Sejam todos muito bem-vindos à mais nova proposta do Portal Deviante: A Parada dos Museus! Aqui nossos redatores compartilharão com vocês os melhores museus, centros culturais e exposições nas cidades onde vivemos ou por onde passamos. A ideia é compartilhar atividades culturais e nossas experiências e mostrar que museu também é ciência!

Apesar da ideia da Parada dos Museus ter nascido antes da tragédia com o Museu Nacional, PP&(#n@h T0(# o incêndio só reforçou nossa crença de que museus – os templos do conhecimento – devem ser valorizados. Nosso ideal de divulgar conhecimento obrigatoriamente passa pela valorização do que estas instituições representam e para tentar evitar que o descaso com o Museu Nacional não se repita, precisamos reconhecer o valor que cada museu entrega a cada um de nós cidadãos.

E para estrear, escolhemos o museu mais Deviante de todos, que alia ciência, tecnologia, diversão e conhecimento: o museu do Amanhã no Rio de Janeiro.

Para quem não conhece o Rio de Janeiro, a Praça Mauá é uma das regiões mais antigas e centrais da cidade, onde atracavam barcos nos longínquos anos em que o Rio era capital e coração do país. Foi também uma das primeiras áreas a ver a modernização urbana de Pereira Passos no começo do século XX inaugurada com a abertura da Avenida Rio Branco (o número 1 da avenida tem vista para a praça). Por muitos anos um mega viaduto (a antiga Perimetral) passava bem rente ao Porto, cortando a vista do mar com muito concreto. Quando a cidade maravilhosa foi escolhida para ser sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o novo projeto de urbanização previu a implosão da Petrimetral, revitalização do Porto Maravilha para atraque de navios de turismo e a instalação de um museu na Praça Mauá: O Museu do Amanhã.

Sua forma foi inspirada nas bromélias do Jardim Botânico num projeto desenvolvido pelo arquiteto Santiago Calatrava e em pouco tempo já se tornou um novo ícone da cidade. O projeto foi pensado também para envolver e enaltecer as construções do entorno: há uma área de circulação de pedestres, um espelho d’água, vista para o histórico Mosteiro de São Bento e perfeita harmonia com a revitalização do prédio onde hoje está instalado o MAR (Museu de Arte do Rio). A ideia era integrar e dar nova cara à região que ficou esquecida por um tempo.

Mas, entrando mesmo no tema do museu, a experiência do visitante começa antes mesmo de chegar lá: a melhor forma de acesso é o VLT (veículo leve sobre trilhos), uma das modernidades da cidade e que já te coloca no clima para toda a tecnologia que está por vir. (Ps.: A melhor estação para acesso ao museu é a Parada dos Museus, que inspirou o título deste projeto). Assim que você entra no museu, é possível ver um super globo terrestre iluminado, que fica mostrando diversas variáveis geográficas como correntes marinhas, vapor d’água, estações do ano, correntes de ar e tantas outras – entretendo o visitante que aguarda na fila. Se você não é fã de esperar, é possível (e até sugerido caso você visite o museu em época de alta temporada) comprar seu ingresso online diretamente pelo site. Os ingressos são limitados e têm hora marcada para evitar a superlotação e garantir um bom aproveitamento do espaço. Ainda na área de recepção, as novidade continuam com um cartão que permite que o visitante interaja com várias partes da exposição.

A exposição permanente é divida em 4 áreas: Cosmos, Terra, Antropoceno e Amanhã. No Cosmos, há um vídeo de cerca de 12 minutos num lindo domo de 360 graus falando um pouco sobre o lugar do ser humano no universo. Não tenha preguiça da fila e espere a próxima sessão, vale a pena. Ao final do vídeo, quando as portas do auditório se abrem, você tem acesso a área da Terra, cuja exposição é guiada pela pergunta “Quem somos?”. Nesta parte há mesas interativas com informações sobre características físicas do planeta como densidade e velocidade, e informações gerais como conhecimento humano. Mas as “estrelas” deste segmento são os três enormes cubos: Matéria, Vida e Pensamento. Trazendo imagens, obras de arte, cards informativos e tantos outros materiais, os cubos são bons representantes de como o Museu do Amanhã é diferente de outros museus que você tenha visitado. A proposta é que você enxergue o mundo com outros olhos, ou mais com o coração e menos com o cérebro. Esta parte da exposição me fez colocar o planeta em perspectiva, me lembrou de como há tantas coisas que envolvem o funcionamento “perfeito” do planeta, como somos tão diferentes e tão iguais dentre 7 bilhões de pessoas, como somos pequenos perante tudo que há ao nosso redor.

Essa mágica do universo, esse brilho no olhar de quem enxerga o mundo em toda sua complexidade parece se quebrar como cristal quando chegamos na parte do Antropoceno. Para quem não conhece (eu aprendi o que vou te explicar aqui lá no museu, por exemplo) o termo Antropoceno foi cunhado pelo Prêmio Nobel de Química de 1995, Paul Crutzen. O prefixo grego “antropo” significa humano; e o sufixo “ceno” denota as eras geológicas. Para os estudiosos, vivemos a Época dos Humanos, o momento geológico em que a ação humana se tornou tão poderosa que tem alcance mundial e seus efeitos são tão poderosos quanto outros movimentos naturais de outras eras geológicas. Esta parte nos chama a atenção para como o crescimento populacional, o aumento desenfreado do consumo e nossas escolhas como seres humanos afetam o planeta. O ponto central desta parte da exposição são os seis gigantes totens de LED que servem de telas para um filme mostrando como nossas ações e escolhas estão levando a eventos climáticos extremos e mudando o planeta como a gente conhece. Na parte interna dos totens, gráficos e informativos mostram a evolução da interferência humana sobre o planeta. Eu cheguei a conclusão que eu não sabia nada de como o homo sapiens moldou e ainda molda o planeta Terra. Ler todos aqueles números e ver como nossas “pequenas e insignificantes” decisões diárias de somam para causar impactam de tamanha forma o funcionamento do planeta chega a ser assustador e deve nos fazer refletir.

A última parte da exposição é o Amanhã, onde vídeos e mesas interativas nos convidam a pensar qual amanhã queremos, qual mundo queremos para as futuras gerações, o que queremos ser no futuro. Ele trata de grandes tendência globais como cidades cada vez maiores e o aumento da conectividade humana (como será que nossa conexão com o mundo e a internet influenciará, por exemplo, os políticos?). A exposição é guiada pela frase “Para onde vamos?” e foca em três questões principais: como será o conviver (sociedade), o viver (planeta) e o ser (indivíduo) no futuro? Os vídeos trazem importantes questionamentos sobre os próximos anos em áreas como fontes de energia, saúde, conhecimento e envelhecimento populacional. Esta parte termina numa linda obra de arte inspirada numa oca que abriga a única peça física do acervo do museu: um churinga. Este é um artefato aborígene australiano, uma ferramenta simbólica que costura o tempo – trazendo presente, passado e futuro para um único ponto. Vale a reflexão para fechar a visita – como seu presente vai se conectar ao seu futuro? Como seu passado te trouxe até aqui e vai te levar adiante? Que mundo você está construindo hoje para seu eu de amanhã?

Depois de refletir e enxergar de verdade o mundo, o museu nos brinda com uma belíssima vista do mar carioca, emoldurado por um espelho d’água e uma área para circulação de pedestres e bicicletas ao ar livre. Se toda a exposição do museu não te fez refletir, essa vista com certeza vai.

Sério, essa foto não chega aos pés da vista ao vivo.

O museu também conta com uma programação temporária, e, no momento da minha visita (19 de julho), era possível visitar a exposição “AYA” sobre inteligências artificiais criativas – um tema que dialoga muito bem com a proposta do museu. Essa saiu de cartaz dia 29 de julho, mas você pode acessar o site do museu para saber quais novas exposições estarão disponíveis no momento da sua visita.

O museu do amanhã é recomendado para todas as idades e une – acima de tudo – tecnologia e informação com a proposta de nos fazer pensar sobre nossas ações e escolhas, de nos ensinar mais sobre o planeta em que vivemos e no qual queremos viver no futuro.

 

Serviço (retirado do site do Museu)

Endereço: Praça Mauá, 1 – Centro. Rio de Janeiro, RJ – CEP: 20081-240

Funcionamento: Terça a Domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h)

Data da visita: 19 de julho de 2018