A contracepção é um assunto atual, que faz parte da vida de boa parte da população. Sabemos, inclusive, que há muito o que ser melhorado. Porém, você sabe o quanto já evoluímos? O quanto as coisas mudaram? E o que não mudou? Acompanha essa leitura para você ficar por dentro!

Tudo começa quando é ‘’descoberto’’ que o sexo é o responsável pela reprodução. A partir disso, começaram-se os experimentos de métodos contraceptivos, claro que, muitas vezes, sem nenhum embasamento científico e, geralmente, de formas bem peculiares. Desde que as pessoas passaram a associar o sêmen ao desenvolvimento da gravidez, começaram a desenvolver formas de contracepção um pouco mais eficazes. Uma das principais e a que até hoje utilizada é o coito interrompido, que, hoje, já se sabe que é um método com uma taxa de falha considerada alta.

Logo no início, os indivíduos utilizavam bastante sua imaginação, suas crenças e os produtos que tinham acesso para utilizar como meios de evitar a gravidez. Acredita-se que uma das primeiras populações a ter o costume de utilizar métodos contraceptivos foram os Egípcios. Há registros de que eles borrifavam uma substância pastosa sobre a genitália feminina e utilizavam tampões com substâncias como: mel, algodão, pólvora, saliva de animais, folhas, ferrugem entre outras coisas. O que não era nada atrativo e confortável.

No século II, as mulheres eram aconselhadas a contrair o abdômen e reter a respiração, para que assim o sêmen não chegasse ao fundo do útero. Os Romanos indicavam a ingestão de solução com água, sal e vinagre, além de indicar ervas, óleos e cremes. Cada lugar seguia se adaptando ao que acreditava ser melhor entre sua população e, claro, com o que diminuía as chances de gravidez.

Bom, além das prováveis altas taxas de falha, em muitos lugares e culturas, o Estado era contra essas práticas, alegando desrespeito moral e religioso, por, muitas vezes, ser considerado uma forma de aborto. Apesar de toda represália, o aborto e as tentativas de contracepção sempre estiveram presentes na sociedade ao longo dos anos.

A contracepção vai além das questões biológicas de reprodução, envolve o prazer, questões éticas e religiosas, por exemplo. Inclusive, ao longo de muito tempo, a anticoncepção foi condenada pelas igrejas e só passou a ganhar força após as ideias de controle de nascimento e quando a religião perdeu a força. Hoje, muitos países, discutem sobre questões como a fome e pobreza no nosso planeta e alguns especialistas costumam associar esses problemas a falta de controle de natalidade nos países mais afetados.

A partir de 1960, com a invenção da pílula anticoncepcional e sua comercialização, a autonomia das mulheres em relação à contracepção aumentou bastante, ajudando muitas a entrar no mercado de trabalho, a estudar e a ter mais autonomia em relação ao seu corpo.

Apesar da insegurança de algumas pessoas em relação as consequências que os contraceptivos hormonais poderiam causar no organismo, esse novo método parecia viável comparado aos métodos da época como camisinhas que se rasgavam, diafragmas mal colocados. Foi bastante influenciado socialmente e se tornou símbolo de uma contracepção segura e simples. Houve grandes propagandas sobre as pílulas e após comprovação da eficácia e segurança das mesmas, o número de mulheres utilizando aumentou rapidamente, apesar dos seus muitos efeitos colaterais (alguns bem graves) e que, inclusive, ainda podem ser observados nos dias de hoje.

A pílula anticoncepcional provocou muitos debates, seja no âmbito científico, social, ético, médico ou religioso. Mas, uma das coisas pelo que ela é mais escolhida é porque ela consegue separar com eficácia a sexualidade e reprodução. As pílulas conseguiram dar a ‘’emancipação’’ da mulher. Ela agora pode desvincular a vida sexual da reprodução, permitindo que ela seja mais leve, segura e prazerosa. Além disso, deu autonomia, já que não precisa de médico (precisa apenas para prescrição, apesar de não ser obrigatório) ou do consentimento do parceiro, que muitas vezes, por conta da cultura em que estamos inseridos, não dão a mesma importância.

Atualmente, de forma geral, possuímos uma boa quantidade de métodos contraceptivos com hormônios ou sem, que possuem variações e adaptações para cada indivíduo. A maioria se volta apenas para a mulher e apenas um dos métodos é capaz de prevenir contra as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).

Muitos métodos atuais possuem uma alta taxa de eficácia se utilizados corretamente. Até hoje se busca desenvolver novas formulas com doses menores de hormônios, para buscar garantir uma contracepção eficaz e com menos efeitos colaterais. Já existem diversas formas de anticoncepcionais hormonais, como os injetáveis, os subcutâneos, os anéis vaginais, etc. O que é ótimo para que as mulheres possam escolher o que melhor se adapta ao seu corpo e a sua rotina. A contracepção hormonal tem um destaque especial por ser reversível e possuir altas taxas de eficácia, porque consegue bloquear a ovulação.

Atualmente, temos no SUS diversos tipos de contraceptivos gratuitos e possuímos programas de planejamento familiar, visando a informar pessoas por meio de ações e práticas de saúde, para que cada indivíduo tenha liberdade em escolher qual método contraceptivo escolher de forma segura e eficaz.

Porém, apesar da quantidade de métodos contraceptivos, ainda é alto o nível de gravidez não planejada e ainda existem muitos abortos clandestinos. Mais do que oferecer métodos contraceptivos, é necessário a universalização dos serviços de planejamento familiar, levando em consideração todo o contexto no qual o indivíduo está inserido e a saúde da mulher. Ainda existe uma parte da população menos favorecida, geralmente em áreas mais pobres e menos urbanizadas, onde há difícil acesso tanto aos métodos, quanto à informação. Tanto é que as taxas de fecundidade continuam sendo mais elevadas nessas camadas.

No Brasil, os programas de planejamento reprodutivo ainda não chegam a todas as mulheres, e para as que chegam, nem sempre é de qualidade. Alguns grupos acabam sendo menos favorecidos e ainda há muitas crenças e tabus, inclusive, dos próprios profissionais da saúde.

Apesar dos incríveis avanços e tudo que o planejamento reprodutivo proporcionou e auxiliou, especialmente na luta das mulheres por direitos iguais e maior participação no mercado de trabalho, ainda há muito o que se fazer, como mais métodos contraceptivos masculinos. Até então, ainda existem mulheres em uma árdua dupla jornada, precisando conciliar suas decisões e planejar as formas de contracepção, correndo ainda o risco de prejudicar sua saúde.

Uma boa educação em contracepção auxilia na diminuição de abortos, de gravidez não desejada, controle do número de filhos, e na opção, inclusive, de não se ter filhos. Tudo isso, levando em conta a singularidade de cada indivíduo, de suas rotinas e seus desejos. Estamos caminhando para que essa liberdade chegue para todos, o trabalho é de formiguinha e informação é poder.

 

A anticoncepção é questão de saúde pública!

 

Algumas referências:

TAVARES, L. S.; LEITE, I. C.; TELLES, F. S. P. Necessidade insatisfeita por métodos anticoncepcionais no Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia. V. 10, n. 2, p. 139 -148, 2007.

COSTA, A. et al. História do planejamento familiar e sua relação com métodos contraceptivos. Revista baiana de saúde pública. Bahia, v.37, n.1, p.74-86, jan-mar. 2013.

LOYOLA, M. A. Cinquenta anos de anticoncepção hormonal: a mulher e a pílula. ComCiência, n. 119, 2010.

PEDRO, J. M. A experiência com contraceptivos no Brasil: uma questão de geração. Revista Brasileira de História, [online], v. 23, n. 45, p. 239-260, jul. 2003.