Pode a ciência andar de mãos dadas com a sensibilidade? Esta semana Silmar Geremia, Jorge Costa, Ronaldo Gogoni e Matheus Gonçalves (equipe #SciCast) unem-se aos pesquisadores Tatiana Nahas (@ciencianamidia e Ciência na Mídia) e Rafael Soares (@Rafael_RNAm e RNAm no ScienceBlogs) para partir em busca dos Beagles perdidos e debater sobre a necessidade de fiscalização e controle sobre os testes científicos aplicados em animais. Aproveite e finalmente descubra a diferença entre rato, ratazana e camundongo.

Comentado neste episódio:

  • Foundation for Biomedical Research: farta documentação (em inglês) explicando os motivos de por que determinados animais serem necessários para testes específicos.
  • O Uso de Animais em Testes Científicos: artigo altamente elucidativo, escrito por nossa convidada Tatiana Nahas em seu blog Ciência na Mídia.
  • Legislação sobre Testes em Animais no Brasil:
    • Lei 11.794/2008: conhecida como Lei Arouca, regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, revogando a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979, e estabelece procedimentos para o uso científico de animais. A lei Arouca criou também o Conselho Nacional de Experimentação Animal (CONCEA).
    • CONCEA: é um órgão do Poder Executivo, integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), responsável pela formulação de normas relativas à utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica, bem como estabelecer procedimentos para instalação e funcionamento de centros de criação, de biotérios e de laboratórios de experimentação animal, dentre outras atribuições
    • RENAMA: a Rede Nacional de Métodos Alternativos ao uso de animais, criada em 2012 pelo MCTI, tem por objetivo aplicar o princípio dos 3Rs – Redução, reflete a obtenção de nível equiparável de informação com o uso de menos animais; – Refinamento promove o alívio ou a minimização da dor, sofrimento ou estresse do animal; – Replacement ou Substituição, estabelece que um determinado objetivo seja alcançado sem o uso de animais vertebrados vivos. A ideia é propiciar uma infraestrutura laboratorial e de recursos humanos especializados capazes de implantar métodos alternativos ao uso de animais, além de desenvolver e validar novos métodos no Brasil.
  • Ativistas invadem Instituto Royal em São Roque (SP): houve depredação e o resgate de dezenas de cachorros da raça Beagle, supostamente vítimas de maus-tratos durante a execução dos testes científicos.
  • Ativistas invadem novamente o Instituto Royal: nesta segunda investida, bem mais violenta do que a primeira, foram levados os animais restantes. Dentre os espécimes retirados, a maioria eram de ratos.
  • Instituto Royal decide encerrar as atividades no laboratório de São Roque: segundo nota divulgada pelo instituto, a primeira invasão provocou “elevadas e irreparáveis perdas”. O laboratório afirmou também que temia pela segurança de seus funcionários.
  • Empresa prospera sem fazer testes com animais: o sucesso é atribuído à filosofia da empresa, que comercializa produtos quase 100% naturais e, em vez de bichos, testes feitos em voluntários, que não cobram nada e ainda fazem fila para servir de cobaias. “Usamos em nós mesmos por meses. E, depois, começa o processo formal com um painel de testes”, explica a diretora de ética, Hilary Jones.
    • Na Europa, os testes foram abolidos para o desenvolvimento de cosméticos: A União Europeia baniu testes de produtos acabados em animais e de componentes de cosméticos, mas não menciona testes por experimentação de efeitos. Além do mais, a pesquisa cosmética e científica é uma via de mão dupla, e não são raras as vez em que ambas se beneficiaram com pesquisas. Casos: Shiseido e Kanebo.
    • Na China, todos os produtos DEVEM ser testados em animais, mas há movimentações para rever essa legislação.
    • Importante notar que mesmo empresas que alegam não testar seus produtos em animais, utilizam compostos que muitas vezes podem ter sido testados em algum momento. Além disso, é questionável se produtos como cremes dentais, protetores solares (que hoje são essenciais na prevenção do melanoma) e hidratantes de pele (indispensáveis para quem sofre de dermatite atópica) deveriam ser considerados cosméticos ou medicamentos de uso tópico.
  • Depoimento de um (vários) biólogos sobre o sacrifício de suas cobaias: os comentários são excelentes e enriquecem o debate, além de existir um easter egg lá na véspera do Natal de 2009 ;)
  • Cientistas da SBPC pedem fim dos testes de comésticos em manifesto da instituição: posição oficial é de que os demais testes com animais ainda são indispensáveis.

 

Vídeos:

  • Morgatório do Pássaro: destaque para o momento do genocídio das bactérias. No começo parece bobo, mas o autor constrói um argumento tão forte baseado nele que é impressionante o limite imposto por ele ao debate.
  • Eu, Ateu (Pesquisas Com Animais – Quebrando Mitos): o Yuri Grecco é cientista e trabalha com testes em animais. Ressalva para a história pessoal dele quando não conseguiu matar um camundongo.
  • Pirulla – Ética 3: Uma discussão sobre os temas morte, dor, e quando é preciso colocar os dois na balança.

 

Literatura:

  • O último teste (Ricardo Laurino, 2013): O doutor Charles Smith está prestes a declarar uma grande descoberta na área de métodos alternativos à experimentação animal. Porém, um incêndio criminoso em seu laboratório destrói a inovadora pesquisa. O principal suspeito, Décio Sucla – renomado cientista e proprietário de um grande laboratório que usa cobaias animais – precisa provar sua inocência. Para isso, pede ajuda ao amigo de infância: o filósofo Fausto, amigo de Dr. Smith e defensor dos direitos dos animais. Fonte: A Tarde.

 

Games:

  • Whiplash (Eidos): da mesma produtora dos primeiros Tomb Raider, o objetivo deste jogo é destruir os laboratórios onde são conduzidos experimentos cruéis em macacos, hamsters e coelhos. Apesar de direcionado para crianças, foi muito criticado por sua dose excessiva(?) de violência.
  • Animal Lab: você é um cientista maluco que passa o tempo criando experimentos bizarros, a fim de inventar novas espécies de animais para enviar para Marte. Dentre as inúmeras possibilidades, o que poderia resultar do cruzamento entre uma cobra e um rato? Uma superpoderosa doninha, ou uma aberração da natureza? Apesar da sua pretensa genialidade, uma espaçonave não está nos seus planos, ainda! Para isso, tente começar pelo KSP :).
  • Cage Fight: Knock Out Animal Abuse: jogo patrocinado pela ONG People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), com um visual 2D estilo anos 80, onde você é um lutador de MMA (vegetariano!) e precisa invadir laboratórios, bases militares e institutos de pesquisa numa cruzada contra os testes em animais. Claro que a forma de convencimento será à base de muitos socos, chutes e dedadas no olho (nãooo, dedada no olho não pode :D).
  • Tests on Breasts: apenas jogue! Não recomendado para menores de 12 anos, ou chatos em geral.
  • Animal Testing Games Pack: coleção de jogos em Flash (ai ai, sempre ele) com objetivos diversos, mas sempre seguindo a temática dos Testes com Animais.
  • BÔNUS: Super-Trunfo Zatz vs Zatz (Luisa Mell x Mariana Zatz).

 

Saiba mais:

  • Caderno de ciência do Correio Braziliense (julho de 2010): MCT defende o uso de animais nas pesquisas; artigo contém infográfico sobre a atual legislação brasileira sobre os testes.
  • Relatório do FDA demonstra que 92% das drogas testadas em animais falham em humanos.
  • HM, the Man with No Memory: artigo da revista Psychology Today sobre a história do americano Henry Molaison, cuja cirurgia sofrida por ele em 1953 aos 27 anos, para reduzir o impacto das suas convulsões epilépticas, teve como curioso efeito colateral uma profunda e seletiva amnésia. Henry se voluntariou para estudos durante as décadas seguintes, na qual se descobriu que a amnésia fora causada pela retirada dos dois hipocampos do cérebro dele, cirurgia esta que nunca mais se repetiu. Veja aqui o cérebro dele fatiado para estudos no Brain Observatory.