
A vida da forma que conhecemos hoje é baseada em carbono, mas será que é possível existir vida em que o principal elemento é outro?
Para que a vida seja possível é preciso que haja uma diversidade de moléculas com diferentes funções. Por isso, é imprescindível que haja um elemento químico que possibilite a formação de ligações com ele mesmo, formando diferentes estruturas, assim como a ligação com outros elementos. Além disso, essas estruturas precisam ser estáveis e ter uma reatividade baixa.
Os seres vivos têm suas células construídas a partir de moléculas em que a estrutura é feita de carbono (C). Isso é possível devido a algumas propriedades desse elemento, principalmente a maneira com que os átomos se ligam a outros.
Como o silício (Si) se liga à outros átomos de forma semelhante ao que o carbono faz e é um elemento muito mais abundante, cientistas e autores da ficção científica especulam há muito tempo se o silício poderia formar uma “bioquímica alternativa da vida”.

Excalbian. Uma das espécies de vida baseada em silício presentes no universo de Star Trek [Fonte].
Como o carbono e o silício são átomos tetravalentes que formam principalmente compostos covalentes, o silício parece ser uma escolha promissora como substituinte para o carbono, sendo que a primeira vez que alguém propôs que a vida poderia ter se desenvolvido com base no silício foi há muito tempo… em 1891!
O problema é que não há muitas outras semelhanças além disso…
Por conta de o átomo de silício ser maior que o átomo de carbono, os comprimentos das ligações com silício são maiores e os ângulos são diferentes daqueles formados com átomos de carbono. Isso tem efeitos importantes em estruturas que apresentam átomo de silício como elemento base, resultando em conformações e reatividades de compostos completamente diferentes, quando comparado com estruturas parecidas formadas com carbono.

Estruturas semelhantes baseadas em silício e carbono [Fonte].
Outras diferenças recaem sobre o fato de o silício ter orbitais que possibilitam que haja compostos coordenados com cinco ou seis átomos, sendo possível a formação de compostos diferentes daqueles formados com carbono. Além disso, o silício é mais eletropositivo que o carbono e outros elementos importantes em moléculas que permitem a vida como conhecemos, como o nitrogênio, oxigênio e hidrogênio. Isso gera ligações altamente polarizadas quando comparadas às do carbono com esses outros elementos, tornando as moléculas que têm silício como elemento estruturante sejam mais reativas.
Outro fator extremamente importante para a vida como conhecemos é o meio em que essas moléculas são estáveis. No caso de moléculas com cadeias longas de carbono, há a formação a partir de estruturas concatenadas de ligações C-C, porém como a ligação Si-Si não é muito forte, cadeias longas de silício são formadas por estruturas de ligações Si-O.
Mas o que isso tem a ver com o ambiente em que essas moléculas estão? Devido aos compostos com silício serem bastante reativos, pelas características que citei acima, e às ligações Si-O serem muito fortes, em ambientes ricos em oxigênio, como locais com água por exemplo, esses compostos podem ser decompostos, levando à formação de sílica (SiO2), que é um sólido. Lembrando que sua contraparte em estruturas de carbono é muito mais difícil de acontecer e leva à geração de um gás (CO2) que expelimos na nossa respiração. Já pensou se a gente expelisse pedrinhas quando respiramos?

Melhor nem imaginar como seria espirrar pedras…
Com tudo isso, fica claro que seria praticamente impossível a vida como conhecemos existir na Terra a partir de compostos de silício, porém, sabendo que um bom solvente para os compostos de silício em que as estruturas se mantêm estáveis é o ácido sulfúrico, Vênus poderia ser habitado por vida siliconada, já que as nuvens nesse planeta são formadas por ácido sulfúrico!
E isso tudo é assunto antigo, tanto que em 1894, o autor H. G. Wells escreveu em um artigo (tradução livre):
Alguém poderia se assustar diante de tal sugestão: visões de organismos de silício-alumínio — ou por que não homens de silício-alumínio de uma vez? — vagando por uma atmosfera de enxofre gasoso, digamos, às margens de um mar de ferro líquido, alguns milhares de graus acima da temperatura de um alto-forno.
Quem sabe, então, as vidas venusianas não sejam baseadas em silício…
Mas voltando à Terra, por conta da abundância de oxigênio e água, ficamos com os compostos que são formados principalmente com ligações Si-O. Um destes compostos é o silicone, que tem a base da sua estrutura formada por ligações Si-O com grupos orgânicos ligados ao silício.

Estrutura do silicone. Onde R1 e R2 são grupos orgânicos (estruturas formadas por carbono).
Devido principalmente à flexibilidade do silicone ele é utilizado em diversas áreas, sendo que essa propriedade faz com que seja possível imitar até mesmo a textura da pele… de bebês. Diferente de outros materiais que são usados na produção de bonecas comuns, como o cloreto de poli(vinila) (PVC) e o polipropileno (PP), essa flexibilidade do silicone, faz com que ele seja um dos principais materiais utilizados na produção dos bebês reborn mais realistas!
Com isso, as únicas “vidas” baseadas em silicone no nosso planeta seriam os bebês reborn!

“Parto” de um bebê reborn [Fonte].