Venho nesse meu último texto do ano compartilhar uma leitura interessantíssima que com certeza está no meu top 3 do ano. Além das exatas, minha área de formação (Matemática e Física) e o amor aos esportes e a música, tenho nos livros por muitas vezes a válvula de escape para a minha mente. Por muito tempo vaguei por mundos fantásticos em galáxias distantes ou mundos utópicos, outras vezes em mistérios, ou biografias que completam um outro lado desconhecido de personalidades históricas independentemente de suas áreas. Todos temos um gosto específico e maravilhosamente diversificado. Podemos gostar de coisas aleatórios que, se pararmos um pouco para olhar em um prisma, talvez, por um breve momento, não faça nenhum sentido, e quem liga, não é verdade? Viva a diversidade e a pluralidade de pensamentos, gostos e ideias.

Temos muitas paixões na vida, e por um motivo ou outro acabamos nos afastando daquilo que juramos amar para sempre, um brinquedo, uma profissão ou seja lá o que for. E nessa pandemia, muitas pessoas acabaram redescobrindo ou trazendo de volta costumes ou algo que há muito tempo havia sido deixado de lado. Lembro que no ano passado teve aquela febre das pessoas fazendo pães ou receitas antigas para postarem em suas redes sociais, trazendo de alguma forma o sentimento que tinham de quando eram crianças com seus pais ou avós. Essa alegria para muitos foi reconfortante, enquanto para outros pessoas a pandemia passou como um vendaval destruindo os alicerces e deixando para os que ficaram apenas o sentimento de solidão e saudade.

 

 

A música é uma das criações da humanidade que pode transformar vidas e sentimentos quase que imediatamente. Por muito tempo tive o sonho de ser músico profissional, que acabou culminando em outra profissão que foi a de lecionar, mas isso é outra história. Essas minhas paixões variadas acabam muitas vezes se cruzando e, quando isso acontece, posso confessar que são experiências únicas e por muitas vezes transformadoras. Este livro que quero apresentar para vocês é sobre um dos maiores músicos que passaram por esse planeta. Ele era baterista e tocava em uma das maiores banda do planeta. Seu nome era Neil Peart e a banda em questão se chama RUSH.

Neil Peart morreu em 2020 infelizmente por um câncer no cérebro, o que contribui de certa forma para aposentadoria da banda anos antes. (Alex Lifeson assim como Neil Peart tiveram problemas de tendinite e artrite que transforma os shows do RUSH em uma experiência dolorosa). Peart é aclamado pelo meio musical como um mestre de seu instrumento. O impacto que ele teve, tanto em estúdio como nos palcos, mostra claramente como ele era um cara especial. Quando comecei a escutar RUSH, achava que as linhas de bateria eram insanas e tinha muitas vezes dificuldades de entender como uma pessoa conseguia pensar em todos os tipos de viradas e movimentos que levavam o seu instrumento para outro patamar. Quem nunca ouviu RUSH, deixo a dica para terem essa experiência extraordinária. É uma banda essencial para os amantes não só do rock, mas de música em geral. Lembrando que independentemente do estilo, podemos selecionar o que é bom ou uma porcaria sonora. Como fã da banda, acho que todos os discos são obras fantásticas, mas se eu pudesse indicar para alguém um disco para iniciar e entender o que é o RUSH, indicaria Moving Pictures da banda canadense. Peart tinha um caldeirão rítmico em que misturava hard rock e jazz elevado a quarta potência. Além de todo o seu conhecimento musical, Peart era um grande amante dos livros que por muito tempo fazia companhia em seus primeiros ensaios com a banda (e consequentemente em suas turnês futuras), o que fez com que seus companheiros de banda, muito sabiamente, pensassem: “Se ele gosta tanto de ler, provavelmente ele deve escrever bem”. Assim Neil acabou não só trazendo todo o seu conhecimento musical, mas sendo um escritor de mão cheia.

 

 

Neil acabou escrevendo alguns livros, mas o que quero apresentar para vocês é o seu livro chamado Ghost Rider – Estrada para cura, que faz a conexão com que escrevi no começo do texto.

Em 1997 depois da turnê do disco Test for echo, Neil estava em casa com sua filha Selena e sua esposa Jackie desfrutado os últimos dias que a jovem tinha antes de voltar para a faculdade. Era uma bela manhã com pouca neve quando ele se despediu de sua filha pela última vez. Neste mesmo dia ele recebe em sua casa junto com a esposa o policial do condado dizendo que um acidente havia acontecido e que o carro que Selena dirigia havia saído da estrada e que infelizmente a garota não havia sobrevivido. Uma dor gigantesca o atingiu em cheio e uma avalanche de medo e escuridão abraçou sua vida. Depois de semanas tentando se recuperar e tentado se estabelecer como uma viga estrutural para sua esposa que estava muito abalada, Neil recebe uma notícia que o deixaria sem chão mais uma vez. Sua esposa Jackie estava com um câncer superagressivo, o que fez com que ela viesse a óbito poucos meses depois.

 

 

Ele estava perdido e a banda achou por bem acabar. Era o “fim” do RUSH. Neil estava sem perspectiva de vida e sem rumo e nada mais fazia sentido. Seus grandes amores foram arrancados de forma seca e abrupta. Louco para sair de sua casa, Neil lembrou do presente de sua esposa, uma moto BMW que ele havia usado em uma viagem com a banda. Ele havia utilizado ela para viajar alguns trechos do Canadá e naquele momento ele resolveu partir em uma viagem de quatorze meses vagando. Foi a Quebec, passando pelo Alasca, cortando o Canadá inteiro e decidiu descer a costa americana até chegar ao México. Foram milhares de quilômetros em que ele teve experiências únicas.

Neil levava um diário que o ajudou a guardar suas memórias que por ventura o auxiliaram para escrever este livro sensacional. Ele descreve a natureza de cada lugar como única. Outras características, ele foi conhecendo usando o asfalto como desculpa para pegar um desvio e continuar admirando toda a beleza. Neil muitas vezes decidia fazer os caminhos mais longos e muitas vezes esses mesmos caminhos traziam experiências valorosas. Interessante saber que, em cada parada ou hotel de esquina, as pessoas não o reconheciam como Neil Peart. Talvez porque na década de noventa a internet era um bebê engatinhando e as redes sociais não passavam de uma utopia.

Enquanto viajava ele se correspondia com seus amigos, parentes e companheiros de bandas, através de cartões postais que indicavam sua localização e o quão distante ele precisava estar para se reencontrar. Teve experiências culturais novas nas quais pode conhecer a bondade das pessoas através de uma simples troca de pneu ou de algum reparo que de certa forma ele precisasse. Conheceu também o lado negativo das pessoas quando, em uma passada da fronteira, policiais americanos o trataram como suspeito usando todo o autoritarismo por traz de uma farda e um distintivo. Dormiu em locais onde a comida parecia ter uma procedência duvidosa, da mesma forma teve experiências gastronômicas incríveis em restaurantes de beira de estrada. Neil por muitas vezes relata seu choro de tristeza por quilômetros em cima de sua moto. Não era raro seus momentos de solidão e muitas vezes sua busca parecia não fazer mais sentido. A narrativa dessa viagem fez com que Neil encontrasse um objetivo de vida, sua razão para estar vivo. Perda, luta e um reencontro com a vida. É interessante saber que, ao final de sua jornada, mesmo um homem que perdeu todo seu rumo, conseguiu achar uma forma de estar ainda vivo.

 

 

Este livro foi uma grata surpresa, apesar de gostar da banda. Confesso que negligenciei por muito tempo este livro achando que poderia ser um livro de autoajuda ou coisa parecida, mas definitivamente estava completamente enganado. Vou deixar também uma dica para os amantes de estrada que é o documentário com Ewan McGregor (Obi-Wan Kenobi) que se chama Long Way Up onde ele, de uma forma ecológica através das motos elétricas, desbrava toda a costa da américa do sul até a Califórnia. Uma forma de conhecer paisagens e culturas diferentes que estão muito mais perto da gente.

 

 

Saiba mais:

 

https://www.youtube.com/watch?v=LWRMOJQDiLU

 

https://www.youtube.com/watch?v=iNMXBo__SpU

 

https://www.youtube.com/watch?v=Y0HPiuUg6_0

 

Imagens:

https://thesilverkey.blogspot.com/2021/03/a-review-of-ghost-rider-travels-on.html

https://www.amazon.com.br/Ghost-Rider-Travels-Healing-Road/dp/1550225480

https://nl.pinterest.com/pin/543950461253410782/

https://www.wikimetal.com.br/neil-peart-familia-e-amigos-do-baterista-relembram-seus-ultimos-anos-em-entrevista-leia-aqui/

https://beprogrock.com/herois-do-progressivo-neil-peart/