Quando pensamos em poluição logo nos vem a mente grandes metrópoles como São Paulo, ou Nova Iorque, e em grandes parques industriais. Mas as terras agrícolas da Califórnia emitem a mesma quantidade de certos poluentes que os veículos rodoviários, conforme novo estudo. Isso é bem acima do que era previsto.

As fazendas no Vale Central da Califórnia, que produzem a maioria das frutas e vegetais nos EUA, são fortemente fertilizadas durante rotações de culturas múltiplas ao longo do ano, mas acredita-se que as culturas usem apenas cerca de metade do nitrogênio contido no fertilizante. Os micróbios no solo digerem o resto do nitrogênio, produzindo assim óxidos de nitrogênio, ou NOx. Estes gases reagem com a luz e a matéria orgânica na atmosfera para produzir ozônio, gás que quando presente na troposfera – camada da atmosfera em que vivemos – pode ser extremamente tóxico.

Maya Almaraz, pesquisadora pós-doutorada da Universidade da Califórnia em Davis, decidiu investigar a contribuição das terras agrícolas para a poluição do ar ao perceber que cinco das dez cidades americanas mais poluentes se situam no Vale Central, uma das áreas agrícolas mais produtivas dos Estados Unidos. Muitos fatores, como o trafego de caminhões de diesel, a produção de petróleo ou a configuração geográfica, poderiam ser os responsáveis por isso, mas Almaraz acreditou que os vastos trechos agrícolas da região poderiam fazer parte da equação também.

Para testar essa ideia, ela e seus colegas usaram um modelo que leva em consideração a entrada de nitrogênio, o clima, os níveis de umidade do solo e outros fatores para prever a produção de gases pelos micróbios no solo. Eles descobriram que 20 a 32 por cento das emissões de NOx do estado provem de terras agrícolas, um valor considerável em comparação com os veículos motorizados que são responsáveis por de 29 a 36 por cento.

Esses resultados são significativamente maiores do que a estimativa anterior do Conselho de Recursos Atmosféricos da Califórnia (California Air Resources Board – CARB) de cerca de 4%.

Ronald Cohen, cientista atmosférico da Universidade da Califórnia em Berkeley, que não fazia parte da pesquisa, chama o novo estudo de “provocativo” e diz que isso mostra que o fertilizante agrícola contribui com uma fração significativa das emissões de NOx na Califórnia. É importante averiguar os resultados com mais medidas de campo, diz ele. (Esta é uma das coisas que os pesquisadores farão a seguir). “Precisamos pensar mais nessas fontes quando tentamos reduzir a exposição humana à poluição do ar”, acrescenta ele.

Algumas alterações nas práticas agricolas podem amenizar isso, como: monitorização da absorção de fertilizantes das plantas para que estes possam ser aplicados de forma mais eficiente; utilização de fertilizantes de liberação lenta; utilização de culturas de cobertura para absorver o excesso de nitrogênio; ou aplicação de inibidores de nitrificação – produtos químicos que impedem os micróbios de produzir o NOx. Muitos desses métodos são promovidos pelo Programa de Pesquisa e Educação sobre o Fertilizante do Departamento de Alimentos e Agricultura da Califórnia, de acordo com Steve Lyle, diretor de assuntos públicos do departamento.

Fonte

Scientific American