O Estado deveria possuir um papel muito menor do que temos hoje. Deveria deixar de controlar, regular ou redistribuir, o que deveria estar a cargo do próprio indivíduo. Um país ser favorecido em detrimento de outros é inadmissível. Deveria apenas atuar a fim de resolver conflitos e garantir a liberdade individual, ou seja, deveria apenas defender o mercado, e com isso defenderia o indivíduo e suas decisões.

“A lição do passado recente, cuja importância vem aos poucos sendo reconhecida, mostra que muitas formas de planejamento econômico, aplicadas de modo independente em escala nacional, tenderão a ser prejudiciais em seu conjunto, mesmo de um ponto de vista puramente econômico, produzindo, além disso, sérios atritos internacionais. Em nossos dias não é necessário acentuar que haverá poucas esperanças de ordem internacional ou de uma paz duradoura enquanto cada país puder aplicar quaisquer medidas que julgue úteis ao seu interesse imediato, por mais nocivas que sejam para os outros.” HAYEK, F.A, 1990, p. 233-234.

Em teoria as ideias libertárias são muito interessantes, o mercado autorregular-se e, através da livre concorrência e da lei da oferta e da procura, proporcionar oportunidade a todos os indivíduos, além de, no caso brasileiro, deixarmos de ser economicamente dominados pelos Estados Unidos. Porém, é difícil imaginar que isso realmente aconteça, mesmo que o Estado passe a interferir menos na vida do indivíduo e na sua relação com o comércio e mercado, o mercado provavelmente não conseguiria autorregular-se, as grandes empresas continuariam dominando, somente o fariam de forma diferente, seja pela formação de cartéis ou trustes, resultando em um oligopólio.
O poder está demasiadamente centralizado. Resultado da atuação do neoliberalismo. O Estados Unidos tornou-se a grande nação do mundo, detentora da moeda que regula a economia, tornando as economias periféricas suas reféns. E nós estamos entre elas.
Os resultados desses fatores podem ser observados hoje em qualquer economia periférica. O capital financeiro dominante afeta diretamente o poder aquisitivo dos indivíduos. Quando o dólar está alto, a economia brasileira tem problemas, quando os Estados Unidos deixam de importar algo, problemas:

“Os efeitos mais importantes destas transformações têm sido, por toda a parte, a decadência econômica de muitas regiões, o crescimento do desemprego estrutural, a proliferação de formas de precarização do emprego, e o aumento da desigualdade.” L.G.M, 1995, p. 9.

Essa instabilidade existente no capitalismo atual, com altos e baixos e alto desemprego, leva economias periféricas a submeterem-se às economias dominantes a fim de conseguir certa estabilidade:

“Na outra ponta do espectro, países de “moeda fraca” não conseguem escapar das situações de instabilidade senão atrelando as respectivas moedas ao curso de uma divisa estrangeira, renunciando ao mesmo tempo a qualquer pretensão de determinar o rumo das políticas fiscal e monetária.” L.G.M, 1995, p. 9.

Consequência disto, como observado por Belluzzo, a ação do Estado vem sendo contestada, pois as ideias individualistas vem se fortalecendo nos últimos tempos. Além disso, o individualismo em sua essência se opõe a qualquer ação do Estado na economia, sendo com redistribuição de renda ou na influência sobre o consumo. A chamada eficiência econômica vem tomando muita força, e acompanhada a ela vem a deslegitimação da democracia e a desvalorização da ética política. Podemos observar isso em qualquer âmbito da sociedade, com a eleição de Trump e Bolsonaro, por exemplo.

“A ação do Estado é vista como contraproducente pelos bem-sucedidos e integrados e como insuficiente pelos desmobilizados e desprotegidos. Estas duas percepções convergem na direção da “deslegitimação” do poder administrativo e na desvalorização da política.”L .G.M, 1995, p.10

A ação do Estado e a ética na política têm perdido valor. Isso pode ser muito perigoso. Podemos estar a caminho de um mundo onde grandes corporações ou determinado país poderão dominar não somente através do poder do capital financeiro, também através da monopolização e do controle propriamente dito.

BIBLIOGRAFIA
Hayek, Friedrich August von. O caminho da servidão / Friedrich August von Hayek; tradução e revisão Anna Maria Capovilla, José Ítalo Stelle e Liane de Morais Ribeiro. — 5. ed. — Rio de Janeiro: Institiuo Liberal, 1990.

BELLUZZO, L. O declínio de Bretton Woods e a emergência dos mercados globalizados. Economia e Sociedade, Campinas, IE, n.4, 1995.

BELLUZZO, Luiz Gonzaga. As transformações da economia capitalista no pós-guerra e a origem dos desequilíbrios globais. In: CARNEIRO, Ricardo. A supremacia dos mercados e a política econômica do governo Lula. São Paulo: Editora UNESP, 2006.