Faz tempo, muito tempo, desde a última vez que estive por aqui. Estava revendo – mais de um ano! Há um ano atrás, falava sobre o novo governo Temer e suas malas. Sobre Cunha preso. E sobre um assustador cenário eleitoral que teríamos para o próximo ano.

Dito e feito. O pré-candidato líder das pesquisas de intenção de voto, duas vezes presidente do Brasil e que saiu com uma aprovação próxima a 90%, foi preso por corrupção – em mais uma sequência de acontecimentos digna de filmes hollywoodianos.

O segundo colocado (que virou primeiro), um capitão-deputado de quase 30 anos de Brasília, que se vende como opção de “renovação de tudo que está aí”, é esfaqueado em comício e, mesmo quase um mês sem fazer campanha na rua, só cresce nas intenções de voto, impulsionado por tudo, menos seu paupérrimo próprio programa de governo (Ou a seu vice. Ou a seu guru/Posto Ipiranga). Mas pra que se preocupar se é só militarizar tudo que tá resolvido? 64, volver!

O herdeiro político do ex-futuro-novamente-presidente, que de tão conhecido tem seu sobrenome trocado pela própria população que nele vota, sai do anonimato para ser o principal concorrente ao capitão, em um misto de luta por justiça a seu partido e a seu guru espiritual – numa clara demonstração que executivo e judiciário, independentemente do resultado eleitoral, continuarão trazendo sérios problemas para ambos e, claro, pra nós todos. Seu programa de governo? Um misto do que deu muito certo e muito errado nos últimos dezesseis anos, somado a propostas tranquilizadoras como uma nova constituinte para refundar a república. Coisa leve.

Enquanto isso, os outros candidatos potenciais (sim, há outros, por mais que muitas vezes nem os outros lembrem bem disso, já que até eles só falam dos dois primeiros) chafurdam no seu próprio curral, não conseguindo sair da polarização, daí da imobilidade, dessa disputa. O ex-governador-cabra-macho que muito estuda, muito gesticula, muito grita, mas que pouco consegue passar à população. O ex-governador-picolé-de-leguminosa que, mesmo tendo vendido sua alma por apoio político, tem em seu carisma negativo a âncora que impede emergir. A ex-Ministra, eterna promessa de terceira via democrática, não a esquerda, não a direita, mas a frente – ou abaixo, sempre abaixo, caindo, derretendo. E os demais, que puxam aqui e ali os últimos porcentos de seus feudos. Sejam eles velhos feudos. Novos feudos. Ou feudos de cima-do-monte. Glória!

De acordo com as últimas pesquisas, estamos rumando a um segundo turno em que os dois competidores estão rigorosamente empatados. Não há o menor indício do que vai acontecer. Melhor seria jogar uma moeda – cara, à direita; coroa, à esquerda – e pronto. Assim decidiremos o futuro do nosso país. Sem briga. Sem discussão. Sem noção. Certo?

Não. Esse texto, acreditem, não é um relato de desespero que toma conta desse vil comentador político. Não é um desabafo, uma reclamação pública ou uma catarse às vésperas daquilo que vai selar nossos destinos pelos próximos quatro anos. Não. Acreditem: isso é um chamado, uma conclamação àqueles que querem ajudar a tomar as rédeas desse destino. Àqueles que creem, apesar de tudo, apesar de polarização, de crises, de mentiras-da-pós-verdade, àqueles que acreditam que é possível haver democracia representativa e que querem se ver representados nas instituições que nos governam.

Daqui a dois dias, quase 150 milhões de brasileiros irão às urnas. Vão eleger seu próximo presidente, seu próximo governador, seus representantes no Senado, na Câmara e em na assembleia legislativa. Vocês têm noção do poder que cada um tem? Têm noção que são esses caras que vão legislar e executar tudo que de grande, de importante, de fundamental pra vida de vocês entre 2019 e 2022 (os senadores até 2026!). São essas pessoas que vocês ouvirão falar e/ou lerão em todo o lugar. Para o bem ou para o mal. São elas que serão a sua representação perante seus pares, perante outros países. Os líderes políticos da sexta maior população do mundo, de uma das dez maiores economias. Da sua casa. Da sua família. De você.

Daqui a dois dias, você terá algumas opções pela frente. Uma delas, e uma das mais importantes, é sequer ir à cabine eleitoral. Ainda que o voto seja obrigatório no Brasil, a multa pra não comparecimento é tão irrisória que é quase desprezível. Mas vote. Por favor, vote. Independentemente da sua escolha. Independentemente se você faz parte ou não dessa polarização que descrevi. Independentemente se seus parentes/amigos/conhecidos te acham e te tacham de comunistinha, fascistinha, isentão, ou seja lá o quê – vote! Tome as rédeas da situação e se posicione. Não tenha medo de errar, de estar no “lado errado da história”. Quantos não foram os países que, democraticamente, escolheram a opção que acabou não sendo a melhor pra eles naquele momento? Quantas escolhas populares não levaram a regimes horrorosos e que acabaram se virando contra essa população?

Mas sabe o que é pior do que estar desse lado? É não fazer parte de lado algum. É ver a História – essa, com H maiúsculo – ser escrita e lavar as mãos, deixar que os outros que façam as escolhas erradas para que eu possa, do alto de meu pedestal moral, acusar a todos pelos erros que me cercam. Uma sociedade de pedestais morais é uma sociedade que se omite e deixa que outros (e poucos) guiem seus destinos. A civilização humana organizada em sociedade tem seis mil anos de História documentada. Com exceção de casos esporádicos aqui e ali, levamos cinco mil e oitocentos anos pra chegar nessa instituição maravilhosa em que todos, independentemente de onde nasceram, de como nasceram, independentemente de qualquer característica, todos têm direito a uma opinião de igual peso e que a decisão da sociedade é a soma da vontade de cada um. Chegamos a esse imperfeito, porém espetacular, modelo de decisão e participação política na sociedade. E, neste domingo, é hora de que você faça mais uma vez parte dele.

Escolha! Posicione-se! Vote! Vote, por favor, vote! Com consciência, com coração, com amor, com ódio – quem sou eu pra julgar o que motiva suas escolhas? Mas vote. Não deixe que o nublar de nossas percepções ante uma polarização diminua em nada o peso de nossa responsabilidade. Polarize-se, também. Lute pra sair da polarização. Mas vote. Vote!