinheiro que não reflete crescimento, só gasto (e haja gasto!).

O grande problema da inflação é que, quando descontrolada, ela tira a economia do eixo, a moeda perde valor e o que o dinheiro comprava antes não compra mais, nosso salário vale menos em forma de produtos, o governo precisa gastar mais e imprimir mais dinheiro e por aí vai. Para devolver a inflação ao eixo, uma das armas mais usada e eficaz são os juros.

E o que são juros?

Juros são o preços do dinheiro, como um aluguel: se você está pegando um empréstimo, você paga para usar o dinheiro de outra pessoa, e o “locatário” é recompensado por isso. Quando esse custo aumenta, as pessoas e empresas têm menos incentivos para pegar dinheiro emprestado e acabam gastando menos. Já os que têm dinheiro para emprestar ficam mais atraídos pelos retornos mais altos e também gastam menos para poupar mais. A consequência é: todo mundo gasta menos, o ritmo da economia diminui e acalma a inflação.

E o inverso também é verdade, veja o que está acontecendo na economia agora: com o aumento dos juros e outros ajustes, o governo conseguiu controlar a inflação (que caiu de quase 11% para menos de 5% em um espaço de dois a três anos) e a economia entrou em recessão. Para estimular mais os gastos e fazer a roda econômica girar, o governo está reduzindo cada vez mais os juros na tentativa de incentivar pessoas e empresas a consumir e investir na produção, já que deixar o dinheiro no banco já não é tão bom negócio assim.

Se você perceber bem, isso tudo é um ciclo. Quando a economia cresce, a inflação tende a subir e o governo aumenta os juros para acalmar as coisas. Com o aumento de juros as pessoas têm mais incentivo para economizar e menos para gastar, desacelerando a inflação e a economia, consequentemente os juros descem para animar as coisas. Os ciclos da economia podem ser comparados a um boomerang – eles vão e voltam. Qualquer economista pode te garantir agora que os juros voltaram a subir, mas o ticket premiado está em saber quando e quanto!