Sabemos que poucos momentos na nossa vida ficam impressos na nossa memória sem qualquer alteração. Essas lembranças muitas vezes são de momentos importantes ou que mostraram algo impactante nas nossas vivencias. Normalmente, esses eventos ocorrem em nossa idade infantil, mas claro, podem também aparecerem em outros momentos das nossas vidas.

Para mim, um desses momentos, se me cabe dizer, remonta à minha infância, quando, em uma livraria em Porto Alegre, me deparei com um livro em que um grupo de aventureiros se reunia na capa, com um anão furioso, um homem com um arco e uma mulher segurando um cajado brilhante. Eu ainda não sabia, mas aquela obra era a porta para um mundo de fantasia que, aliado a uma narrativa instigante, moldaria boa parte dos meus interesses quando se fala de literatura de fantasia.

Essa trilogia, que conta com os livros Dragões do Crepúsculo do Outono, Dragões da Noite do Inverno e Dragões do Alvorecer da Primavera, foi publicada no ano de 1984, nos Estados Unidos, pela dupla Tracy Hickman e Margaret Weiss, chegando ao brasil no ano de 2004. São livros consideravelmente volumosos e que ocupam um bom lugar na sua estante, mas que, de certo modo, são um pouco diferentes das aventuras que estamos acostumados.

Podemos encontrar, claro, dragões em seu grande poder e sabedoria, anões em suas grandes fortalezas de pedra e elfos em belíssimas cidades dentro de florestas praticamente intransponíveis, junto com batalhas travadas em diversos locais, que nos colocam no centro de uma narrativa empolgante e divertida. Porém, de modo talvez um tanto parcial, venho com esse texto, convidar o leitor a pensar em uma nova perspectiva perante essas obras, para, quem sabe, instigar pessoas a lerem e buscarem fazer suas próprias análises.

De modo a não entregar o ouro de primeira, e para não dar detalhes exagerados, podemos dizer que essa trilogia fala de um grupo de amigos, que se separa em busca de uma missão e, ao voltarem para casa, encontram o próprio mal, que é caracterizado por uma força teocrática e opressora, buscando construir uma narrativa nos moldes ditatoriais.  Essa sociedade ficcional pode muito bem encontrar um paralelo na realidade, visto que historicamente existiram diversos tipos de governos perversos que oprimiam os diferentes e causaram verdadeiros genocídios e crimes inimagináveis.

Frente a isso, e baseado na trilogia, encontramos, além de momentos que são uma ode ao mundo de fantasia, também momentos nos quais o grupo de heróis são exatamente como nós, com conflitos mundanos, problemas emocionais e questões antigas que foram mal resolvidas entre os seus pares. A própria questão do personagem como herói é completamente questionada de tempos em tempos, pois os personagens, humanos ou não, são frequentemente colocados em questões morais que podem mudar suas atitudes radicalmente.

Esses contextos se demonstram interessantes, pois as obras sabem de forma magistral o que mostrar e o que esconder dos leitores, os levando além da sua própria narrativa e fazendo com que quem está lendo se encontre sempre em uma posição de questionar os mistérios envolvendo as histórias citadas pelos personagens. Isso é feito de maneira muito competente e coloca todo um universo, com suas lendas, histórias e heróis, em uma perspectiva viva e que se molda a cada momento baseado em escolhas, romances e muito fogo jogado pela boca de terríveis lagartos voadores.

Por esse motivo, e com esse texto um pouco diferente do que normalmente escrevo para o portal, venho convidar todos os nossos amigos deviantes, que se interessam por esse tipo de história, para buscar conhecer as aventuras desses heróis e vilões em tantos lugares lendários e memoráveis. As vezes precisamos esquecer a realidade, que nos últimos tempos se apresenta de maneira tão dura, e, pelo menos na ficção, imaginarmos um mundo onde os justos e o bem sempre vencem no final.