Não sei você, meu amigo leitor, mas eu sou viciada em programas culinários. Pode ser de qualquer tipo, nacionalidade ou teor.  Sendo de comida, eu estou lá acompanhando, torcendo, chorando ou mesmo clamando que consigo reproduzir melhor que os participantes. Até aí tudo bem, certo? Cada um com seus vícios particulares…E foi apreciando um destes documentários temperados que acompanhei uma chef recebendo sua primeira estrela Michelin.

Michelin… Michelin!
“Engraçado como Michelin parece aquela marca de pneus, né?”

Se você não reparou escreve-se exatamente como o boneco gigante de pneus. Quem nunca ouviu o glamour e requinte envolvendo categoria Michelin? Estrelas Michelin. Prêmio Michelin. Tudo Michelin! E Michelin é uma marca de pneus!

PNEUS!

Sim, é o mesmo Michelin do pneu! Talvez você tenha achado normal uma marca de pneus ser associada a culinária. (Quem nunca?) Mas eu achei estranho e resolvi pesquisar mais sobre…

Por que meu restaurante recebe uma estrela de uma marca de pneus? Por que é tão importante ser classificado com estrelas de uma marca de pneus?

O Marketing de Conteúdo antes mesmo de SER Marketing de Conteúdo

Na França em 1889 os irmãos Andre e Edouard Michelin fundaram sua empresa de pneus  Michelin! A empresa era responsável por alimentar grande parte da indústria automobilística da época, lembrando que naquele momento abastecer toda a frota francesa de carros seria cerca de 3 mil carros.

Com o objetivo de promover o consumo de pneus e automóveis, os irmãos tiveram a brilhante ideia da criação de um guia com rotas, estradas, locais para hospedagem ou mesmo restaurantes para se apreciar no caminho. O exemplar era distribuído gratuitamente até o momento em que Andre entrou em um estabelecimento e encontrou uma pilha de seu guia usado como apoio de bancada.

“o homem só respeita verdadeiramente aquilo que paga” Andre Michelin

Foi em 1920 que um Novo Guia Michelin chegou ao mercado pelo preço de 7 francos. Acrescentou-se uma lista de hotéis e restaurantes de Paris e qualquer propaganda paga foi removida do corpo do guia, e criaram-se, também, categorias específicas de restaurantes.

Os irmãos Michelin ficaram espantados com a repercussão de um guia para ‘gastar o pneu e aumentar a venda’ e entenderam que tratava-se de um nicho de mercado interessante e com possibilidades de crescimento. Contrataram clientes ocultos para visitar os restaurantes e avaliar de acordo com critérios listados. Foi somente 6 anos após a criação do novo guia que a famosa estrela Michelin surgiu, sendo inicialmente apenas uma! Em 1929 ampliaram-se os critérios de classificação e o ranking passou a ter de 0 a 3 estrelas.

Quase um século passado e o guia Michelin continua sendo parâmetro de premiação de grandes restaurantes. Atualmente está presente em 3 continentes, avaliando mais de 30 mil estabelecimentos em cerca de 30 territórios.

O que os irmãos Michelin fizeram no século 20 é o que hoje estudamos com tanto empenho, o marketing de conteúdo.

A principal premissa do Marketing de Conteúdo é oferecer conteúdo relevante ao consumidor. Quero engajar/ envolver/ fidelizar o público com o que eu crio e que ótima forma se, ao fazer isso, consigo criar um novo produto?

O Guia Michelin nasceu com o objetivo de incentivo ao consumo de pneus e automóveis e cresceu tanto que atualmente move todo um mercado de restaurantes, premiação, eventos e glamour.

Bom, às vezes o profissional de marketing dá umas voltas para conseguir um objetivo, o que posso dizer é que vale a pena. Seja ampliar o mix de produtos de pneus para revista de rotas e culinárias,  seja iniciando um texto, falando de séries culinárias e concluindo com marketing.

PS: O documentário da Netflix denominado ‘Street Food’ serviu de gatilho para a criação deste texto. Recomendo muito o primeiro episódio.