Ainda no milênio passado, o escritor Isaac Asimov idealizou três leis da robótica para um desenvolvimento seguro de robôs e mecanismos de inteligência artificial, tentando não deixar acontecer  possíveis excessos e perigos para a vida humana, que poderiam ser causados por robôs que pensam por si próprios. Mesmo que esses escritos estejam nas prateleiras de ficção das livrarias, eles podem se mostrar muito atuais, com o mundo caminhando a passos rápidos para uma mudança agressiva da nossa sociedade.

Foi também nessa época que Alan Turig (que teve uma parte de sua trajetória contada no filme O Jogo Da Imitação) desenvolveu, por meio de um artigo chamado Computing Machinery and Intelligence, um teste que desafia máquinas, buscando medir a capacidade delas de exibir um comportamento humano. Esse teste, por mais que seja bastante antigo, continua sendo usado até os tempos atuais para desafios cada vez mais inovadores de sistemas de inteligência artificial.

Então, fala-se muito nessa grande revolução que chegará em breve, e poderá se equiparar a grandes marcos da nossa história, como a revolução industrial, a criação da energia atômica ou mesmo a corrida espacial durante o período conhecido como Guerra Fria. Se ao menos algumas previsões estiverem certas, a mudança de tudo o que conhecemos hoje se dará de forma agressiva e rápida, deixando pouco do mundo que conhecemos para trás.

Baseado nisso podemos pensar em três tipos de cenário que podem ser usados para visualizar tanto o futuro de uma maneira a incluir essas demandas em discussões internacionais, quanto à regulação e a proteção dos seres humanos com a sua relação com organismos de inteligência artificial.

Essas mudanças, podem se apresentar de maneiras muito diversas. A humanidade pode caminhar para uma vida utópica de paz, em que todas as necessidades humanas serão supridas por seres autônomos. O sistema de capital que hoje impera internacionalmente deixará de fazer sentido, visto que a produção será feita por autômatos não biológicos Nesse cenário os seres humanos não vão mais precisar realizar atividades laborais, tendo todo seu tempo livre para aproveitas as doçuras da vida, pelo fato de que os sistemas autônomos poderão resolver quase todos os problemas da humanidade.

Outro cenário, porém, seria a calamidade completa e a ruína de tudo que conhecemos como sociedade, com a dominação mundial exercida por máquinas endiabradas e sem controle. A moral e a ética seriam resinificadas para beneficiar a inteligência artificial por si só, tornando o humano algo a ser descartado. Esse tipo de futurologia aparece em famosos filmes como Matrix, em que a humanidade se tornou uma mera nota na história, tendo sido solapada por poderosas máquinas autônomas.

Imagem Matrix da “plantação de humanos”

Nesse sentido podemos pensar que muitas vezes, em um futuro distópico, as inteligências artificiais não seriam naturalmente más, não tentariam destruir a sociedade baseadas em ideias sádicas, ou em um plano de poder global organizado por máquinas nefastas. O que poderia ocorrer é que a sociedade e os seres humanos seriam tão irrelevantes que as máquinas poderiam se livrar de nós como você se livra de um pernilongo irritante.

A maioria de nós, ao esmagar o pequeno hematófago voador, normalmente não se coloca em uma batalha moral para tentar justificar o assassinato ocorrido, mas sim apenas leva isso como um fato normal do seu dia a dia. A grande questão é que um dia podemos ser os pequenos pernilongos que estão cutucando grandes entidades da inteligência artificial com nossas armas ineficazes perante um poder tecnológico tão assombroso que seria análogo à magia.

O terceiro cenário, que na opinião do autor desse texto é o mais provável, é que o futuro reserva para a nossa sociedade uma grande mistura dos dois mundos acima. Mas como uma grande utopia pode se misturar com um mundo destruído e gerar assim outra possibilidade?

Nesse terceiro cenário, pode-se ver a existência massiva da automação do trabalho humano, com os grandes detentores de capital se beneficiando disso para ter trabalhadores muito eficientes, que podem trabalhar durante as vinte e quatro horas do seu dia, e que certamente nunca vão apresentar um atestado médico. Essa automação poderá criar uma geração de pessoas sem utilidade, que não exercem qualquer trabalho, mas também não recebem renda, gerando um grande problema que precisa ser discutido em âmbito internacional.

Assim chega-se ao cerne desse texto, e à resposta do provocativo título. Será mesmo que vamos ser substituídos pelas máquinas em um futuro próximo? Infelizmente, incauto leitor, eu não poderei responder essa pergunta de forma objetiva, mas desde já apresento talvez uma solução para um futuro que surge no horizonte.

É possível sim que as máquinas substituam a maior parte dos trabalhos humanos, deixando uma população carente em conseguir manter suas vidas com dignidade, gerando enormes contingências sociais, e também revoltas por uma grande parte da população que não poderá mais se sustentar. A destruição do trabalho como conhecemos pode ser um grande fator de destituição dos importantes Direitos Humanos, que foram arduamente conquistados e positivados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, frente às barbáries que ocorreram na segunda grande guerra mundial.

Assim, as discussões sobre isso se encontram em forte desenvolvimento, e existe uma dupla de soluções que podem trazer algum alento para nossos temores, visto que todos seriam impactados pela automação da força de trabalho de maneira ostensiva. Claro que essas soluções são de caráter preliminar e ainda precisam ser testadas de maneira mais abrangente, mas precisamos suscitar ideias para gerar o conhecimento necessário para o futuro.

O que pode ser feito é a taxação sistemática do trabalho autônomo pelo Estado, tributo esse que seria baseado em sua produção. Então, mesmo que o sistema produza 10 vezes mais do que um ser humano, ele também pagaria taxas mais altas. Isso daria condições do Estado se subsidiar para arcar com a segunda solução que logo será apresentada.

Visto a automação das vagas, poderia ser então pensado um sistema de renda básica universal, que usaria dos tributos robóticos para arcar com essa dívida que certamente seria bastante elevada. A renda básica universal é um valor pago pelo Estado para qualquer membro de sua nação, independente de condições objetivas ou subjetivas, não importando também outras fontes de renda que a pessoa possa receber (Experiência da renda básica universal está acontecendo agora na Finlândia).

Existem hoje alguns documentos importantes, que podem ser buscados pelos leitores do texto, como as Orientações Éticas para uma Inteligência Artificial de Confiança, que foi desenvolvido por um grupo independente de peritos sobre a inteligência artificial criado pela comissão europeia no ano de 2018. Também no nosso país temos alguns projetos de leis que tratam da inteligência artificial, visto que urge no mundo uma grande necessidade de se pacificar as condições de sua regulação, para que as coisas não saiam do controle (vou colocar os projetos nas referências).

O que se entende por regulação, baseado na leitura de todos esses documentos, é que existem alguns pontos comuns entre para assegurar a proteção do ser humano com o crescimento exponencial da tecnologia. Por isso se necessita que os sistemas sejam desenvolvidos respeitando a autonomia humana, com supervisão irrestrita e também o respeito aos menos favorecidos de uma forma mais contumaz.

Terminando a jornada pelo futuro do trabalho humano, podemos concluir que não sabemos de fato os contornos que o mundo irá adquirir com uma massiva influência da inteligência artificial, mas isso certamente não é mais uma questão de “se”, mas sim uma questão de “quando”. Mesmo que alguns estudiosos neguem a possibilidade de que a inteligência artificial (IA) um dia possa existir de maneira plena, com máquinas pensando como humanos devido a falta do desenvolvimento do inconsciente e das questões subjetivas, a IA existe e veio para ficar.

Quando o dia chegar, precisamos ter certeza que os interesses das máquinas estejam de acordo com os nossos interesses, caso contrário, podemos estar em graves apuros, pois a existência de um grande poder pode limitar a vida e ao trabalho humano a posições bastante desagradáveis.

Como diria nosso grande físico Stephen Hawking em seu livro Breve Respostas Para Grandes Questões:

Por que estamos tão preocupados com a inteligência artificial? Sem duvida o ser humano sempre será capaz de apertar o botão de desligar

 

Deus existe? Perguntaram as pessoas a um computador

Agora existe. Respondeu o computador, e derreteu o botão de desligar.

 

Ver também

Orientações Éticas Para Uma Inteligência Artificial de Confiança da União Européia (2019)

Projeto de lei n° 21 pelo deputado Eduardo Bismarck – Direitos e Deveres para a IA (2020)

Projeto de lei n° 5051 pelo senador Styvenson Valentimm – Justifica o uso e a importância da IA (2019)

Projeto de lei de número 5691 senador Styvenson Valentim – institui a política nacional de inteligência artificial (2019)

 


Tiago Protti Spinato. Mestre em direitos humanos e pesquisador da área de novas tecnologias e suas influências na sociedade. Busca deixar o mundo um lugar mais justo, mestrando em direito e apaixonado pela ciência e por sua divulgação.