Você já deve ter ouvido falar que alguns animais estão ameaçados de extinção, não é mesmo? A arara-azul, o mico-leão-dourado, a onça-pintada, são exemplos bastante emblemáticos. Também deve conhecer alguns nomes de plantas que correm o risco de desaparecer de seus habitats naturais, como a araucária, o pau-brasil, o cedro e o xaxim. Mas e os fungos? Será que também existem espécies cuja sobrevivência se encontra ameaçada? Infelizmente a resposta é sim.
Os fungos muitas vezes são vistos como um monolito, um grupo coeso e cujos modos de vida não variam muito — basta estar úmido e quente que “os fungos” crescem —, isso, porém, não poderia estar mais errado. O grupo dos fungos é considerado um dos mais diversos da natureza, com estudos estimando que conhecemos aproximadamente apenas 5% da biodiversidade mundial! Ou seja, há milhões de espécies ainda a serem descritas pela ciência. Com tanta diversidade, os fungos estão presentes em grande parte dos habitats do mundo, ocupando vários hectares de floresta (alguns consideram um fungo do gênero Armillaria um dos maiores organismos do mundo em biomassa!) ou vivendo dentro de insetos e plantas.
Para avaliar se uma espécie está ameaçada de extinção, os cientistas podem utilizar algumas métricas estabelecidas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN na sigla em inglês). Para aplicar esses parâmetros aos fungos, porém, é necessário fazer algumas adaptações, uma vez que, nos fungos, é um pouco mais complicado determinar o que é um indivíduo ou qual o tempo de uma geração, por exemplo. Ainda assim, os fungos têm ganhado cada vez mais atenção dos órgãos que cuidam da conservação da natureza, tudo graças ao esforço de diversos micólogos ao redor do mundo.
Ao avaliar o status de conservação de uma espécie, ela pode se encaixar em uma das 7 categorias da chamada Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, que vão de Pouco preocupante (LC- least concern) a Extinta (Ex) (Figura 1).
Figura 1: Categorias do status de conservação de uma espécie segundo a Lista Vermelha da IUCN. Fonte: WikipediaNo próprio site da organização, os fungos ocupam um lugar de destaque como um grupo megadiverso e ainda pouco representado nas listas de espécies avaliadas. Segundo a IUCN, no ano de 2025 foi atingido o marco de 1000 espécies avaliadas, o que é importante porém representa apenas uma pequena fração da micodiversidade global conhecida.
Para fortalecer esse projeto, foi criado o Global Fungal Red List Initiative, composto por especialistas do mundo todo nos mais variados grupos de fungos, desde liquens e cogumelos, até os microscópicos quitrídios e zigomicetos.
Mas o que um fungo precisa para se encaixar em uma das categorias de espécie ameaçada? É necessário que a espécie se encaixe em pelo menos um dos quatro requisitos adaptados da Lista Vermelha:
- A população global da espécie deve estar em um declínio de pelo menos 15% entre os últimos 10 a 50 anos;
- A espécie deve ter sua distribuição restrita a uma área (registrada em apenas um ou alguns poucos países) e com a população declinando;
- A espécie deve ter uma população pequena e que está em declínio;
- A espécie tem uma população muito reduzida (menos de 2000 indivíduos) e está restrita a menos de 10 localidades ao redor do mundo.

Figura 2: Fomitiporia nubicola, orelha-de-pau das matas catarinenses classificada como Criticamente Ameaçada de Extinção. Fonte: Mind Funga.
No Brasil, existem grupos de pesquisadores que somam suas forças aos micólogos do mundo todo para a conservação dos fungos. O Mind Funga, vinculado ao Laboratório de Micologia da Universidade Federal de Santa Catarina, é um dos principais. Em seu site, o projeto lista as espécies já avaliadas por seus cientistas e seus status de conservação segundo os critérios da IUCN.

Figura 3: Amanita viscidolutea, espécie da Mata Atlântica considerada Vulnerável. Fonte: Mind Funga.
E quais seriam então as principais ameaças às espécies fúngicas? Como já aprendemos, as diferentes espécies de fungos têm diferentes exigências ambientais, distribuições, modos de vida, ecologias etc., portanto, diversos fatores podem impactar em sua conservação. Algumas das principais ameaças incluem a degradação dos habitats naturais das espécies, as mudanças climáticas e as ameaças enfrentadas pelos organismos que servem de hospedeiros ou substrato para os fungos, como plantas e animais.
Não é nenhuma surpresa que os organismos de um ecossistema estão interligados e são interdependentes, e isso inclui também as espécies que não estão visíveis aos nossos olhos sempre ou que passam despercebidas por nós, os fungos também devem ser reconhecidos e protegidos pelo seu indispensável papel no ambiente natural. Não podemos correr o risco de perder uma diversidade tão gigantesca de organismos que ainda estamos começando a conhecer.


