Texto de Tatiane Bertella
Nas últimas semanas, foi divulgado um estudo brasileiro com potencial para reabilitar pacientes com lesão na medula, utilizando uma proteína extraída da placenta, a polilaminina. A pesquisa está sendo desenvolvida há 20 anos e é liderada pela bióloga Tatiana Coelho Sampaio e, atualmente, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a empresa farmacêutica Cristália anunciaram a produção em escala comercial. Tratamentos experimentais foram realizados com cerca de 10 pacientes e apontam para a eficácia e segurança do produto. O laboratório Cristália está aguardando a autorização da Anvisa para iniciar a fase 1 dos estudos (avaliação da segurança e tolerabilidade)1.
A laminina é uma matriz extracelular proteica que atua no desenvolvimento e regeneração neural e sua expressão aumenta após uma lesão, mas não é o suficiente para promover uma regeneração substancial. Devido a isso, sugere-se que a aplicação exógena da laminina melhora os resultados2. O emprego da laminina na forma de polímero (polilaminina) pode permanecer ativada na medula espinhal por tempo suficiente para dar suporte ao alongamento nas fibras que brotam após a lesão. Essa é a teoria utilizada pelos autores do estudo para explicar a eficácia da polilaminina3.
Os autores publicaram um pré-print do estudo piloto, delimitado como multicêntrico, braço único e aberto, realizado para avaliar a segurança e os possíveis benefícios de uma única aplicação intraparenquimatosa de polilaminina durante a fase aguda da lesão da medula espinhal. Oito pacientes foram incluídos no estudo, mas dois foram a óbito devido a gravidade do caso. Seis pacientes foram acompanhados e reobtiveram controle motor voluntário abaixo do nível da lesão3.
Todos os participantes do estudo apresentaram algum evento adverso, sendo infecções o mais comum, seguido de problemas gastrointestinais. Marcadores renais e hepáticos foram analisados para verificar a toxicidade, mas apenas moderadas alterações foram detectadas, sugerindo que o tratamento apresenta um certo grau de segurança3.
Esse estudo tem a possibilidade de desenvolver um tratamento inovador que pode mudar a vida de milhares de pessoas em todo o mundo. Mas precisamos ter calma. Como os próprios autores do estudo comentam, os dados preliminares sugerem que a polilaminina pode atuar como um substituto biomimético para a laminina no crescimento axonal ausente no sistema nervoso central de mamíferos após lesão, mas que é necessário um estudo clínico maior para testar a aplicabilidade da terapia em humanos com lesão na medula espinhal3.
Sobre o autor:
Tatiane Bertella: farmacêutica, gaúcha e colorada.
Referências
- CRISTÁLIA. Laboratório Cristália inicia produção de medicamento, inédito no mundo, que devolve movimento a pacientes com lesão na medula. Coletiva de Imprensa, 10 set. 2025.
- MENEZES, Karla; MENEZES, João Ricardo Lacerda de; NASCIMENTO, Marcos Assis; SIQUEIRA SANTOS, Raphael de; COELHO-SAMPAIO, Tatiana. Polylaminin, a polymeric form of laminin, promotes regeneration after spinal cord injury. FASEB J., Bethesda, v. 24, n. 11, p. 4513–4522, Nov. 2010. DOI: 10.1096/fj.10-157628
- MENEZES, Karla et al. RETURN OF VOLUNTARY MOTOR CONTRACTION AFTER COMPLETE SPINAL CORD INJURY: A PILOT HUMAN STUDY ON POLYLAMININ. medRxiv preprint, 21 fev. 202


