A noite começava a cair quando Enrico saiu do armazém correndo. A expressão de preocupação era visível para qualquer um que tivesse visto o guarda correndo.

– Quantas vezes avisei a Evelina para não andar sozinha ao entardecer! – dizia para si mesmo – Mas a culpa é minha. Esqueci de buscá-la. Era minha responsabilidade.

Enrico corria em direção a uma rua que começava em frente ao armazém. Evelina costumava tomar esse caminho para chegar em casa, passando pela da tia, mas a rua era pouco movimentada e o anoitecer o deixava ainda mais preocupado. Quando virou à direta, deu de cara com Evelina, trombou com a irmã, que deixou cair as compras que tinha feito, pacotes com pães e queijo foram ao chão.

– Evelina! Estava procurando por você! Por que ainda está na rua? Você já deveria ter chegado em casa – dizia enquanto levantava a irmã que estava tonta pelo choque.

– Nossa! Calma! Preciso me recuperar… Sabia que sua malha machuca? – apontava para a proteção no peito do irmão.

– Cota de malha, Evelina. Onde estava? – voltava a perguntar à irmã enquanto a ajudava a pegar as compras feitas por ela.

– Estava chegando na casa da tia, quando Eduarda me avisou que você saiu correndo. Pensou que você tinha ido me buscar bem atrasado – apontava para o irmão mostrando que a culpa era dele –. Quando encontrei com ela, pensei em voltar pelo caminho para não te deixar mais preocupado. E acertei, certo? Você vinha pelo mesmo caminho – fala satisfeita em ter acertado o palpite.

– Não deveria ter voltado. Já é noite. Deveria ter me esperado em casa, mas agradeço a preocupação e estou contente que esteja bem. Pronto? Vamos? – fazia um gesto querendo apressar a irmã.

– Não sou mais criança, sabia? Sei do sumiço das pessoas – falava isso apontando para a própria cabeça – Peguei tudo, podemos ir…

Evelina arregalou os olhos. Atrás do irmão, havia duas figuras que ela nunca tinha visto na vila.

– Enrico, cui… – o aviso saiu tarde demais da boca da moça…

Antes da irmã começar a falar alguma coisa, Enrico colocou a mão no cabo da espada, ele virou, tentando jogar o corpo para trás para proteger a irmã, mas era tarde. Um forte soco acertou direto seu rosto. O jovem guarda não estava preparado, nem imaginava que seria acertado tão rapidamente. Agia com instinto de defesa guiado por tantos treinos. O golpe foi devastador e sobre-humano, fez Enrico cambalear. O mundo ficou escuro por alguns instantes. Quando a consciência parecia voltar, outro golpe acertou sua face e o jogou ao chão, de joelhos, lutava para manter a mente atenta. Escutou Evelina implorando por sua vida. Eles riram. Ela lutava, mas acabou sendo levada. As últimas palavras escutadas por Enrico foram:

– Deixem-me, deixem-me… Olha… fizeram com… irmão. Não! Não! – Evelina se debatida, lutava, mas eram mais forte e a levaram.

Enrico caiu… Foram alguns minutos, mas pareciam horas. Seu rosto estava dolorido, a cabeça martelava, um fio de sangue tinha escorrido pelo canto da boca. Lembrou da irmã, foi o mais rápido que podia em direção à guarda da vila. Precisava dos outros, precisava de ajuda, precisava resgatar sua irmã…

– Rápido, Elio, chame Edgardo! Ele está no Raposo. Traga-me Bianco e Ferri também – Enrico entrava-se ofegante, os golpes foram certeiros, mas o raciocínio parecia ter se voltado.

– Sim, senhor! – o guarda saiu em disparada sem questionar, entendera que a situação era grave.

Dez minutos se passaram até a chegada de Edgardo. Tempo suficiente para Enrico planejar uma busca na floresta. Estava totalmente focado em montar uma busca e uma forma segura para procurar a irmã e, provavelmente, lutar contra as criaturas.

– Enrico, o que houve? Levaram outra pessoa?

– Edgardo, levaram Evelina! Eles me atacaram, não tive chance alguma. Nunca tinham entrado na vila. Temos que encontrá-la, temos que reagir. Mais alguns meses e começarão a levar as pessoas de dentro das próprias casas.

Então, Elio e Piero entraram na sala junto com sr. Bianco e sr. Ferri, mas, antes de ser questionado, Enrico se antecipa a todos.

– Senhores, minha irmã foi levada! Não temos tempo a perder, faremos uma busca na floresta. Estejam prontos em quinze minutos. Explicarei meu plano no caminho. Vamos! Vamos!

– Elio, preciso de outro favor. Vá buscar Luca, Tulio e os outros – enquanto Elio saia do local, Enrico colocava seu elmo e orava para que Evelina estivesse com vida.

Em poucos minutos, os quatro melhores guardas da cidade estavam prontos para fazerem uma incursão na floresta negra em plena noite. Correram para a saída da cidade. No meio do caminho, toda a guarda estava reunida com eles, pois Elio conseguiu encontrar todos.

– Enrico! Enrico! – Luca chamava pelo irmão – Irei com você, vamos salvar Evelina juntos, não tenho…

– Não, Luca! Você não está pronto. Um dia será capaz de lidar com essas criaturas, agora a responsabilidade é minha. Evelina ficaria muito triste se acontecesse algo contigo – Enrico preferia poupar o irmão.

– Sei que estou abaixo de vocês, mas quero ir também, preciso ir. Vou com você! – o irmão mais novo demonstrava irritação com a situação.

– Você não está abaixo de ninguém! Entendeu? Você não está preparado agora, mas preciso que faça algo pela vila. Preciso que procure ajuda da Ordem Branca em Montenegro. Leve Alberto e Cecílio contigo, a vila precisa do poder deles, entende? Vou buscar sua irmã, eles vão retaliar, precisamos de ajuda. O tio de Cecílio era da guarda. Vá a Belo Jardim e procure ajuda por lá, entendido?

– Entendido, sairemos imediatamente! – Luca segurou o braço do irmão – Olhe, encontre nossa irmã, certo? Quando voltar, vamos acabar com eles!

– Senhores, vamos! – Enrico olhou para o irmão por algum tempo – Agora, vá! Conto com você para realizar essa tarefa.

Luca, Alberto e Cecílio saíram, não demoraram mais que meia hora para arrumar os cavalos e partiram em direção a Belo Jardim.

Chegando na saída da cidade, Enrico ia dizer algo para a guarda, mas foi interrompido por Túlio.

– Primo, gostaria de participar da missão! Quero ajudar a resgatar Evelina! Eu…

– Agradeço a preocupação de todos! Sei que querem ajudar, mas a vila não pode ficar desprotegida. Eu, Edgardo, sr. Bianco e sr. Ferri buscaremos minha irmã com a ajuda do nosso melhor arqueiro. Piero, desça, você virá conosco – Enrico balançava as mãos chamando o guarda que estava na vigília.

– Enrico, preciso me…

– Agora não, podemos conversar em outro momento – Enrico voltou-se para os guardas – Senhores, seis de vocês descansem, o restante deve proteger a cidade. Felippo e Elio ficarão no meu lugar, devem proteger as saídas, entendido?

– Entendido. A vila não sofrerá! – diziam todos juntos.

O grupo se reuniu para se preparar. Todos eram guardas habilidosos, Ferri e Bianco eram muito experientes, viram muita coisa estranha durante o tempo em que defenderam a vila com o pai de Enrico.

– Perdoe-me, chefe. Fui distraído. Alguém tentou invadir a casa da senhora Rotta. Deixei o posto, temi por Corinna, quando retornei, estavam chegando à floresta. Disparei feito louco, mas só acertei um, e ele não tombou, não tive coragem de ir até lá. Fico contente por confiar em mim novamente, mas iria mesmo assim, com ou sem sua permissão.

– Enrico, não são criaturas, são pessoas! Nós podemos contra eles! Seu pai deve ter sido emboscado, nós podemos salvar sua irmã.

– Eu sei, os golpes que levei, se fossem de uma criatura, estaria morto. Você fez o seu melhor, o erro foi meu, a vigilância não estava adequada – Enrico tocava o ombro do companheiro falando olho no olho com sinceridade, não guardava nenhuma magoa.

– Vamos entrar por onde Piero viu o grupo sumir na floresta. Vocês três usem tochas para iluminar o caminho, tentarei rastreá-los, Enrico irá uns passos atrás tentando nos proteger e…

– Mas as tochas entregarão nossa posição. Sei que é impossível entrar lá sem elas, então, talvez fosse melhor esperar o amanhecer. Sei que está preocupado com sua irmã, e a decisão é sua. Não acompanhei seu pai, irei com você de qualquer forma – aconselhava o Sr. Bianco.

– Obrigado, Jacopo, mas pode ser tarde para ela. Precisamos agir logo, estamos em alerta e bem armados. Vamos, senhores! Eles sangram e morrem como nós!

Então, o grupo sumiu dentro da floresta. O restante da guarda viu apenas por alguns minutos as luzes das tochas que desapareceram na escuridão.