As cidades são uma invenção relativamente recente de nossa sociedade e por muito tempo, mesmo com sua existência, a população era em sua maioria rural. Com o tempo, já no período industrial, a produção agrícola acumulava um excedente produtivo suficiente para que sua mão de obra fosse liberada da produção de alimentos, sendo destinada para outros tipos de confecção; iniciava-se a marcha do campo para as cidades. Mas dizer que houve um fluxo de mão de obra em direção às cidades não explica o motivo de sua formação e o porquê de seu crescimento, então o que poderia explica-los? Há vários argumentos capazes de explicar a formação das cidades e eles podem se aplicar de formas diferentes em diferentes casos, assim as explanações podem mudar de acordo com o foco do pesquisador, sem que nenhuma delas seja falsa.

A economia tem algumas explicações para a formação das cidades e os argumentos vêm desde o início da ciência econômica, do ano de 1776, nos textos de Adam Smith que tratavam da divisão do trabalho. Smith afirmou que as manufaturas se tornam mais produtivas quando as etapas de produção podem ser divididas entre os empregados, que se especializam em poucas tarefas, realizando suas obrigações de forma mais eficiente do que fariam caso trabalhassem individualmente, completando sozinhos todo o processo. A especialização da mão de obra traz alguns resultados. O primeiro, que a produção aumenta, já que o processo é mais eficiente, logo com a mesma quantidade de recursos, aumenta o produto resultante. O segundo resultado seria que fica desincentivada a produção individual, em que cada trabalhador produz bens por conta própria e se torna mais interessante que uma firma una a força de trabalho de cada indivíduo num só processo produtivo. A consequência desse segundo ponto é que, ao invés da produção ser descentralizada no território, ela se daria num só ponto, que se tornaria destino diário de inúmeros trabalhadores. Assim como foi lembrado no Spin #405, como os trabalhadores tem preferência por diminuir a distância percorrida até seu trabalho, eles tenderiam a habitar em suas redondezas. Além disso, uma vez especializadas num trabalho, essas pessoas não serão mais capazes de produzir outros itens necessários à sua rotina, o que passará a ser oferecido por outros trabalhadores, que serão consequentemente atraídos a viver próximos desse adensamento populacional.

No entanto, se continuarmos investigando a razão pela qual os centros urbanos surgem, encontraremos outros dois motivos: economias de escala e economias de aglomeração. A economia de escala é um fenômeno relacionado a produção, ou utilização de bens e serviços, em que há benefícios decorrentes de maiores escalas de consumo, ou produção, assim há uma sequência de processos produtivos que se beneficiam de produção em grandes quantidades. O ganho produtivo derivado das economias de escala faz com que produções maiores sejam mais lucrativas, concentrando a mão de obra em poucos empreendimentos e, assim como mencionado anteriormente, os trabalhadores tendem a viver perto de seus locais de trabalho. Um exemplo cotidiano da economia de escala está nas residências, pois imóveis com mais moradores podem dividir entre eles todos os custos da casa, fazendo com que os moradores alcancem padrões de vida maiores do que alcançariam se vivessem sozinhos.

Enquanto a economia de escala gera ganhos em função da quantidade produzida ou utilizada, a economia de aglomeração gera ganhos em função da quantidade de produtores ou consumidores próximos uns dos outros. Fábricas próximas no espaço se beneficiam de um menor custo de transporte de insumos vindos de outras firmas, de maior competitividade gerada entre as empresas que estão a seu redor, gerando insumos mais baratos. Além disso, quando se concentram os trabalhadores, o custo de uma empresa procurar o profissional com as características que ela necessita são menores, o que reduz os custos de contratação. As economias de aglomeração podem ser observadas em shoppings, onde vários vendedores se aglomeram para atrair conjuntamente mais compradores.

Em resumo, o que se passa é que produções de maior escala se mostram mais eficientes, captando os trabalhadores que antes trabalhavam por conta própria e dispersos no espaço; ao se concentrarem numa mesma firma, os trabalhadores tenderão a habitar em seu entorno. Da mesma forma, os lucros das economias de aglomeração levarão os produtores a se aproximarem uns dos outros, criando regiões mais densamente povoadas e expandindo-as. Muitas vezes precisaremos de uma razão especial para desencadear todo esse processo, como o descobrimento de uma mina de ouro, de um campo com terras de boa qualidade para o plantio, ou a criação de uma zona com ampla isenção de impostos, mas, uma vez firmados os primeiros assentamentos, as economias de escala e aglomeração e a divisão do trabalho tenderão a expressar seus benefícios. As cidades surgem por vários motivos, mas se sustentam principalmente porque diminuem custos. Produtores e compradores têm incentivos a estarem próximos uns dos outros e perto de seus pares, fazendo com que as aglomerações se formem e se expandam.


Referências