Penso que não sou o único que sempre se perguntou – “como alguns heróis conseguem levar situações extremas com bom humor, charme e leveza?”. Quando penso nisso a imagem do nosso querido herói Aranha vem a minha cabeça. Além do fator humano empregado a ele ser uma das principais características que cativam os fãs das histórias, são aquelas tiradas virtuosas com os vilões durante os combates e aquele humor juvenil que o tornou um dos meus personagens de quadrinhos favoritos.

Mas o que quero questionar e, talvez, criar uma ou outra hipótese é: porque e como que ele consegue tal façanha? Pois veja bem, o título de Homem sem medo fica restrito a outro herói da franquia. Dentre os vários poderes e efeitos que Peter Parker desenvolveu a partir da picada da aranha radioativa, a perda do medo certamente não foi um deles. Eu não sei você, mas eu não me sentiria muito a vontade em caçoar de um cientista perverso com quatro braços biônicos nada amigáveis, um cara vestido de duende que voa por ai tocando bombas letais. Imagina então no caso de um cara vestido com uma roupa de rinoceronte, com mais de 2 metros de altura e que de fato conseguiria sair derrubando todas as árvores do parque Ibirapuera sem fazer muita força.

Recentemente tive o prazer de ler algumas histórias do Homem Aranha que respondem parcialmente esta minha questão. Em mais de uma ocasião, me deparei com situações em que o mesmo relata fazer piadas em situações de perigo para conseguir lidar melhor com o medo e conseguir  agir apesar dele. De fato não há como não senti-lo, visto que em mais de uma oportunidade ele chega a molhar o uniforme (e não é de suor que estou falando).

Para explanar um pouco mais a relação das reações de riso frente à situação de nervosismo, vamos sair um pouco da ficção e tentar lembrar de algumas ocasiões as quais você  possa vir a se identificar. Rir em velórios, quando entra no elevador, quando assisti filmes de terror ou até em discussões, são situações das quais algumas pessoas expressam algo completamente oposto daquilo que esperamos, correto? O fato é que associamos o riso a situações de prazer e a comunidade científica diverge enquanto ao porque rimos em certos momentos que interpretamos como potencialmente perigosos. Mas vamos lembrar que o choro, que é uma reação associada na maioria das vezes à tristeza, também pode expressar felicidade. O fato é que tanto o que achamos engraçado como aquilo que nos assusta possui como origem a quebra de expectativa: as melhores piadas e os melhores sustos nos filmes acontecem em momentos em que não esperamos.

Para seguir pensando neste fenômeno precisamos entender a função das emoções. Elas cumprem um papel evolutivo e adaptativo fundamental, é através delas que nos relacionaremos, interpretemos e nos defenderemos do ambiente em que estamos inseridos. Com isso, reações oriundas delas têm como objetivo contemplar a premissa central da evolução: a sobrevivência. Estudos sobre o riso dos primatas indicam que o ato de sorrir está diretamente ligado a uma forma de mostrar submissão. Foi observado que macacos que sorriam mais eram aqueles que se sentiam mais ameaçados por algum macaco dominante. Neste caso, o riso surge como um comportamento frente ao medo, com o objetivo de evitar conflitos. Talvez essa explicação se encaixe bem naquelas situações onde o sujeito começa a fazer piadas frente a discussões e conflitos (para quem viu Friends, sabem muito bem do que estou falando, né Chandler?!), mas não quero acreditar que seja esse o motivo que faz Peter Parker caçoar dos seus inimigos.

Há uma outra hipótese estudada, a qual acredita que sorrir em situações carregadas de tensão vem a serviço de negar o medo. Tentando convencer os outros e a nós mesmos de que podemos lidar com o perigo que esta sendo apresentado. Ao agir como se não estivéssemos com medo, nosso cérebro seria capaz de minimizar alguns sinais de perigo, podendo inclusive fazer-nos tomar decisões mais inteligentes. Seguindo esta linha, estudos apontam que tais reações incongruentes vêm a cargo de regular as nossas emoções. Ao nos depararmos com situações que quebram completamente nossa expectativa, expressar algo oposto ao que estamos sentindo teria este papel regulador, nos anestesiando consideravelmente.

Talvez seja essa a melhor hipótese que justifique esse comportamento carismático, mas ao mesmo tempo tão improvável. Peter Parker sente medo, muito medo, mas utiliza do humor para regula-lo e conseguir agir, sobreviver e salvar o dia das forçar do mau (junto com as meninas super poderosas e tantos outros heróis). E o seu humor, esta a serviço de que?


Rodrigo Fernandez Rosa Psicólogo Cognitivo Comportamental