Rogue One: Uma História Star Wars pode ser resumido em duas palavras: desespero e morte. É o filme mais maduro de toda a franquia, que passa longe de momentos fofos e engraçadinhos para cativar as crianças.

O primeiro spin-off da história ocorrida há muito tempo numa galáxia muito, muito distante é um presente para os fãs mais velhos, cheio de referências e easter eggs mas não foge em nenhum momento daquilo que se propõe: contar uma história de sacrifício de membros da Aliança Rebelde, dispostos a fazer tudo o que for possível para atingirem seus objetivos.

P.S.: pode ler sem medo, temos zero spoilers além dos já conhecidos por todo mundo. Se não assistiu nenhum filme da franquia você definitivamente não deveria estar lendo isso.

Guerra não faz ninguém grande

Quando Yoda respondeu dessa forma a Yoda quando Luke lhe disse que procurava um grande guerreiro para treina-lo, foi porque ele mesmo testemunhou o horror das Guerras Clônicas e sua conclusão, quando a Ordem 66 expurgou quase todos os jedis. O problema é que como George Lucas sempre centrou os filmes em torno dos problemas familiares dos Skywalkers, tudo o mais era um mero pano de fundo. Por isso muitos têm a impressão de que não haviam coisas tão pesadas nos seis filmes que ele produziu.

Só que isso não acontece em Rogue One. Com o pai da criança fora da jogada a Disney e a Lucasfilm se prontificaram a contar histórias fora do núcleo da família mais disfuncional da galáxia (não incluí o Episódio VII porque muitas dúvidas ainda pairam), se focando em outras coisas que estão acontecendo.

O primeiro filme da trilogia Uma História Star Wars (o próximo, agendado para 2018 será estrelado por um jovem Han Solo) resolveu então contar uma história há muito conhecida pelos fãs: nós sabemos que no Episódio IV os rebeldes conseguiram colocar as mãos nos planos da Estrela da Morte após um grupo conseguir rouba-los de baixo do nariz do Império.

Apenas isso. Não sabíamos quem eles eram, o que eles fizeram, qual o destino deles. Uma mera nota na história de Star Wars foi transformada em um filme completo, dirigido por Gareth Edwards (Godzilla, Monsters) e que para a satisfação de todos, não é um filler criado para encher linguiça.

O clima do filme é regido pelo desespero. A Aliança está nas últimas, não tem como revidar aos constantes ataques do Império e testemunha a criação de uma poderosa estação de batalha, aparentemente invencível e capaz de aniquilar planetas inteiros. No entanto, há a possibilidade de que ela pode ser destruída e os rebeldes se agarram a ela como uma tábua de salvação.

A guerra é permanente, não há mocinhos nem vilões. Todo mundo, inclusive os rebeldes transitam na área cinza. Cassius Andor, Saw Gerrera (personagem que veio direto de Clone Wars) e outros não hesitam em fazer coisas questionáveis em nome da causa em que acreditam. Rogue One é bom porque pela primeira vez destrói a noção de “nós e eles”, não há um lado certo numa guerra e quem é pego no fogo cruzado tende a se dar muito mal.

A equipe da Rogue One é única, cada personagem possui personalidade e muitos vão adorar a coragem infinita de Jyn Erso ou a incrível habilidade de Chirrut Imwe, mas é o andróide imperial reprogramado K-2SO que rouba a cena. Imagine um robô de combate e segurança de dois metros de altura, mas com a personalidade do Marvin d’O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas sem o fator depressivo. Ele é o anti-Jar Jar Binks, hilário contra a sua vontade com seus comentários ácidos e sarcásticos.

Outra coisa que é preciso elogiar em Rogue One é o respeito ao legado do Episódio IV. Como se trata de uma prequel imediata, elementos vistos no filme em 1977 reaparecem aqui e casam perfeitamente com os efeitos visuais de hoje. Desde os dróides-caixote com pernas na base rebelde ao robô-enceradeira dos imperiais, passando pela aparência dos pilotos (com bigodões e tudo o mais) e culminando no traje de Darth Vader, que usa o capacete fosco original e não o black piano introduzido em Episódio V: O Império Contra-Ataca (diferente do que Lucas fez em Episódio III: A Vingança dos Sith, quando vestiu o lorde sith com o traje atualizado). Tudo para não causar um choque visual naqueles que assistirem aos dois na sequência em um futuro próximo.

Esse cuidado também foi dedicado à escalação do verdadeiro vilão do Episódio IV em Rogue One. Como o ator britânico Peter Cushing morreu em 1994 e utilizar outra pessoa com uma máscara não era uma opção, os magos da Disney e Industrial Light & Magic entraram em ação para reconstruir digitalmente o rosto de Grand Moff Tarkin, num dos CGIs mais impressionantes já produzidos.

A sensação de ver Tarkin novamente em cena é incrível, o personagem incrivelmente não sofre do famigerado “efeito dos olhos mortos” mas ainda assim e por muito pouco cai no Vale da Estranheza, aquela área nebulosa onde uma criatura é interpretada como humana, mas nosso cérebro grita dizendo que tem algo errado.

Todos os robôs e CGIs que caem no Vale são imediatamente rejeitados, não importa o quão bons fiquem. O fato da Disney ter feito um híbrido de CGI e live-action (o rosto de Tarkin foi aplicado sobre o de um ator) também não ajudou. É legal e tudo, mas… não funciona. Incomoda.

No mais, Rogue One é um filme sobre os buchas de canhão jogados numa missão suicida. Aqui ninguém é bonzinho, não há jedis (se Vader conta, temos um sith e que ainda assim aparece pouco, apenas para fazer a ponte entre os filmes) e não há luz no fim do túnel, a não ser um tiro de blaster na sua direção.

Conclusão

Rogue One é um filme sobre aqueles que fazer o trabalho sujo, a linha de frente. Aqueles que sempre se estreparam na história enquanto Luke, Leia e Vader ficavam discutindo sua relação familiar. Ele não é leve, mas tem seus momentos engraçados. É uma nova forma de enxergar o universo de George Lucas sem as lentes coloridas, mas que deixa uma mensagem poderosa no final:

Esperança.

Cotação:

5/5 Grand Moff Tarkins.