Vamos supor que a viagem no tempo é possível, tanto para o passado quanto para o futuro. Ela é regulamentada e é usada somente para fins específicos, como questões governamentais. Obviamente, por meio de propinas, ela é acessível para classes mais altas. Já as mais baixas se contentam com formas improvisadas e clandestinas. Mas o consenso é de que, independente do meio, existem consequências, e elas podem ser irreversíveis. Como a psicologia seria afetada por isso?

Hulk, homem verde, alto e de porte atlético, vestido com roupas escuras e óculos, diz "Viagem no tempo!" para um Capitão América, homem branco e loiro, porte atlético, vestido de camisa branca, que o observa.

Viagem no tempo! (Imagens do filme “Vingadores: O Ultimato”)

Para começar, existe o impacto cultural que a viagem no tempo vai gerar. Novos costumes surgirão em torno dela, e até mesmo, novas religiões, possivelmente. Quem sabe uma seita? No entanto, as religiões já existentes podem apresentar objeções ao uso da viagem no tempo. Enquanto isso, grandes poderosos com delírios megalomaníacos podem ter a chance de “brincar de Deus”.

As diferenças de classe teriam mais uma demarcação: o acesso ou não a essa nova tecnologia (tal qual o aborto e as drogas, independente de questões legais, pessoas de classes mais altas têm acesso com uma facilidade e segurança muito maior).  As viagens podem causar alterações físicas nos viajantes, principalmente se algo der errado: eles podem ficar presos por tempo demais em outra dimensão, ou podem saltar de dimensão em dimensão por algum erro na máquina. Até mesmo podem sofrer mutações pela toxicidade das viagens constantes, ou por consequência de uma volta turbulenta. Sem falar na possibilidade da viagem no tempo se tornar um vício, pois leva a uma sensação de controle e uma adrenalina nunca antes sentida.

“Ok, mas o que a psicologia tem a ver com isso?”

Bom, tudo isso aí afeta psicologicamente, tanto o viajante, quanto os demais componentes da sociedade. E o que foi citado é ínfimo perto das possibilidades que surgem a partir da viagem no tempo. Para falar sobre essas consequências e como a psicologia trabalharia nelas, vamos dividir o texto em três tópicos: a clínica, a pesquisa e as demais áreas.

PSICOLOGIA CLÍNICA

O psicólogo trabalha, dependendo da abordagem, com a aceitação da natureza das coisas. O que quero dizer com isso é que, algumas coisas estão fora do nosso controle – como a morte, a vida, e o imposto de renda -, e o que nos resta é aceitar e focar em como vamos reagir diante dessas questões. Porém, a viagem no tempo traz uma alternativa a isso: por que não voltar no tempo e impedir o falecimento de um ente querido? Por que não impedir que o cara que pegou a última vaga na universidade que eu me candidatei vá para o ENEM? O psicólogo teria um grande trabalho pela frente para responder essas perguntas e convencer o paciente de que isso poderia trazer consequências inimagináveis e ainda piores na vida dele e de outras pessoas.

Além disso, podemos citar também a reabilitação para viajantes afetados pelas constantes viagens, ou por demais questões. E os grupos de ajuda para viajantes do tempo ou dependentes também seriam uma constante. Talvez até mesmo uma área de abordagem voltada para a viagem no tempo.

PESQUISA EM PSICOLOGIA

Contudo, para chegarmos em uma capacitação profissional suficiente para atender a essas demandas tão novas e tão divergentes, uma área seria imprescindível: a pesquisa. Para mitigar os efeitos, precisamos conhecê-los. Precisamos saber de onde, porque, quando eles surgem e quais são suas “fraquezas”. Precisamos ter consciência dos efeitos a curto e longo prazo das viagens no tempo, os métodos mais seguros, e até mesmo pesquisas de campo – claro, estabelecendo limites éticos de até onde podemos ir.

No entanto, é inegável que a pesquisa, iniciação e divulgação científica estariam no “em alta” das áreas da psicologia mais importantes nesse momento.

OUTRAS ÁREAS

Não é só de clínica e pesquisa que vive o psicólogo – áreas como hospitalar, jurídica, orientação e recrutamento também seriam afetadas.

Nas UTIs, poderíamos encontrar pacientes com ferimentos ocasionados por mau funcionamento das máquinas, ou eventos catastróficos em outras dimensões gerados ou não por interferência destes.

Já na área jurídica, a psicologia poderia trabalhar não só escrevendo laudos baseados em relatos, mas presenciando os fatos em tempo real, através de observação sem interferência.

Na orientação e recrutamento, com base em pesquisas de campo com observação sem interferência, poderia-se traçar um perfil do candidato, examinando suas reações em momentos cruciais da sua vida. Além disso, o recrutamento para ações governamentais e militares envolvendo viagem no tempo seria muito mais eficaz, considerando as pesquisas feitas na área da psicologia, podendo traçar um perfil do candidato ideal, e se utilizando de novos testes para avaliações psicotécnicas para mitigar os efeitos das viagens.

Na psicologia transcultural, assim como na psicologia de emergências e desastres, poderia-se trabalhar em conjunto com viajantes, em diversas situações de desastres humanitários no passado e no futuro.

Além do fato de que universitários teriam uma gama muito maior de oportunidades de desenvolvimento de experiência através de estágios e projetos de extensão e pesquisa. Psicólogos escolares, institucionais e comunitários também trabalhariam junto a outros profissionais, buscando a redução de danos e a educação quanto a viagem no tempo e suas consequências.

CONCLUINDO…

Existem muitas outras sessões onde a psicologia seria afetada. Talvez existissem especializações voltadas para a viagem no tempo, residência multidisciplinar atemporal, entre outras. Quem não sonharia em fazer um mestrado em psicologia atemporal? Bom, é inegável que a psicologia seria, além da profissão do futuro, a profissão do passado também. E de uma forma positiva.

Animação de um homem branco, de cabelos castanhos e barba por fazer, usando uma roupa vermelha e azul. Ele diz "é um salto de fé". Imagem do filme Homem-Aranha no Aranhaverso.

É um salto de fé. (Imagens do filme “Homem-Aranha no Aranhaverso”)