Já imaginou um corpo celeste vindo em rota de colisão com a Terra? Tema de ficção científica? Sim e não. A possibilidade, ainda que remota, é real. Já aconteceu no passado e nada impede que aconteça no futuro. Será que dá para fazer algo? Vejamos o que é ficção e o que não é. Em tempo: sabe qual a relação disto tudo com rock and roll? E com o Pequeno Príncipe?

Entre os planetas do Sistema Solar existem corpos menores em números que chegam a casa das centenas de milhares. Alguns são corpos gelados e voláteis chamados de cometas. Geralmente apresentam uma órbita alongada cujo afélio (ponto mais distante do Sol) se encontra em uma região esférica externa a órbita de Netuno chamada de Nuvem de Oort. Lá existem inúmeros núcleos congelados. Quando estes núcleos se aproximam do Sol criam belas caudas de gás e poeira. Outros corpos pequenos são os constituídos de metais e rochas pouco voláteis: os asteroides.  A maior parte dos asteroides se concentra entre as órbitas de Marte e Júpiter: o chamado Cinturão Principal. Entretanto existem várias famílias de asteroides com características físicas e orbitais que não se limitam ao cinturão principal. Alguns cruzam a órbita da Terra e são chamados de Rasantes ou NEO (Near Earth Objects).

Órbitas de NEOs

Rota de Colisão

Um corpo celeste em rota de colisão com a Terra: dá para fazer algo? A resposta é sim. Muitas pessoas pensam logo em explodir o pedregulho com armas nucleares a moda de Impacto Profundo (1998), Armagedon (1998) ou Meteoro (1979). Mas tem formas menos energética e arriscadas. Se for um corpo sólido e não volátil, um asteroide, por exemplo, você pode pintar ele de branco. Se for um corpo volátil, um cometa, você pode evaporar uma parte dele com um espelho. Achou loucura? Nada disso tem gente muito séria estudando maneiras de fazer isto.

Seja qual for o método usado quanto mais cedo identificar o objeto colisor, mais chances temos de mudar sua órbita. Quanto mais distante menor o desvio a fazer para que erre a Terra e menos energia precisaremos para realizar isso.

Pintando asteroides

O método de pintar o asteroide está ligado com uma força não gravitacional que pode ser usada a nosso favor: a pressão de radiação da luz solar. Toda vez que a luz incide sobre uma superfície ela passa um pouco de se momento linear (massa vezes velocidade). Dependendo do ângulo e das propriedades ópticas da superfície (reflexão, refração, absorção etc.) a luz exerce uma força. É uma aceleração de valor bem pequeno, mas suficiente num ambiente sem atritos para mudar a órbita consideravelmente. Se soubermos como se comporta a rotação do asteroide e pudermos controlar a interação luminosa da superfície (aumentando ou diminuindo a parcela de luz refletida) podemos definir uma nova órbita.

Esquerda acima: Usando a luz refletida para alterar órbita. Direita acima: Espelhos usados para vaporizar um ponto e criar um jato de gás. Direita abaixo: Rebocador de asteroide.

Desviando cometas com espelhos

Se for um cometa podemos usar o fato de ser composto de material altamente volátil e realizarmos uma evaporação localizada. Se usarmos um ou mais espelho no espaço podemos foca luz solar sobre um ponto específico e fazer jorrar dali um jato de gás que funcionaria na prática como um pequeno motor foguete. Inclusive dá para fazer o mesmo em um asteroide dependendo do ponto de fusão dos minerais da superfície. Alguns corpos que guardam característica de asteroide e cometa, chamados Centauros, se prestariam bem a este método.

Rebocando Asteroides

Outra ideia interessante seria usar uma nave que funcionaria com um rebocador espacial. Pousaria no corpo, se ancoraria a ele e poderia dirigi-lo usando potentes motores. Outra possibilidade seria ter um rebocador de massa considerável que usaria atração gravitacional para mudar a órbita do colisor sem precisar se ligar fisicamente a ele. Isto me lembra um episódio da série clássica de Star Trek quando a Enterprise tenta desesperadamente desviar ou desintegrar um asteroide em rota de colisão com um planeta habitado: The Paradise Syndrome (3o episódio da 3a temporada exibido em 1968). Será que estamos prontos para um impacto deste tipo?

No antigo filme When Worlds Collide (1951) os cineastas exageram: sugere a gente deixar a Terra porque o tal astro colisor ia destruir tudo sem chance de desvio. O mestre H.G.Wells (1866-1946) já imaginou uma visita inusitada (e menos negativa) de um cometa no seu conto In the Days of the Comet (1906).

O Dia do Asteroide

No próximo dia 30 de junho é comemorado o Dia do Asteróide. Esta data surgiu de um trabalho de um astrofísico roqueiro, Dr. Brian May (guitarrista da banda Queen) após se envolver num filme que previa um pequeno apocalipse devido a um impacto celeste. Outros cientistas, intelectuais e astronautas se juntaram a ideia de fazer um dia para chamar a atenção sobre 0 perigo remoto mais real de uma colisão.

A Fundação B612 é uma instituição astronômica privada criada para defender a Terra de impacto. O curioso nome vem do hipotético asteroide do famoso romance O Pequeno Príncipe de Saint Exupery (1900-44).

Próximo dia 29/06/2017, quinta as 20hs, o Planetário do Rio vai promover um bate papo via web sobre asteroides. Clique aqui para saber mais.