Desculpem o intervalo sem escrever. O seu redator do Esquina Espacial estava imobilizado pelo calor infernal do verão carioca. Mas agora é uma boa hora para voltar. Temos um dos fenômenos astronômicos mais legais chegando: um eclipse solar.

Reminiscências de eclipses…

A divulgação astronômica é muito marcada por eventos espaciais: o lançamento do Sputnik multiplicou o número de planetários nos EUA na década de 60, o programa Apollo estimulou o surgimento da maioria dos planetários no Brasil nos anos 70. Minha carreira recebeu influência de alguns fenômenos astronômicos. O Halley me colocou no meu primeiro emprego no Museu de Astronomia em 1986.

Em 1994 houve o último grande eclipse solar total visível no Brasil em Santa Catarina, mais uma vez minha carreira foi impulsionada. Na época não havia uma publicação em português que orientasse as pessoas a verem o eclipse em segurança. Eu aceitei o desafio.

Eclipses: Solares e Lunares

Na sexta-feira, 10/02/2017, a Lua passou tão perto da sombra da Terra que uma borda ficou escura (ver foto abaixo). A Lua não se move no mesmo plano que contém o Sol e a Terra, a chamada Eclíptica. Se naquela noite de lua cheia a lua estivesse cruzando a eclíptica teríamos um eclipse total da Lua.  Dependendo da posição da lua ao passar pela sombra da Terra teremos três tipos de eclipse lunar: total, parcial ou penumbral .

Eclipse Penumbral da Lua

Minha foto do Eclipse Penumbral da Lua – 10/02/2017 – 23:40 – Ilha do Governador – Rio, RJ (não usei tripé ou instrumento óptico apenas o zoom da câmera Canon PowerShot SX40HS).

Eclipse Lunar - 03/03/2007

Diversas aspectos de um eclipse lunar parcial de 3 de março de 2007 (tiradas sem telescópio: usei somente o zoom óptico da minha Canon PowerShot A520).

No próximo domingo de carnaval (26/02), a Lua vai cruzar a eclíptica, agora do outro lado: será lua nova e a sombra da Lua vai percorrer uma estreita faixa da superfície da Terra. Isto é um eclipse solar.

 Eclipses do Sol e da Lua

Esquema dos Eclipses do Sol e da Lua

Dependendo da distância e a posição da Lua podemos ter vários tipos de eclipse solar: total, parcial, anular e híbrido.

Eclipse da Lua e do Sol: geometria e o aspectos das diversas etapas. (Crédito http:www.mreclipse.com)

26/02/2017 Eclipse Solar Anular

Este eclipse, em particular, acontece próximo ao ponto mais distante da órbita lunar (apogeu). O cone de sombra lunar não chegará a atingir a superfície. Por conta disso o aspecto do Sol tem a forma de um anel no momento de máximo eclipse. Isto acontece porque o tamanho aparente do disco lunar se mostra menor que o disco solar.

eclipse 26 de fevereiro de 2017

Gif animada do movimento da sombra lunar sobre a superfície da Terra durante o eclipse de 26 de fevereiro de 2017.

eclipse anular

Aspectos das principais etapas de um eclipse anular (credito http:www.mreclipse.com)

Visibilidade do Eclipse Solar: Parcial no Brasil

Para cada região a duração e a parcela do disco solar ocultado é diferente. Os estados do Amapá, Roraima e a maior parte dos estados do Amazonas, Pará, Maranhão não verão este eclipse. O Ceará e o Piauí vão ter menos de 4% de superfície ocultada em algumas regiões. Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, parte de Rondônia, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe vão ver algo entre 4 e 18%. Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul verão algo entre 18 e 39%. Os estados da região Sul mais o Rio de Janeiro e São Paulo poderão ter mais de 39% do disco solar ocultado.

Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, o evento será pela manhã. Teremos 43% do disco solar ocultado no momento de máximo em torno das 11:41 quando o Sol atinge uma altura de uns 74 graus. São Paulo terá 40% e Maceió 18%. As capitais com maior magnitude do fenômeno serão Florianópolis e Porto Alegre com 51% e 56%, respectivamente.

Detalhes locais do Eclipse Solar de 26/02/2017 no Brasil

Eclipse Solar 26/02/2017 Brasil

eclipse solar anular 26/02/2017

Mapa de visibilidade do eclipse no mundo: a linha mais escura central mostra onde o eclipse apresentará o anel. As partes mais claras indicam percentagens menores do disco solar ocultadas. https://www.timeanddate.com/eclipse/solar/2017-february-26

♦Se quiser saber como vai ser em sua cidade sugiro o seguinte link https://www.vercalendario.info/pt/lua/brasil-26-fevereiro-2017.html

eclipse solar de 1994

Eclipse Solar Total – Chapecó, PR – 1994
Foto: Douglas Falcão e Denílson Espósito.

Como observar um eclipse solar em segurança?

Observar o sol, mesmo eclipsado é muito perigoso sem instrumentos. A melhor maneira (mais segura e mais prática) é por projeção. Você pode usar um espelho, uma lente ou uma câmara escura, chamada de pin hole. Use estes recursos para projetar a imagem numa tela improvisada (uma folha de papel branco por exemplo).

Projeção Pin Hole para observar eclipse solares

Usando uma caixa de papelão com câmara escura podemos ver com segurança qualquer eclipse solar. Quanto maior a caixa maior o tamanho da imagem. Quanto maior o tamanho do orifício mais luz entra, entretanto piora a imagem. Sugestão comece com um furo de agulha e não passe muito da espessura de um prego.

É o mesmo princípio se for usar uma luneta. Se estiver usando um telescópio refletor melhor ainda. Combine os dois métodos. Projete a imagem dentro de uma caixa.

Eclipse Solar Parcial 11/09/07

Eclipse Solar Parcial 11/09/07 visto no Planetário do Rio de Janeiro. Acima a esquerda: Mecanismo do celostato (move um espelho acompanhando o Sol). Abaixo a esquerda: Imagem projetada dentro do Museu do Universo onde alunos da rede pública acompanhavam. No meio: Eu mostrando a projeção na sala do celostato. A direita: parte óptica (uma luneta simples) projetando através do chão e na parede ao mesmo tempo (usando um prisma).

Observar diretamente somente com filtros apropriados. Para telescópios existem filtros apropriados usados na objetiva. Algumas lunetas mais simples costumam vir com filtros de ocular. Nunca use estes filtros para observação solar, eles podem rachar devido ao aquecimento.

Filtros para atarraxar na ocular não devem ser usados para observar o Sol.

Cuidado com filtros para eclipses solares!

Para observação sem instrumento existem dois filmes importados: 1) folhas metalizadas do tipo mylar intituladas solar screen. 2) filmes de um polímero sintético chamada de baader. Se não dispõe destes produtos ou tem dúvidas quanto a procedência NÃO IMPROVISE; existe uma opção mais acessível e razoavelmente confiável: o filtro (ou lente) de soldador número 14 (não use números menores). Você obtém facilmente nas lojas de ferragens em retângulos ou círculos.

filtros solares para eclipse

Acima: Filtro Mylar para observação solar.
Abaixo: Dois filtros de soldador 14 (preço de 2007).

Acima: uso do filtro de soldador número 14.
Abaixo: Imagens do eclipse solar parcial de 11 de setembro de 2007. Esquerda:  com filtro de soldador 14. Direita: filtro mylar.

♦Métodos de Observação Segura de Eclipses Solares:

http://ceurbano.blogspot.com.br/2014/06/metodos-de-observacao-segura-do-sol-e.html

♦Vídeo prático resumindo observação do Sol sem instrumento óptico: https://www.youtube.com/watch?v=_P_tFnHWaF0