Recentemente o mundo viu as declarações de um cientista chinês que teria modificado os genes de bebês. Duas meninas gêmeas. Não há muitas evidências do seu estudo, mas o assunto colocou de novo a bioética em evidência.

Devemos começar a mexer com o genoma humano e alterar nossa própria biologia?

O que faz o humano perfeito? Ser incrivelmente forte? Inteligência Indomável? Sagacidade incomparável? Ou charme irresistível? E se você modificar seus genes? E se todos pudessem? Quais são as consequências de “ser melhor”?

Editar genes, por incrível que pareça, não é uma exclusividade de nós humanos. Muitas bactérias são capazes de combater a infecção viral com um sistema de defesa chamado Crispr. Esse sistema registra o DNA viral ao qual uma bactéria foi exposta e permite que um complexo de proteínas chamado Cas9 busque basicamente o DNA viral e o destrua.

A pesquisa com Crispr começou a se intensificar em 2005. Em 2012, a tecnologia Crispr-Cas9 estava “pronta” e já permitia que qualquer pessoa com um mínimo de recursos e conhecimento editassem genes. Já não era mais necessários super laboratórios com um conjunto de equipamentos que poderiam valer alguns milhões.

A medida que mais pesquisas sobre a Crispr são apresentadas, novas possibilidades também surgem. Podemos curar doenças genéticas? Podemos curar o câncer? Eu poderia finalmente conseguir que meus cabelos voltassem a crescer? Mas o que poderia acontecer quando a edição genética vai longe demais?

Para as pessoas geneticamente modificadas se tornarem a norma, a edição de genes não teria apenas que ser legal, teria que ser relativamente acessível.

Alguns países podem até optar por subsidiá-lo para procedimentos médicos que salvem vidas. Afinal, tecnologias como a Crispr-Cas9 podem ser usadas para prevenir qualquer doença ou deficiência genética que conhecemos hoje. Os genes responsáveis ​​pela doença de Huntington e fibrose cística podem ser eliminados e impedidos de ser transmitidos. Economia à parte, todo recém-nascido poderia ter uma oportunidade de viver uma vida normal e saudável.

Se todos no planeta fossem geneticamente modificados para serem a versão mais forte de si mesmos, ainda teríamos competições como as Olimpíadas? Se pudéssemos modificar a inteligência de todos na Terra, poderíamos resolver todos os maiores desafios da humanidade? Poderia finalmente ser a sua vez de ser o Mister Universo, ou … A Tempestade?

Mas Crispr-Cas9 é realmente uma cura para todos? Quando se usa Crispr para editar genes indesejados, você destrói milhares de bases de DNA de uma só vez. Sim, Crispr é bastante preciso, mas ainda há o risco de que você possa silenciar alguns genes que devem estar ativos e ativar genes que deveriam estar inativos.

Existe um conjunto de interações entre os genes que sequer conhecemos. Talvez em algum lugar do ensino médio você tenha ouvido falar de epistasia. Trata-se de um gene que depende de outro para se manifestar. Imagine que ao destruir um gene indesejado estejamos também destruindo as interações que ele pode ter com outros genes. Poderíamos caminhar de um X-Man para um Resident Evil.

O que os pesquisadores estão descobrindo é que, ao tentar salvar a si mesmo através da edição genética, você pode simplesmente cortar um mecanismo-chave contra o câncer. Crispr não apenas representa um risco de câncer, mas ao reprogramar ou rearranjar o DNA, podemos até acabar criando novas doenças.

Quer se trate de um novo procedimento, uma operação de rotina ou uma dieta mágica, tendemos a aceitar o risco de efeitos colaterais e complicações se houver nisso alguma possibilidade de ganho. Com a edição genética, estamos levando esse comportamento a outro nível.

O que acontece quando os pais começam a escolher a altura, cor dos olhos, cor do cabelo, pigmento da pele e sexo dos filhos? O que acontece quando aqueles com meios financeiros podem comprar melhores curas, melhores características e, finalmente, melhores futuros?

Bem, esse futuro, se possível, está muito longe. A tecnologia da Crispr, apesar de todas as suas possibilidades já comprovadas, ainda está em sua infância. E a nossa compreensão dos genes ainda é muito limitada para começar a escolher a altura ou a cor do cabelo à vontade.

A cor dos olhos, a cor dos cabelos, a altura e outras características físicas estão associadas a uma combinação de genes, não apenas a um. Mas esqueça a ciência por um momento. Pergunte a si mesmo o que é mais importante: perfeição pura e fria? Ou verdadeira conexão humana emocional? Pode não ser perfeito, mas certamente não pode ser hackeado.

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