Queridos Amigos do Pause,

Esse texto é literalmente um convite ao PAUSE. Um convite à parar um momento e olhar ao redor.

No Scicast, sempre dizemos que A CIÊNCIA TEM QUE SER DIVERTIDA. Tentamos de todas as formas (acreditem, dá trabalho) cativar e atrair pessoas a gostarem de ciência, e enxergarem todas as formas de como ela pode transformar as nossas vidas.

Mas, além de divertida, a ciência tem que ser sinônimo de mudança.

Primeiro porque se a ciência não está sempre se reanalisando e se reinventando. Virou dogma? Já não é ciência. Nunca saberemos tudo sobre absolutamente tudo, existe sempre algo mais o que se descobrir. Segundo, porque essa constante busca por conhecimento faz com que estejamos sempre em processo de transformação. O conhecimento rompe barreiras, derruba paradigmas e faz com que possamos transformar a realidade ao redor.

E é para esse poder transformador que eu gostaria de apelar agora, pois precisamos mudar a forma com que a nossa sociedade enxerga as relações, o sexismo e o feminicídio. No dia 10 de março de 2016, Louise Ribeiro, aluna de Biologia da Universidade de Brasília, foi assassinada pelo ex-namorado dentro de um dos laboratórios do Instituto de Biologia.

Louise estava, provavelmente, em um dos locais mais esclarecidos do Brasil, dentro de uma universidade pública, na capital federal. Sendo “cria” de lá, posso dizer, sem medo de errar, que o instituto de Biologia da UnB é um local onde a igualdade e o respeito são imperativos. Ainda assim, perdemos Louise.

Ficaram todos, calouros, veteranos, professores, amigos e familiares, buscando respostas para o inexplicável. O injustificável. O que aconteceu com Louise, acontece todos os dias com centenas de mulheres. Uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil, e entre 40% e 70% destes homicídios são cometidos pelos parceiros ou ex-parceiros dessas mulheres.

E aqui volto para explicar o meu apelo inicial. Fatos como esses são reflexo da sociedade preconceituosa, sexista e ignorante em que vivemos. Se dentro do ambiente mais esclarecido que posso imaginar ainda acontece, extrapole para outras realidades! E contra ignorância não há arma mais eficiente senão o conhecimento.

É preciso estar alerta, sensível à acontecimentos ao seu redor. É preciso enxergar e proteger pessoas de relacionamentos abusivos, em que por vezes nem elas mesmas percebem que estão . É preciso começar um processo de autoeducação e sensibilização do assunto, e de dentro para fora, começarmos a transformar o mundo ao nosso redor em um lugar melhor.

Como outro conhecimento qualquer que falamos no Deviante ou no Scicast, este assunto pode ser estudado e aprendido. Existem diversos materiais excelentes na internet por onde podemos começar (como o Nerdologia sexismo). Em tempos de polarização e discussão, não tema assuntos como esse!

Não podemos mais ser omissos diante de atrocidades que se tornaram cotidianas. Não podemos mais tolerar a concepção de que o relacionamento com alguém significa a posse da outra pessoa. O sexismo nos afeta diariamente e precisamos mudar esta realidade!

Precisamos acreditar no poder da ciência e do conhecimento de mudar o mundo e sermos agentes desta mudança. Acreditem, da mesma forma que você não vê mais o mundo da mesma maneira após aprender sobre astronomia, ao escutar sobre preconceitos e sexismo nós nos tornamos mais sensíveis, e conseguimos enxergar os acontecimentos tal qual uma estrela que antes éramos incapazes de distinguir.

Fica o convite à reflexão.

 

 

Meus sinceros sentimentos aos amigos e familiares de Louise.