Apesar de ser até bastante falado, o DIU ainda desperta muitas dúvidas e muitos detalhes podem passar despercebido sobre esse assunto, como o fato dele servir como método contraceptivo de emergência. Você já tinha essa informação?

Vamos lá! Para adentrar o assunto, vamos do comecinho:

A trajetória do DIU na humanidade é cheia mitos, com momentos de aceitação e de rejeição até hoje! Os estudos apontam que Hipócrates teria notado que a colocação de objetos no útero poderia funcionar como uma barreira para impedir a fecundação (Lembrando que ele provavelmente nasceu em 460 a. C.!).

Ao longo dos séculos estudiosos foram aperfeiçoando as técnicas, materiais e testes até que por volta da década de 60 o DIU começou a ser comercializado. No Brasil, o seu acesso ficou mais fácil ao estar disponível pelo SUS em 2000, onde segue de forma gratuita até hoje.

O DIU em si consiste em um dispositivo intrauterino, como o termo já sugere, colocado na cavidade interna do útero. Existem diversos formatos e materiais que podem ser utilizados para esse dispositivo, como: Formato de ‘’Y’’, formato de ‘’ferradura’’, material de prata, cobre… Os mais conhecidos e utilizados são em formato de ‘’T’’, feitos de cobre ou recobertos com hormônio.

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Nesse artigo, vamos focar nos dois principais, ok? Eles são o DIU de Cobre e o DIU Mirena. Aprenda a diferenciar a seguir:

DIU de Cobre: É revestido somente com cobre ou com cobre e prata. Ele é uma das principais escolhas para quem quer um método livre de hormônios e que funcione a longo prazo (5 a 10 anos). Pode ser utilizado em qualquer idade e não interfere na amamentação. Os efeitos que podem ocorrer no corpo são cólicas e fluxo mais intenso, especialmente nos primeiros meses. Funciona impedindo a fixação do óvulo e afeta os espermatozoides através da ação do cobre.

DIU Mirena: Possui o hormônio levonorgestrel, que é liberado no útero após a inserção. O Mirena pode ficar até 5 anos no corpo, pode contribuir com a redução do fluxo menstrual e das cólicas. Seus possíveis efeitos colaterais são os mesmos dos outros métodos hormonais, pode ocasionar enjoos, aumento de peso, diminuição da libido, dores de cabeça, retenção de líquidos, etc. Funciona dificultando as ovulações e impedindo a fixação do óvulo.

Os dois tipos de DIU possuem alta taxa de eficácia! A taxa de falha do de Cobre é por volta de 0,6% e o Mirena apenas 0,1%.

Para colocar o DIU é até bem mais simples do que muitas pessoas imaginam. Dura menos de 30 minutos e pode ser feito no próprio consultório ginecológico. Preferencialmente a inserção deve ser feita no período menstrual, caso não esteja menstruando, será necessário um teste de gravidez para comprovar que não está grávida.  O procedimento costuma não causar muita dor, algumas pessoas sentem incômodos, porém não é necessário a anestesia.

Depois de colocado, o profissional deixa um pedaço do fio do DIU para fora do útero, no canal vaginal. Esse fio servirá como indicativo que o dispositivo está posicionado corretamente e facilitará sua retirada futuramente. Vale ressaltar de que apesar da pessoa conseguir sentir com o dedo esse fio, ele não atrapalha e não é sentindo durante uma relação sexual com penetração.

Após os procedimentos, especialmente do caso do DIU de Cobre, é comum mulheres relatarem aumento do fluxo menstrual e cólicas. Porém, a mulher deve procurar o médico responsável caso apresente alguns sintomas como febre, calafrios, inchaços, fortes dores abdominais, aumento de muco, dor ou sangramento nas relações sexuais ou até ter o dispositivo expelido do útero.

Esse método contraceptivo ainda não é o mais utilizado em nosso país, mas a procura por ele tem aumentado devido ao maior acesso à informação e devido a mais planejamentos reprodutivos.

O DIU pode ser vantajoso porque além da sua alta eficácia, ele é de longo prazo, não precisa monitorar todos os dias (igual as pílulas), não interfere na amamentação, não tem idade mínima (mas precisa de recomendação médica) e é um método reversível.

Agora você que já sabe um pouco sobre o DIU, está na hora de entender mais uma grande vantagem dele, que muita gente ainda não conhece:

A contracepção de emergência se baseia em métodos utilizados para evitar gravidez no caso de falhas (como esquecimento do uso de anticoncepcional ou ruptura do preservativo), esquecimento, agressões sexuais ou não utilização de contraceptivos em relações sexuais. A Pílula do Dia Seguinte ou Pílula do Dia D é o método de emergência hormonal mais conhecido entre a população, ela pode possuir taxa de eficácia de até 95% quando utilizada em até 12 horas após a relação sexual, mas essa taxa pode variar muito dependendo da fase do ciclo menstrual que a mulher se encontra, pois age bloqueando ou retardando a ovulação, quando a pílula é tomada justamente no período que está ocorrendo a ovulação, a taxa de eficácia diminui.

Essas pílulas podem ser encontradas facilmente em farmácia, não são tão caras e muitas vezes não necessitam de prescrição médica. O grande problema é o uso indiscriminado desse medicamento por possuir uma maior dosagem hormonal e poder apresentar efeitos colaterais como dores abdominais, dores de cabeça, náuseas, sensibilidade mamária e desregulação do ciclo menstrual de forma temporária.

Uma grande saída, livre de hormônios e com maior taxa de eficácia (quase 100%) é a inserção do DIU de Cobre em até cinco dias após a relação sexual, nesse período ele tende a ser mais seguro e eficaz. Além de poder evitar uma gravidez naquele momento, ele pode evitar a contracepção por mais alguns anos, caso a pessoa deseje.

Nesses casos, o DIU hormonal não é indicado.

A alta taxa de eficácia desse método se dá porque ele pode impedir a contracepção, devido a conseguir impedir a fertilização do espermatozoide com o óvulo e mesmo se a fecundação já tiver acontecido, ele é capaz de impedir a implantação no útero (onde de fato começaria a gestação). Nenhum método de contracepção de emergência permitido no Brasil é abortivo! Eles não são capazes de interromper uma gravidez estabelecida, nem prejudicar o desenvolvimento de um embrião. Mas existem sim limitações para a inserção no caso de gravidez já estabelecida, infecções ou doenças preexistentes, o que deve ser avaliado por um profissional especializado.

Os dois métodos citados nesse artigo são de grande importância para a nossa sociedade. Métodos contraceptivos podem falhar, falta apoio, falta informação de qualidade para todos e todas, falta acesso aos contraceptivos, fora os inúmeros casos de violência e abusos sexuais. Qualquer mulher em idade reprodutiva, pode estar sujeita a uma gravidez não planejada, independentemente do motivo ou circunstâncias, devemos reconhecer nossos direitos, buscá-los e garanti-los.

Levar informação sobre esses métodos, fazendo com que as pessoas tenham acesso e saibam a forma correta de utiliza-los ou onde encontrar ajuda. Isso pode contribuir demais no planejamento reprodutivo e na saúde íntima, especialmente das mulheres. Esse planejamento é capaz de criar bases e ambientes mais saudáveis para os indivíduos, onde poderão se preparar, por exemplo, psicologicamente e financeiramente para ter ou não filhos.

Falar sobre esse assunto deveria ser rotineiro e estar presente em diversos programas de assistência, junto com o incentivo a proteção e prevenção contra as Infecções Sexualmente Transmissíveis. A luta e aprendizado é diário, devemos nos manter firmes e buscar uma educação em saúde eficaz e mais acessível, para todos e todas!