Essa frase do título é uma das que mais escuto quando estou trabalhando nas comunidades rurais, ou nas escolas, ou até mesmo numa conversa entre amigos. Sempre que me perguntam, vou falar sobre alimentação.

Lembro que uma moça, fitness real oficial e protetora de cães e gatos,  durante uma conversa de boteco, descobriu que eu era médica veterinária e me perguntou quantos ovos uma galinha bota por dia. Respondi que as galinhas que vivem em granjas de postura, específica para a produção de ovos, botam aproximadamente um ovo por dia. Ela ficou, desculpem o trocadilho, chocada!!! “Coitadas!!! Eu como 6 ovos por dia!!!”. Complementei que as galinhas que vivem soltas, sem ter o foco na produção de ovos, botam entre 50-80 ovos por ano durante sua fase de postura.

Não satisfeita, ela me perguntou: “Então, é verdade que usam hormônios para que os frangos fiquem tão grandes tão rápido?”. Outro choque. Não, isso não é verdade. A legislação agropecuária brasileira proibe o uso de hormônios com essa finalidade. O que acontece na realidade é que animais foram selecionados geneticamente para que ficassem grandes em pouquíssimo espaço de tempo. Menos de 50 dias. É uma vida miseravelmente curta.

Nesse momento já estavam todos deprimidos na mesa do boteco. Em minha defesa, só respondi o que me foi perguntado.

Semana passada, ao fazer reunião com duas comunidades de produtores rurais, falamos sobre leite. Leite cru x Leite pasteurizado. O leite cru é o que você ordenha diretamente da vaca e não sofreu nenhum processo físico de transformação. É muito utilizado nas propriedades rurais, porque, obviamente, você tendo a fonte do leite na sua casa, sendo produtor rural de produção de leite, dificilmente você vai comprar leite de caixinha. E aí que começa a nossa saga leiteira.

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  1. Doenças são mais prováveis de ser transmitidas pela ingestão de leite sem pasteurizar.
  2. O leite ser fervido sem tempo e sem temperatura definidos, não adianta. Ou o tratamento não elimina todos os organismos patogênicos ou o tratamento supera o binômio tempo  temperatura ideal e você acaba oferecendo para sua família uma aguinha branca adocicada (quebra as proteínas e carameliza os açúcares).
  3. As medicações e outros tratamentos medicamentosos que sujeitamos as vacas sairão no leite na maioria dos casos. Inclusive os antibióticos, causando uma resistência a antibióticos nos seres humanos também.
  4. Outra parte dessa medicação é eliminada na urina e fezes, causando possível contaminação da água.

Já na saga “Eu sei que ninguém caça, mais vou deixar aqui essas informações despretensiosamente”:

1- Animais silvestres também têm várias doenças zoonóticas (que são transmitidas do ser humano para os animais e vice-versa), além das que a gente já está mais acostumado, como Brucelose, Tuberculose, Leptospirose, etc.

2- Não adianta só cozinhar bem cozida a carne, porque algumas dessas doenças infectam os seres humanos só de “descarnar” o animal morto

3- Outras doenças, inclusive, podem causar infecção humana só de você se meter nos habitats naturais desses animais.

Aproveitei e emendei, lá no boteco, os cuidados com a preparação das comidas, porque, afinal de contas, outras doenças zoonóticas podem ser transmitidas através de ingestão de produtos de origem animal (ovo, carne, mel, leite) ou até mesmo através de vegetais.

http://by%20gila%20brand%20at%20en.wikipedia%20-%20own%20work%2C%20cc%20by%202.5%2C%20https//commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4357567

 

Foi então que escutei o famigerado: “Ah! Não dá para comer mais nada. Vou ter que me alimentar de luz.”

Alto lá! Porque a luz, além de insolação, pode te dar câncer de pele.

Mas falando seriamente, e essa é a forma que geralmente encerro esse assunto quando ele vem a tona, a informação correta é o que nos protege. É necessário saber onde estão os problemas para tomarmos nossas ações. É pura e aplicada gestão de risco. Devemos saber todos os problemas, alterações, possibilidades para que tomemos nossas ações de forma mais benéfica. Saber como manusear, estocar, higienizar, cozinhar nossos alimentos é de extrema importância e isso é Educação em Saúde, que trabalha exatamente com isto: a prevenção de doenças.

Quanto aos tipos de criação, os impactos à saúde dos animais, à saúde pública e ao meio ambiente, eles também são fatores relevantes nas tomadas de decisões que fazemos ao consumir um produto.

As informações estão e estarão disponíveis para que você tome conhecimento e conscientemente tome suas próprias decisões, avaliando as possibilidades, os riscos e benefícios dentro da sua rotina, do seu cotidiano.