Você conhece alguém que tem HPV, e isso é uma afirmação. A estimativa é que 75% a 80% da população entre em contato com um dos vírus do HPV ao longo da vida. Um vírus tão comum e tão pouco discutido ainda é um tabu que pode ser quebrado com as informações certas.

O HPV é uma sigla em inglês para o Papilomavírus Humano, que representa um vírus capaz de infectar a pele e/ou mucosas que ficam na região oral, genital ou anal, causando verrugas nessas regiões. Porém a maioria das pessoas não apresenta qualquer sintoma, dificultando sua identificação e “facilitando” sua transmissão!

É considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) porque a transmissão se dá pelo contato direto com a mucosa ou pele infectada, que costuma acontecer em relações sexuais. Porém há exceções, como infecção durante o parto em uma transmissão da mãe para o filho.

O HPV pode ficar no nosso corpo por anos sem apresentar sintomas, acontece geralmente entre dois e oito meses, mas pode até demorar décadas. A presença de lesões normalmente se dá devido a uma baixa na imunidade e consequente multiplicação do vírus no organismo. As lesões costumam regredir e passar naturalmente em até 24 meses.

Existem mais de 200 tipos de vírus do HPV, eles são classificados de baixo risco e alto risco agrupados pelo potencial oncogênico.

Já as lesões podemos dividir em:

Clínicas: aparecem verrugas na região genital e no ânus, podem ser reconhecidas popularmente como “crista de galo”. A quantidade e o tamanho delas variam e, apesar de não ser o mais comum, podem apresentar coceira local, prurido, hiperemia variável e descamação local. O tratamento pode consistir na destruição das lesões (verrugas). Sempre vale lembrar que isso não elimina o vírus e as lesões podem reaparecer, então o tratamento completo também deve incluir os cuidados com a imunidade e frequente acompanhamento médico

Subclínicas: não apresenta características de infecção a olho nu, mesmo assim são capazes de transmitir o vírus em regiões como as genitais, ânus, períneo, colo do útero, boca, etc. Nesses casos, a única forma de detecção é molecular.

Alguns fatores podem aumentar as chances de infecção por HPV, como número de parceiros sexuais, higiene inadequada, ausência da circuncisão masculina, etc. Entretanto, a transmissão do HPV também não remete apenas a um grupo, todo mundo que tem relações sexuais tem chance de contrair o vírus, independente de gênero, sexualidade e frequência sexual.

A via de transmissão pode ser oral-genital, genital-genital e manual-genital. Mesmo não havendo penetração e até mesmo com o uso de camisinha, há risco de contrair.

Então… se nem a camisinha confere total proteção, o que fazer?

 

VACINA 

A melhor opção que temos atualmente é a vacina contra o HPV e ela pode ser encontrada no nosso SUS. Com indicação para:

  • Meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos;
  • Homens que vivem com HIV, transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou pacientes oncológicos na faixa etária de 9 a 26 anos;
  • Mulheres que vivem com HIV, transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou pacientes oncológicos na faixa etária de 9 a 45 anos.

É necessário ressaltar que a vacina não é eficaz contra infecções já existentes no organismo e não é capaz de prevenir todos os tipos de HPV.

 

EXAME PREVENTIVO

Outra forma de prevenção superimportante é o exame preventivo, também conhecido como Papanicolau, que é um exame ginecológico capaz de detectar células anormais no colo do útero. Apesar de não detectar o vírus, pode detectar as lesões antes da formação do câncer de fato, já que as lesões identificadas no início possuem tratamento e cura.

Por isso é tão importante ter os exames em dia, mesmo para quem já se vacinou!

A recomendação sobre quem deve e com qual frequência deve fazer o exame de prevenção é:

  • Deve começar a ser feito a partir dos 25 anos em pessoas com útero e que já tiveram relação sexual. Antes dos 25 anos as lesões normalmente apresentam baixo grau e tendem a regredir espontaneamente, muitas vezes até passando despercebido;
  • Após dois ou três exames anuais seguidos com resultados negativos, o exame pode começar a ser feito a cada 2 ou 3 anos;
  • Após os 65 anos, com resultados anteriores normais, o risco é bem menor, por isso o exame não é algo mais imprescindível;
  • A frequência do exame pode e deve ser maior em casos em que já é detectado o vírus no corpo e em pessoas portadoras do HIV ou imunodepremidas. Normalmente deve ser feito a cada 6 meses ou segundo a orientação médica.

 

PRESERVATIVO

Outro grande aliado das IST’s não poderia deixar de estar presente: o preservativo. Ele pode prevenir a infecção, porém existem áreas que não são protegidas pela camisinha (escroto e vulva, por exemplo) e é aí que a pessoa pode adquirir o HPV mesmo fazendo o uso certinho. A camisinha feminina possui uma área maior de proteção, portanto ela é mais indicada para quem busca essa prevenção.

E não custa nada ressaltar que isso não descarta e nem desvaloriza a importância da camisinha em todas as relações, já que ela também evita outras Infecções Sexualmente Transmissíveis.

Você sabe por que um vírus tão comum e com “poucos” sintomas (se comparado a outras IST’s) deve ser tão discutido?

Esse vírus é um dos principais causadores do câncer do colo do útero.

O câncer do colo do útero atinge milhares de mulheres e possui como principal responsável o HPV e é responsável por milhares de mortes, apesar de geralmente ocorrer de forma lenta, passando por diversas fases. Felizmente, além dos métodos de prevenção, pode ser evitado também com diagnóstico e tratamento precoce.

A informação de qualidade sobre educação sexual e saúde íntima vêm como base e como aliadas tanto para a prevenção quanto para o diagnóstico precoce e consequente cura para salvar vidas e garantir o bem-estar.

Além disso, o conhecimento é imprescindível na luta contra o preconceito que ainda existe e pela luta por políticas públicas que facilitem o acesso à prevenção.

O diagnóstico de uma IST vem com o peso do prejulgamento da sociedade e, mesmo com informação, essa notícia pode não ser fácil para quem a recebe porque trata de um vírus que pode acompanhar a pessoa por toda a vida. Cabe aos profissionais da saúde, família e amigos ter empatia, acolher e incentivar os tratamentos e monitoração com exames para tornar tudo mais leve e trazer mais qualidade de vida para o indivíduo, sem julgamentos.

Referencial:

Carvalho, Karine Faria et al. A relação entre HPV e Câncer do Colo de Útero: Um Panorama a Partir da produção Bibliográfica da Área. Revista saúde em Foco. 2019, Edição n° 11. Pg 264-278.

Abreu, Mery Natali Silva et al. Conhecimento e percepção sobre o HPV na população com mais de 18 anos da cidade de Ipatinga, MG, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2018, v. 23, n. 3.pp. 849-860.