Desesperado, Arthur passou do viaduto e entrou na segunda via à direita, parando no meio do quarteirão. Desceu do carro o mais rápido possível para ajudar Marquinhos, porém o problema já estava controlado. Alex desceu ainda tossindo um pouco e cuspindo, mas Marquinhos avisou ao irmão que o amigo tinha conseguido sair do engasgo.

– Preciso recuperar o fôlego, só um minuto, tá? – falou Alex com a voz fraca.

– Porra! Ele quase morreu, Marquin! Tá vendo? – gritou Arthur muito arrependido de tudo.

– Ele tá bem, mano! Calma ele…

– Nada, cara! Se eu desço o acesso, nós iríamos acabar sendo…

Não deu para Arthur completar a frase, dois homens de capacete numa moto chegaram anunciando um assalto pedindo celulares, carteiras e a chave do carro deles.

Arthur e Marquinhos com muito cuidado começaram tirar as carteiras e celulares para entregar aos bandidos, quando Alex arrancou com uma explosão fenomenal e acertou um chute com a planta do pé no meio da moto. Ela levantou um pouco do chão e foi parar no meio da pista com os dois malandros caindo quase do outro lado da rua. Então veio uma chuva de peças e “pertences” dos bandidos que caíram um pouco depois por toda a rua. Se estavam armados ou não, os dois não tentaram uma reação de tão surpresos que ficaram. Cheios de dor, feridos e sangrando, os bandidos levantaram e fugiram para dentro do bairro evitando a avenida principal.

Alex arrancou um pedaço do meio fio, cravou os dedos na pedra, o que assustou bastante Arthur e Marquinhos, mas lembrou de algo, então desistiu do que ia fazer e bateu com a pedra no chão ainda chateado.

– Que vacilo! Não evitei o assalto, merda! Desculpa, pessoal! – reclamou bem chateado, enquanto tossia, voltando a lembrar do outro assalto.

– Eu vou avisar a polícia! – disse Marquinhos pegando o celular.

– Você já fez muito, vamos embora daqui e comer uma pizza! Que tal? – sugeriu Arthur olhando para uma moto empenada no meio da rua e tentando consolar Alex.

Arthur pensou que aquele barulho em breve iria atrair curiosos, assim colocou os dois para dentro do carro e foi para o outro lado da cidade. Naquela noite, relembraram de tudo que aconteceu criando uma bela lembrança para eles além da saborosa pizza de calabresa com bordas recheadas!

Na semana seguinte, Alex estava encarando o segundo maior desafio de sua vida. Estava convencido da ideia, depois de uma conversa com Marquinhos, mas olhava para aquilo sem o pingo de interesse. Dentro da geladeira havia um monte de verduras e legumes. Tinha dito à mãe no dia anterior que gostaria de experimentar novos sabores, foi uma teoria do amigo sobre a possibilidade dele ter outros poderes com outros alimentos, já que Alex não comia nada assim desde que era bebê.

Olhou para o brócolis com uma cara de poucos amigos, mentalizou e imaginou comendo aquilo, trouxe para perto do rosto, cheirou, colocou na boca e logo tirou.

– Não dá, não dá! Tenho… Que tentar outra coisa – disse a si mesmo.

Olhou para todos, pensou bastante e desistiu da ideia, pensou em pedir para a mãe preparar algum deles, mas desistiu. Lembrou que ela iria combinar eles, Alex não iria descobrir qual ativa poderes. E não poderia pedir para tirar cenoura ou espinafre, pois sua mãe descobriria afinal ela andava cada vez mais desconfiada do filho e das conversas constantes ao telefone com Marquinhos. 

Lembrou de algo, uma conversa entre a irmã e a mãe, tirou da geladeira o famoso legume roxo, então procurou na internet uma receita de suco. Pegou outra coisa na geladeira e, para sorte dele, (isso será explicado no futuro) mal colocou açúcar, pois não era fã de nada doce demais.

Bateu tudo no liquidificador para finalizar a bebida, tomou sem muita cerimônia. Em menos de um minuto, sentiu o efeito, uma explosão de energia. Mal conseguia ficar parado, precisou sair e dar algumas voltas pelo quarteirão para ficar satisfeito. Depois entrou em casa muito alegre e comemorando a descoberta.

– Beleza! Descobri mais um! Show! – gritava esquecendo que sua irmã também estava em casa.

Estava tão contente e emocionado que não ligou para mais nada. Queria apenas saciar a sede que sentia, quando retornou para sala, finalmente, reparou na irmã com os braços cruzados e uma cara bem feia de reprovação.

– O que você está fazendo? – Renata imaginava que o irmão estava planejando fazer besteiras por aí.

– Nada! Nada! Tive uma ideia, se meu poder estivesse ligado a outros vegetais, então fui experimentar outra coisa…

– Você quer matar a nossa mãe de preocupação? O que você acha? Vai colocar uma máscara e uma cueca de fora e combater a porra do crime na cidade inteira! Vai acabar morto, Alex! E vai matar a nossa mãe também! Você não pensa nela, nem em mim?! – reclamou Renata com a voz e o rosto alterados.

– Não! Eu não… Eu tô aprendendo o que sou capaz de fazer, foi só curiosidade, não tô pensando em combater o crime, tá doida? De onde tirou isso? – respondeu Alex tentando acalmar a irmã. – E essa história de cueca é invenção de desenhista de quadrinhos do século passado. Ninguém faz isso, é esquisito – comentou imaginando usar um uniforme desses.

Renata pareceu mais convencida com a conversa de Alex, ficou um pouco mais calma, sentou e continuou falando com ele.

 – Olha, a mãe não demonstra, mas está bem nervosa com essa novidade, ordenou para gente não falar com ninguém, pois tem medo do que pode acontecer contigo.

– Eu sei, sequestro, ser dissecado, estudado…

– E morto! Não esqueça disso! – alertou a irmã. – Entendo a sua animação, mas você não pode ser descoberto, entendeu? – exigiu Renata.

– Eu sei disso, não falar com ninguém, não competir com poderes, não combater o crime ou erguer as coisas, ninguém vai ver, nunca saberão, eu juro! – falou Alex lembrando de todas as recomendações da mãe dele. – Não se preocupe, tá? Eu sou bem cuidadoso! – disse.

– Você não é nada…

Então o portão da casa deles começou a abrir, seguido de um freio alto de carro e uma gritaria.

– Desce, desce! Perdeu, perua! Desce do carro! – gritou um homem lá fora.

– Sai! Perdeu, sua #@!#! Entrega a chave! – gritava outra pessoa.