“Não se aprende o que o outro diz, aprendemos o outro; o professor não ensina o que diz, ele transmite o que é”.

Esse é o pensamento do educador José Pacheco, um dos idealizadores da Escola da Ponte em Portugal, tema que eu prometi no último post!

Fundada em 1976 em São Tomé de Negrelos, uma cidadezinha com cerca de 4 mil habitantes, esta escola é hoje referência mundial em educação.

O nome da escola é inspirado no “fazer a ponte”, na integração e responsabilização de todas as pessoas envolvidas na aprendizagem. Assim se induz uma relação intrínseca entre ambiente e indivíduo, na qual um só existe por causa do outro. E vice versa.

Mas o que esta escola tem de tão diferente, afinal? Tudo.

O nosso ensino tradicional vem de um modelo quase militar, em que continuamos produzindo cidadãos em série – de fato, primeira série, segunda série… – em um modelo de “aprendizagem por imposição”, como o próprio Pacheco define.

Combatendo esta imposição, o sistema proposto incentiva a autonomia dos alunos. Lá não existem turmas ou séries, os próprios estudantes decidem seus projetos e se reúnem de acordo com seus interesses em comum, independente da faixa etária, inclusive.

E estes projetos podem ser dos mais diversos. Entender sinais de trânsito, descobrir os animais que existem no parque, documentar qual a origem do bairro onde moram… qualquer coisa que interesse a um grupo de crianças aprender!

A partir daí, são elas quem decidem como trabalhar em conjunto e procurar as informações para o desenvolvimento do projeto. Claro que a escola disponibiliza recursos como livros, vídeos, internet, laboratórios, mas também incentiva os alunos a procurar a informação que precisam onde quiserem!

Estes grupos, então, planejam suas atividades e, depois de 15 dias, discutem com seu tutor a evolução daquele projeto. Caso todos concordem que a evolução foi satisfatória, o grupo é dissolvido e os alunos podem decidir por tocar um novo projeto.

Mas liberdade não é bagunça!

A escola possui três níveis de autonomia: a iniciação – quando o aluno necessita ainda de um tutor (que ele mesmo escolhe) – passando pela consolidação e o aprofundamento – etapa em que o próprio aluno passa a gerir suas atividades. Lá também não existem as disciplinas tradicionais. Os conhecimentos são agrupados em 6 dimensões: artística, pessoal e social, linguística, naturalista e lógico-matemática.

Tudo é pensado com foco na autonomia do aprendizado e são várias dinâmicas e recursos que a escola disponibiliza para os alunos neste sentido.

Existe um mural onde o estudante que se sentir pronto para ser avaliado em alguma dimensão pode escrever o seu nome: é o mural do Já Sei. A partir daí, um tutor entra em contato com o aluno e avalia se o conhecimento está consolidado ou se ainda precisa de novos projetos para evoluir.

Com uma mecânica semelhante, o mural do Preciso de Ajuda reúne o nome dos estudantes que estão com dificuldades em algum ponto. Neste caso, além do tutor, outros alunos podem ajudar também!

Resumindo bem, a ideia é que a aprendizagem deve ser autônoma – estimulada pelo ambiente – e coletiva – criando-se um vínculo com o outro.

O problema é que as escolas tradicionais não criam esta possibilidade.

Precisamos que elas permitam espaços onde alunos e professores possam refletir sobre o que se sabe e o que falta aprender.

Juntos.