Você sabia que muitas pessoas que menstruam não têm acesso aos absorventes? Apesar de ser tão básico e barato para alguns, pode ser um item que não está dentro do orçamento de outros. Existem pessoas que precisam usar retalhos ou meias para segurar o fluxo, também há quem não tenha opção de usar algo. Quem menstrua sabe o quanto esse item é imprescindível para que se consiga continuar a rotina e não prejudicar o dia a dia, consequentemente sua carreira, seus estudos e até sua saúde.

Existe um projeto, que muitos países já aderiram, chamado Igualdade Menstrual, em que são distribuídos absorventes descartáveis e outros produtos menstruais de forma gratuita,. Essa é uma forma de amenizar a desigualdade, em que muitas garotas não conseguiam seguir com seus estudos e seus sonhos, por precisar desistir das aulas ou faltar muito a escola, por não ter absorventes.

No Brasil, em 2020, a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) apresentou um projeto de lei que trabalha o tema da pobreza menstrual, em que visa a garantir produtos básicos para menstruantes que não têm condições financeiras de arcar com esse tipo de despesa (Devido a pandemia que atingiu nosso país, ainda não existem novidades, já que as atenções e investimentos estão voltados para o vírus).

Inclusive, o Brasil é um dos países que mais cobra impostos sobre os absorventes, dificultando o acesso de pessoas com renda baixa. A maioria das pessoas afetadas são as que moram na rua e as presidiárias. Imagine, uma família com 3 mulheres que mora na rua. Seriam necessários cerca de 45 reais para gastar com absorventes. Se falta comida e moradia, como poderiam usar o dinheiro dessa forma?

Mas, por que, apesar de ser algo tão comum e até imprescindível, ainda não é considerado um produto sanitário básico no nosso país?

Primeiro, talvez por não ser algo visto como coletivo. Apenas pessoas que possuem útero podem precisar desse tipo de material. O segundo ponto é que o assunto ainda é um tabu, muita gente ainda tem vergonha de falar sobre menstruação, vergonha de mostrar absorvente. É super comum conhecer mulheres que ficam muito constrangidas de ter que pedir absorvente em público. Vergonha até na própria casa.

O debate sobre o assunto é necessário para compreender a menstruação como algo natural e que também faz parte dos cuidados básicos. Demanda atenção e dinheiro de alguma forma! Ampliar o acesso aos absorventes, pode beneficiar a saúde das pessoas. Não dá para ignorar que tem gente que sangra (às vezes muito) todos os meses. É uma questão de saúde pública, menstruação, muitas vezes, não é uma escolha.

Atualmente, no Brasil, há muitas casas chefiadas por mulheres adultas e boa parte delas possui baixa renda. As cestas básicas fornecidas por ONG’s ou prefeituras, em sua maioria, apresentam papel higiênico, mas não absorventes. Em presídios, a situação ainda é pior, pois não há a quem recorrer, muitas precisam improvisar, até como miolo de pão ou panos sujos. O que pode acarretar muitos problemas de saúde por infecção.

O SUS, no Brasil, é responsável por distribuir milhares de camisinhas pelo país, além de todos os serviços e remédio gratuitos. Apesar das falhas que existem nesse sistema, o acesso aos absorventes não seria algo tão longe da nossa realidade. Poderia agregar muito nas comunidades.

A realidade não é muito melhor em outros lugares do mundo, no documentário Absorvendo o Tabu (Period end of Sentence), disponível na Netflix e ganhador de Oscar em 2019, mostra a realidade de mulheres indianas, travando uma luta contra o tabu e a desigualdade, produzindo absorventes de baixo custo, apresentando novas possibilidades de futuro para si mesmas.

Imagem: Netflix/Divulgação

Mas, e o meio ambiente? Não seria melhor coletor e absorventes ecológicos?

Sim, os absorventes descartáveis causam muitos danos ao meio ambiente, mas ainda assim são imprescindíveis na vida de algumas mulheres. Quem tem a opção de fazer uso de coletores, absorventes ecológicos e calcinhas menstruais, ótimo. Mas, eles não se encaixam na realidade de todos! Apesar dessas opções ecológicas estarem mais conhecidas, essas opções não são tão fáceis de encontrar, especialmente os coletores, que têm até um preço elevado (apesar de compensar a longo prazo).

Os absorventes ecológicos podem ser incríveis para alguns, porque podem ser feitos na própria residência e podem durar anos. Mas, para isso é necessário ter outras questões básicas, como água para lavar e lugar para secar, o que nem sempre acontece. Então, depende da realidade de cada indivíduo, pode compensar, ou apenas prejudicar mais.

Um bom início para uma maior igualdade menstrual seria diminuir os impostos em cima do produto. Os preços são altos como se os absorventes não fossem um produto essencial. Outra excelente ideia, começando a mudança a partir de nós mesmos, seria fazer doação de absorventes para cestas básicas, em escolas, faculdades e banheiros públicos.

É preciso olhar com empatia para quem precisa e conhecer dificuldades que enfrenta. Podemos fazer a diferença na vida de muitas pessoas e abrir a porta para novas oportunidades. Vale a pena.