Independence Day, o filme de 1996 é uma produção de segunda categoria por excelência. Ele possui um enredo para lá de batido (a invasão alienígena) fazendo uso de excelentes efeitos visuais para contar como a humanidade deu um cacete nos invasores. O mais engraçado é que na América o filme é visto como uma produção patriótica, quando na verdade era uma chacota escancarada ao nacionalismo colocando o país como aquele que liderou a retaliação no 4 de julho, o Dia da Independência dos Estados Unidos.

O filme em si era bobo, superficial e clichê, ou seja uma produção perfeita para uma matinê, indicada a todos que só querem se divertir. Agora, 20 anos depois a sequência Independence Day: O Ressurgimento segue a mesma fórmula, apostando nos mesmos elementos que deram certo da primeira vez. E acertando.

Aviso: a partir deste ponto teremos leves SPOILERS para fins apenas de contextualização; se mesmo assim você não deseja saber nada da história, pule para a conclusão.

“♪ Ói Nóis Aqui Traveiz! ♫”

Antes de mais nada é preciso deixar uma coisa bem clara: quem não gostou do primeiro filme por achá-lo bobo e exagerado vai detestar o segundo, porque a fórmula é a mesma. O diretor/produtor Roland Emmerich é um mestre quando o assunto é destruir o planeta, além de ID4 temos 2012 e O Dia Depois de Amanhã como dois dos melhores exemplos. A parceria com o produtor Dean Devlin, que rendeu além de Stargate, a primeira (e terrível) versão norte-americana de Godzilla foi desfeita após O Patriota (2000), mas foi retomada aqui para abordar um desejo comum de ambos: contar uma nova história após os atos de heroísmo que livraram a Terra dos ETs.

Quase todo o elenco principal está de volta, aliado a algumas caras novas. Jeff Goldblum (o Seth Brunble/Brundlefly de A Mosca e o dr. Ian Malcolm de Jurassic Park) volta a viver o dr. David Levinson, que nos últimos 20 anos ajudou a coordenar os esforços da Terra não só em absorver a tecnologia alienígena, mas também para combater os refugos alienígenas. Isso é uma sacada legal que o filme original não abordava, as naves que caíram estavam cheias de aliens que não morreram e eles ofereceram resistência por pelo menos uma década em diversos pontos do mundo, principalmente na África.

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Os humanos instalaram bases de observação e defesa na Lua e em Saturno, desenvolveram transportes, armas e sistemas de comunicação mais poderosos, mas nada disso é o bastante para aplacar os medos tanto de Levinson quanto do ex-presidente Thomas Whitmore (Bill Pullman, de Spaceball e Enquanto Você Dormia): a possibilidade dos invasores voltarem. O dr. Brakish Okun (Brent Spiner, o Data de Star Trek: TNG), o excêntrico cientista da Área 51 ainda está vivo e também desempenha papel importante na trama. Eles são auxiliados pela dra. Catherine Marceaux (Charlotte Gainsbourg, de 21 Gramas e Anticristo, e filha do lendário cantor francês Serge Gainsbourg, aquele), uma psiquiatra que descobre estranhas ligações entre os aliens e uma mensagem que muitos envolvidos no incidente parecer ter captado por contatos anteriores.

Quem não voltou foi justamente Will Smith. O ator exigiu um cachê mais alto do que a Fox estava disposta a pagar para contar com o capitão Steven Hiller no elenco, e digamos que a solução encontrada para justificar sua ausência não foi bem digerida por ele. É bom para aprender a não fazer doce.

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Evolua ou morra

A nova geração é representada por jovens de uma geração que cresceram acreditando que era possível resistir novamente a uma ameaça interplanetária, como Dylan Miller (Jessie Usher, de Quando o Jogo Está Alto), filho do capitão Hiller e também piloto, seu rival Jake Morrison (Liam Hemsworth, de Jogos Vorazes), piloto estacionado na Lua, seu parceiro e irmão de criação Charlie Ritter (Travis Tope, o Joe Harper de Boardwalk Empire), a tenente Rain Lao (Angelababy, modelo chinesa que fez uma ponta em Hitman: Agente 47; esta é sua primeira participação grande num filme de alcance global e ela não faz feio, olho nela) e Patricia Whitmore (Maika Monroe, de A Corrente do Mal), a filha do ex-presidente, noiva de Morrison e ex-piloto de caça, hoje assessora da presidente dos EUA Elizabeth Lanford (Sela Ward, a Stacy Warner de House).

Toda essa turma se reunirá para enfrentar aquilo que todo mundo já esperava: os alienígenas estão de volta e desta vez não estão MESMO para brincadeiras, a nave-mãe é do tamanho de um continente e seu objetivo é bem menos “amistoso” do que o anterior. Sem luvas de pelica desta vez, e para sair dessa será preciso bem mais do que apenas um novo arsenal de armas futuristas, caças melhores e ideias malucas tiradas da cartola.

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Dica: deixe o cérebro em casa

No que diz respeito ao roteiro, ID4: O Ressurgimento é tão absurdo quanto o primeiro filme. Aceitar que uma nave tão grande só foi detectada quando passava pela Lua só é aceitável se você efetivamente ligar a suspensão de descrença no máximo.

Assim como no original, em que fomos convencidos de que um técnico de TV a cabo um piloto convencido e um louco suicida salvaram o mundo com um vírus de computador, um mergulho no canhão de um destroyer e uma única ogiva nuclear, quem não relaxar ao ponto de aceitar a sucessão de maluquices que ocorrem em 120 minutos vai sair da sala xingando Deus e o mundo. Já os demais, que entendem a proposta de uma diversão sem culpa e gostaram do primeiro vão amar este filme.

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Entretanto, este novo ID4 erra em um ponto crucial: ele tem um senso de urgência. No primeiro filme toda a história se desenrolava durante três dias enquanto os alienígenas dizimavam uma cidade por vez. Isso permitiu o dr. Levinson descobrir a “gripe” que desativou os escudos das naves. Aqui a ação ocorre em menos de 24 horas e há um problema que exige solução imediata, o que compromete a exploração de outros elementos. A grande cena da destruição massiva que a nave alienígena causa é curta e não entrega a mesma sensação do original: na minha sessão em 1996 todo mundo grudou na cadeira, e o público soltou gritos de vitória quando o primeiro destroyer caiu. Neste novo filme, nada feito.

Entretanto a cena é fantástica, a maneira como a devastação se apresenta é algo lindo de se ver. Pena que ela não durou tanto quanto deveria, mas se serve de consolo ID4 agora é uma franquia…

Fim dos SPOILERS.

Conclusão

Eu assisti ID4 em 1996 na estreia. Como um adolescente eu esperava uma aventura com aliens como inimigos e não saí da sala decepcionado. Ele tinha tudo que um filme de ação divertido precisava, e gostei tanto que eu tinha a versão em HQ.

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Independence Day: O Ressurgimento peca por ter um sentido de urgência desnecessário, mas tudo que tornou o original um clássico dos filmes B está presente novamente. Devlin e Emmerich mais uma vez entregam o que todos querem, um filme catástrofe e eles são os melhores nisso.

Nota: 4 de 5 aliens.

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