A música é uma forma de expressão que, por meio da arte, consegue transformar a vida de muitas pessoas, sejam elas ouvintes ou os próprios músicos. Hoje gostaria de falar um pouco sobre a concepção de uma música através das escalas musicais.

Existem inúmeros instrumentos categorizados em percussão, cordas, sopro e as nossas próprias cordas vocais (canto). E o interessante da música é que, para muitos, apesar de não aparentar de início, ela tem uma relação muito próxima com a Matemática e a Física. Hoje quero tratar sobre as escalas musicais e sua Matemática simples, talvez em um próximo texto, eu posso abordar a parte Física (ondulatória).

Além de professor de Matemática/Física eu tenho outra formação que é de músico, especificamente guitarra, na qual estudei o Fusion.

Eu tive a oportunidade de estudar com grandes mestres das músicas, um deles o maior professor de guitarra do Brasil, Mozart Mello, e assistir workshops de gênios brasileiros que infelizmente não são muito conhecidos pelo mainstream.

O meu instrumento base foi a guitarra, apesar de ter começado no violão e, como todo bom adolescente, comecei com as bandas de rock que eram tocadas nas rádios ou tinham seus clipes passados em algum programa lado B na saudosa MTV Brasil (na época não existia stream de música e a MTV Brasil era uma referência musical nos anos 90… pesquisem sobre e vocês verão algumas carinhas conhecidas da mídia tradicional de hoje).

Quando comecei a estudar um pouco mais a sério o instrumento, decidi procurar uma escola que pudesse dar um suporte bacana para o que eu buscava. Descobri, então, a escola de um dos grandes guitarristas brasileiros que já nos deixou, Wander Taffo (guitarrista e vocalista do Rádio Taxi).

Com o passar do tempo, percebi que a música poderia ser mais do que apenas um “rock”, seja ele complexo, com acordes, com inversões, ou um “acorde” com tônica e quinta. E isso se dava para todos os tipos de música, o que transforma tudo em uma grande viagem.

 

 

Os instrumentos que existem são dos mais variados gostos e estilos. Os instrumentos de corda normalmente seguem uma construção de braço de meio tom, em que, de uma “casa” para outra, você traspõe meio tom, o que os torna muito populares. Temos o piano, que abrange uma riqueza harmônica e melódica incrível, e que tem o mesmo pensamento de construção que são divididos em tons.

Para entender as escalas é preciso compreender que, de certo modo, elas podem ter infinitas projeções (vou utilizar a guitarra como base, mas cada instrumento pode trazer uma característica diferente sendo que o grosso do caldo é semelhante).

O belo disso tudo é que temos sete notas como base, as mesmas que aprendemos na escola: DÓ, RÉ, MI, FÁ, SOL, LÁ e SI. Utilizando essa base, podemos fazer variações das mais diversas, como escalas que ultrapassam as oitavas ou três oitavas diferentes (oitava é quando se repete a nota inicial um pouco mais aguda do que a nota de partida), simétrica e não simétrica.

Quem quer aprender algum instrumento e quer ter um repertório vasto para poder tocar ou começar a brincar com qualquer música, tem que começar com as escalas diatônicas (as que geram tonalidades), escala maior e as três formas da escala menor: natural, harmônica e melódica. Conhecendo essas escalas, podemos fazer associações com números, e é aí que entra a Matemática.

Preciso contar uma historinha rápida. Uma vez eu fiz um Workshop com o Rafael Bitencourt, guitarrista do Angra e ele utilizava quase o mesmo raciocínio para estudar escalas, mas, ao invés de números, ele pensava que cada nota ou acorde subsequente equivalia a cores. Tentei embarcar nessa viagem, mas faltou cor no meu repertório.

Mas voltando à Matemática, podemos pensar que a nota Dó equivale ao número um, e assim por diante, até termos o SI equivalente ao número sete. E, assim como nos acordes em uma escala, temos o grau das notas, o que faz toda a mágica acontecer.

Então, pensando em uma escala maior, o número um será sempre a tônica da escala (para os que entendem um pouco de música e de escala musical, eu não vou me ater as inversões, pois entraríamos em um loop infinito). O número dois seria uma segunda maior, três – uma terça maior, quatro e cinco – justas, seis e sete maior, sempre se baseando da distância desse intervalo da tônica.

A vantagem de um guitarrista é que o desenho da escala no braço é sempre o mesmo, então, de modo prático, eu apenas preciso sair da tônica da escala e fazer o mesmo desenho. Uma escala menor tem o mesmo parâmetro, mas com a diferença que o três – terça, seis – sexta e sete – sétima recua meio tom, o que traz um acidente chamado bemol. A escala menor harmônica tem as mesmas características da menor natural, mas com a sétima voltando a ser maior. E a menor melódica tem a sexta e sétima maiores. Então, em um instrumento de 6 cordas em que temos aproximadamente 22 casas, existem infinitas possibilidades.

Temos escalas simétricas, também conhecidas como diminutas e tons inteiros, em que, saindo de uma nota de partida, sempre teremos a configuração tom, semitom, tom semitom ou tons inteiros. Essa é a escala gera tensão no acorde, lembra daquelas músicas em que o trem se aproxima e o mocinho precisa salvar a jovem que está amarrada nos trilhos.

As escalas penta tônicas são as queridinhas dos roqueiros, pois têm um formato simples com cinco notas apenas, se for maior, tiramos o quarto e o sétimo grau, e, se for menor, temos uma terça menor e uma sétima menos excluindo o segundo e o sexto grau.

Temos a escala de blues, na qual colocamos uma quarta com outro acidente chamado sustenido, em que aumentamos meio tom da nota. E por aí a viagem se torna sem fim, podemos variar conforme a música e trazer novas experiências bem interessantes.

 

Com essas escalas podemos começar a pensar em harmonia o que faz com que cada escala construa um desenho de acorde em que o som é muito característico. Escalas maiores constroem acordes maiores, o que geralmente é associada a músicas felizes, e acordes menores, a tristeza, sendo o som um pouquinho mais contido.

Mas, de novo, isso não impede que esses acordes possam ser misturados e que não existam variações. Se pensarmos em um arranjo ou combinatória simples, podemos ter diferentes tipos de acordes oriundos das escalas diatônicas. Então, se vocês pegaram essa ideia, podemos pensar também em uma infinidade de acordes já de antemão, excluindo as inversões (quando saímos de outra nota de partida sem ser a tônica).

A matemática está presente em cada ponto musical, seja na construção de um instrumento, em um formato de escalas ou em acordes e, só para não deixar de citar, na escrita musical, em uma pauta em que cada figura tem o seu valor correspondente à melodia ou ao compasso da música.

Espero que tenham gostado do texto e torço para que alguns de vocês tenham a oportunidade de um dia tentar estudar um instrumento ou mesmo o canto. E para aqueles que já possuem essas habilidades, torço para que tirem a poeira das bags ou cases e a “ferrugem” dos dedos. Até mais.

 

Saiba mais:

Como é feito um violão

Como é feito um piano

Saber acordes não é conhecer harmonia

Falando de música com Mozart Mello

A espinha dorsal da harmonia

Wander Taffo – Código Morse

Rádio Taxi

 

Imagens:

https://www.sabra.org.br/site/projeto-social-de-musica/

https://www.encorda.com.br/blog/o-que-e-harmonia-na-musica/