Olá, pessoal!

Essa é a primeira entrevista de nossa série de entrevistas com pesquisadores brasileiros que estudaram fora do país. O objetivo é trazer para vocês o caminho das pedras, a opinião de quem viveu a experiência e conselhos para quem está passando pela experiência. Espero que gostem!

Hoje iremos falar com a Prof. Dra. Anna Giselle Ribeiro.

Olá, Dra. Anna Giselle, você pode nos falar um pouco sobre você?

Sou Anna Giselle Ribeiro, nasci em Natal/RN, tenho 33 anos. Minha graduação foi em Engenharia da computação na UFRN com período sanduíche na McMaster University. Fiz mestrado em Engenharia Elétrica e Computação pela UFRN e doutorado em Engenharia Elétrica e Computação pela UFRN com período sanduíche no MIT. Meu pós-doc foi em Inovação e Tecnologias aplicada à Saúde (UNIFESP e UFRN).

Atualmente sou professora da UFRN no Instituto Metrópole Digital, minha área de atuação é Informática Médica e Inovação. Atuo como coordenadora do Laboratório de Inovação e Tecnologia em Saúde (LITS) e sou uma das coordenadoras do Medhacker (grupo de inovação em saúde e representante do REDx (http://redx.io) no Brasil). Atuo também na incubadora de empresas Inova Metrópole fornecendo mentoria e assessoria nas áreas de inovação, tecnologia e estratégia. Meu sonho é ver uma boa sinergia entre a academia, o governo e a iniciativa privada!

Meus hobbies no tempo (quase zero) livre são: viagens, filmes e boardgames!!

Conta um pouquinho pra gente da sua experiência de pesquisa do exterior.

Estudei fora em dois momentos distintos, então vou falar deles separadamente. Na graduação, através de um convênio do meu departamento, fiz 1 ano do meu curso na McMaster University (em Hamilton, no Canadá). Não tínhamos bolsa, mas não pagamos tuition[anuidade] na universidade estrangeira. A seleção foi interna (pela UFRN) e tinham 2 vagas para meu curso.

No doutorado, fiz doutorado sanduíche no MIT no departamento de Harvard-MIT Health Science Technology. Conhecemos um pessoal do MIT em um congresso em Boston, pois havíamos utilizado a base de dados deles em um projeto e começamos a parceria através de um projeto chamado AudioPulse (teste da orelhinha para bebês) e ganhamos uma competição internacional juntos. Dessa forma fomos parar no MIT News e aplicamos para um edital de financiamento (do Brasil) para estudar no MIT e conseguimos as bolsas. Fui fazer o doutorado sanduíche e minha orientadora o pós-doutorado.

E do ponto de vista acadêmico, como foi essa experiência de estudar fora?

As duas experiências foram incríveis, pois consegui ter acesso a conhecimentos que provavelmente eu não iria ter na minha universidade. Ao sair do país, sua mente fica mais aberta e o desejo por novos aprendizados só cresce. Por exemplo, na McMaster, ainda na graduação, eu pude cursar algumas disciplinas de engenharia biomédica e foi lá que me apaixonei pela área e sigo até hoje. Me envolvi em tudo que podia, clubes de “women in engineering“, joguei os jogos internos e vivi toda realidade da universidade.

Já no MIT, a grande vivência foi com a área de inovação. Eu me envolvi em muitas iniciativas e eventos de inovação, empreendedorismo e voltei apaixonada pela área. Percebi que, mesmo na academia, podemos empreender e criar coisas reais e úteis para a sociedade. Um ponto importante do MIT foi o networking, conheci pesquisadores com quem trabalho até hoje. Conheci lá meu orientador de pós-doc, prof. Paulo Schor da UNIFESP, que estava no Media Lab por três meses. Trabalhamos juntos no Medhacker até hoje.

E, no dia-a-dia, pode nos contar como foi?

A maior diferença do Brasil, principalmente no MIT, foi a quantidade de informações que temos diariamente. Há cursos, palestras, reuniões, eventos a TODO MOMENTO. O aprendizado é constante. Toda hora tinha algo para fazer diferente dentro da universidade. Passamos o dia lá e nunca era a mesma coisa. Para mim isso foi o mais diferente. Às vezes estava trabalhando no meu computador, sem produzir muito e decidia olhar o que estava acontecendo na universidade e do nada eu estava em uma palestra/evento incrível. O dia-a-dia do estudante é bem diferente do Brasil, mas acho que também pelo fato de estarmos em uma cidade/país diferente, tudo acaba sendo novidade.

Quais as melhores coisas de ter estudado fora?

Aprender a conviver com a diversidade, o aprendizado de vida como um todo, nova cultura, novas pessoas e um networkingincrível pro resto da vida.

É uma experiência que só quem viveu pode descrever. Eu costumava dizer que não havia rotina, tinha segunda-feira que parecia sábado e sábados que pareciam segundas.

Após essa experiência, manteve-se no país?

Retornei ao Brasil nas duas vezes e não tive problema com diploma pois foram períodos sanduíches.

Tem alguma mensagem final que gostaria de deixar para nossos leitores?

Se tiver a oportunidade de estudar fora, não deixe passar. É realmente transformador! Viva intensamente a universidade, a realidade local, os amigos de várias nacionalidades; aprenda e se envolva com conteúdos diferentes da sua área; aproveite o que você não encontra no seu curso/universidade e faça bons contatos para manter parceria de projetos futuros.

Se você tem interesse em contar a sua história, é só entrar em contato através do e-mail [email protected].


Marcel Ribeiro Dantas. Engenheiro de Computação e Automação (UFRN), com larga experiência em sistemas para saúde e dispositivos biomédicos, especialista em Big Data pelo IMD – UFRN, onde estudou dados de expressão de tumores. Mestre em Bioinformática pela UFRN, onde pôde se aprofundar na rede regulatória do Sarcoma de Ewing e analisar seus reguladores mestres, e doutorando na Sorbonne Université/Institut Curie em Paris, onde estuda análises de causa e efeito em dados de pacientes com câncer de mama.