Várias e várias vezes sou questionada a respeito da qualidade do queijo, do leite, da carne, etc. Esses são alguns dos produtos de origem animal que consumimos diariamente. Além deles ainda existem os ovos, o pescado, o mel, sendo esses os que consumimos diretamente. Vários outros produtos de origem animal fazem parte do nosso dia-a-dia e alguns a gente não lembra e outros que a gente desconhece totalmente. Rações de cães e gatos, por exemplo, em sua maioria são feitas de farinhas de carne e osso; a heparina, medicamento que é um anticoagulante do sangue que é usado para evitar trombose por exemplo, é tirada da vesícula biliar dos bovinos; o própolis que sua avó insiste para que você borrife na garganta inflamada, vem das colméias das abelhas; aquela cueca de seda para eventos especiais, fiozinhos tirados dos casulos dos bichos da seda. Esse são alguns dos produtos e sub-produtos que nos utilizamos que tem origem dos animais.

Produtos de Origem Animal

Agora, falando diretamente da comida que a gente consome, esses produtos devem ser inspecionados na sua manipulação e/ou fabricação para que tenhamos certeza de sua qualidade por dois fatores principais:

  1. as zoonoses, doenças que podem ocorrer tanto em seres humanos quanto em outros animais (brucelose, tuberculose, cisticercose são alguns exemplos);
  2. por serem ótimos “meios de cultura”. Ou seja, apresentam condições ótimas de crescimento de microrganismos sendo que vários deles podem nos causar doenças (Salmonelose, listeriose, etc).

Com a finalidade de regulamentar e tornar oficial a Inspeção desses alimentos, em 29/03/1952, o presidente Getúlia Vargas, através do DECRETO Nº 30.691, regulamenta a Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Durante todos esses anos, usamos esse Regulamento para inspecionar os produtos de origem animal e era um documento tão bem feito, que só foi alterado há dois anos, em 2017. O Novo Decreto 9013 já está em uso, sofreu algumas alterações também, mas está aí para regulamentar as ações que devem ser tomadas vislumbrando a qualidade dos alimentos e saúde da população.

Nesses últimos anos também vimos nas manchetes dos jornais vários problemas nessa área, como a Operação Carne Fraca , da Policia Federal. Para quem trabalha seriamente com a inspeção de produtos de origem animal  (e somos muitos pelo Brasil a fora) é muito triste e ao mesmo tempo reconfortante saber que maus funcionários foram afastados dessa função tão importante que é garantir a Segurança Alimentar de uma população.

Pois bem, como a população deve garantir a sua segurança alimentar? Primeiro, ao adquirir qualquer alimento de origem animal, observe se esse produto (que tem que ter uma rotulagem com a origem, data de fabricação/embalagem, data de vencimento) tem também no rótulo o Selo de Inspeção. Esse selo é a garantia que esse produto foi manipulado/fabricado dentro das normas exigidas. E, como falei acima, são essas normas que mantêm a saúde. Esse selo pode ser tanto do Serviço de Inspeção Municipal (SIM), como do Serviço de Inspeção Estadual (SIE) ou também do Serviço de Inspeção Federal (SIF). O primeiro são para produtos que podem ser comercializados dentro de um município; o segundo, dentro do estado e o terceiro, por todo o país e dependendo da situação, para exportação também.

 

Tipos de selos dos Serviços de Inspeção Municipal, Estadual e Federal

 

 

Uma questão que é muito levantada pelos produtores rurais com quem eu trabalho é: Ah, mas eu não vou poder mais fazer queijo em casa para eu comer? Vou ter que comprar no mercado?

A explicação é: Sim, você pode fazer seus produtos para consumo particular. Geralmente você deixa a sua vaca mais saudável e querida para usar esse leite. Fará a manipulação desse leite e fabricação do queijo com todo cuidado porque você estará alimentando a sua família e a quantidade a ser manipulada é pequena, por maior que seja sua familia.  Não tem problema algum. Mas, a partir do momento que você coloca essa produção numa escala minimamente industrial, a qualidade não será a mesma. Alguma falha pode ocorrer, por mais atenção, cuidado e capricho que se tenha. Daí assim acaba colocando em risco a saúde de outras pessoas. Por isso temos normas rigorosas a serem seguidas para que, se algum erro vir a ocorrer, possa ser facilmente detectado e evitado que esse produto vá adiante. São, por exemplo,  exames, tanto físicos quanto químicos, procedimentos, materiais que irão entrar em contato com os alimentos, controle de pragas, saúde do manipulador alguns dos pontos que são minuciosamente realizados e averiguados. Além disso, falamos que esses procedimentos ainda podem ser auditáveis, ou seja, se alguém tiver uma diarréia devido a um queijo estragado que consumiu, sabe-se a origem daquele produto, pode-se averiguar se houve algum problema durante a manipulação do produto (retira-se todo o lote do mercado) e têm-se condições de corrigir o problema, já que é possível achar onde e como ocorreu o erro.

Encerro esse primeiro texto sobre inspeção dizendo que esse é um trabalho essencial a saúde da população e pouco divulgado. A importância que esse serviço seja prestado em todos os municípios da federação é imensa, porém vários municípios ou não o possuem ou não o tem implantado de forma eficaz. E nós, como população consumidora, devemos conhecer e exigir que a qualidade desses alimentos seja garantida.

Aguarde cenas dos próximos capítulos!

Eu, usando EPI para realizar inspeção em Agroindustria familiar – Laticinio